Quatorze

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    Há escuridão por toda parte, as janelas ainda permitem que a luz da lua ilumine as coisas por aqui, mas Erick ainda prefere usar a lanterna do seu celular.

— Ande vamos?— Pergunto enquanto subimos as escadas.

— Aonde acha que vamos? — Sinto seu sorriso apesar de não conseguir vê-lo.

— Se eu soubesse não perguntaria.— Solto ríspido.

Ele para e se vira, descendo um degrau e ficando bem perto.

— Eu sei que não fui muito receptivo com você Vênus, mas estou tentando resolver isso, pare de tentar se proteger tá legal?— Ele se virou e voltou a subir.
O segui em silêncio.— Estamos indo para o seu quarto.—

— O que isso tem a ver comigo?—

— Onde dorme a ingenuidade de um anjo.— Ele balbucia como se tivesse nojo de pronunciar aquilo.— Quem é o mais ingênuo dessa escola, capaz de tentar ajudar alguém que jurou matá-lo?— Sinto Erick revirar os olhos.

— Isso não quer dizer nada.— Digo sentindo certeza.

— Quem aqui tem o nome de um planeta? Sério estou começando a duvidar de sua sanidade.—

— Quem em sã consciência me colocaria como parte de um enigma?—

— Não faço ideia, mas me irrita que as pessoas daqui gostem de você e queiram estar perto de você.- Erick diz.— Quer dizer, eu não me importo, por que eu não ligo pra você e eu não gosto de você.— Erick disse parecendo nervoso.

— Ficaria surpreso se eu te contasse.— disse me lembrando da garota na sala de Fernanda e de Isa que provavelmente me odeia mais do que qualquer um agora.

Droga, o beijo em Jonathan.

Havia me esquecido completamente disso, e agora minha mãos estão suando.

Estamos na porta do meu quarto e eu a abro devagar com receio de que alguém esteja aqui.

Está escuro, por instinto tento ascender a luz sem sucesso e me lembro que Erick desligou a energia.
Viro meu olhar para ele que sorri dando de ombros.

— Olha embaixo da sua cama, eu olho nas coisas de Lucas.— Erick sugere e começamos a procurar.
Olho embaixo da cama, no guarda roupas e finalmente encontro o tecido brilhante debaixo do travesseiro.

— Erick.— Ele se vira e sorri ao perceber que eu achei.

"Onde vive o cão do inferno, bem-vindos a sala da diretora"

— Droga!— Erick cerra o punho socando meu guarda roupas.

— Qual o problema, se não me engano, minha tia sabe de tudo, não vai ter problemas mexer na sala dela.—

— Acontece que ela...— Ele pausa e respira.— Vamos.—

— Explica! — Digo alto puxando forte o braço de Erick.

— Me larga!— Ele faz cara de nojo e puxa o próprio braço. — Quer fazer isso ou não?—

Qual o problema dele?

Me pegunto saindo em silêncio a sua frente.

— Foi mal.— Ele diz.

Continuo caminhando de volta para o Hall do castelo.

Erick vem logo atrás.

Ouço o barulho da porta sendo aberta, Erick me puxa pelos dois braços apagando a lanterna do celular, ele está me segurando e estamos perto demais um do outro, há sangue no seu rosto graças a briga com o garoto albino, estamos abaixados para não sermos vistos, estamos de frente um para o outro, seus olhos estão bem abertos e ele respira devagar, nos encaramos e ele arqueia a sobrancelha.

— Esquisito.— Ele sorri se levantando assim que a garota de cabelo azul passa lá em baixo subindo pela escada do outro lado.

Ele sai na frente e eu o sigo. Lentamente ele abre a porta dupla entre as duas escadas, onde fica a sala da diretora.

— Tudo liberado.— Erick diz e assim que entro, a luz se ascende magicamente.
Como um fantasma, minha tia está parado com uma mão na cintura e a outra no apagador.

— Gostaria de saber quem cortou a força de energia da minha escola?— Ela cruza os braços e eu apenas a encaro, sinto vontade de arrancar seus olhos ali mesmo, mas me contenho.

— Foi eu, Vênus não fez nada.— Erick diz calmo.

— Sentem-se — Ela aponta com os olhos para duas cadeiras em frente a uma mesa grande de madeira, há uma janela atrás da mesa, coberta por uma grande cortina de tecido duplo, em cor vinho.

Nos sentamos, Erick se senta largado olhando com deboche para a diretora, um olhar tedioso.

— O que os dois estão fazendo acordados a essa hora depois do toque de recolher?— Ela pergunta.

— Metade da escola está acordada, na verdade toda ela.— Digo confuso.

— Não tente Vênus, ela sempre finge que não vê nada que acontece por aqui.— Erick diz, sem se preocupar em sussurrar ou disfarçar.

— E o que ela pode fazer, me dar uma advertência por andar pela escola a noite?—

— Você me subestima sobrinho.—  Ela sorri.

— Você acha?— Sorri, meu corpo queima em raiva, minha nuca arde.— Você não passa de uma mulher manipulada pelo próprio filho.—

— Manipulada?— Ela quase gargalha.— Você não sabe nada Vênus, fui criada por uma família conservadora, criada para servir ao meu marido e eu servi.—

— Não estou afim de saber sobre sua história de machismo e abusos domésticos da década de 70.— Rebati.

— Você está se arriscando ao falar assim comigo, estou prestes a lhe ensinar uma lição sobre mim, não me subestime Vênus, repito.— Ela pega um lápis e começa a apontar com as costas relaxadas em sua cadeira.— Eu servi ao meu marido, lavei para ele, passei para ele, cozinhei para ele, limpei para ele.— Ela ergueu os olhos pra mim enquanto ainda apontava o lapís.— Mas eu usei luvas, me livrei do corpo e estive triste em seu funeral.—

Assim que ela terminou, observei uma silhueta se movendo atrás da cortina, o garoto albino surgiu por de trás das mesmas com um tipo de caixa na mão, sorriu para nós e pulou pela janela sem cerimônias, nós perdemos.

— Filho da puta!— Erick exclamou sem se importar com a presença da diretora ali.

— Receberão advertências e limparão o banheiro amanhã, agora saiam da minha frente.—

Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now