Seis

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— Da próxima vez eu trago o sapatinho de cristal para a princesa.— Lucas reclamou do meu atraso enquanto caminhávamos quase correndo pelos corredores, Jonathan vai na frente com sua roupa casualmente preta.
Lucas, Kira e eu vamos atrás.

—  Aonde estamos indo?— Pergunto percebendo o quão alto Jonathan é, sou maior que Kira, menor que Jonathan e do tamanho de Lucas pelo que reparei.

Lucas está usando um cachecol verde limão, um casaco verde dois tons mais escuros, meio abacate e calça jeans preta com um all star verde.

Jonathan usa uma camisa branca por debaixo do casaco de couro preto e calça jeans também preta, rasgada na altura dos joelhos e um vanz xadrez.

Não há ninguém nos corredores nem nas escadas, tenho a sensação de estar sendo escoltado pela forma que estamos caminhando, estou entre Lucas e Kira e atrás de Jonathan que caminha em passos largos e apressados, com as mãos nos bolsos da calça.

Estou tranquilo, até que percebo que estamos caminhando para o lado de fora da escola e tenha aquela mesma sensação na barriga, como se uma brisa soprasse dentro de mim.

— Oque estamos fazendo? Não podemos sair.—  Digo parado, os três param e se viram para me encarar, reviram os olhos e voltam a caminhar como se eu não houvesse dito nada.— Ei!— Digo mais alto.

— Fica calmo, está tudo bem. Temos permissão.— Kira disse.
Isso não parece certo, talvez eu não deva segui-los.

— Tem certeza?— Perguntei.

— Sim.—

Os sigo em silêncio pelo caminho de terra, me sentindo fraco por ceder tão facíl. Há um bosque ou uma floresta dos dois lados da rua, uma cerca de arame farpado, separa a floresta da estrada escura iluminada apenas pelo celular de Kira.
Jonathan para derrepente e levanta a parte de cima do arame indicando para que Lucas passe pela cerca, Kira é a próxima e logo eu sou desafiado a passar. Eu paro, pensando se deveria mesmo passar.

— Vai me dizer que está com medo?— Jonathan sorri em provocação, eu apenas o ignoro e passo pela cerca.

A cada passo que damos na floresta, sinto que tudo está errado, há uma luz que brilha logo a frente, um som de música logo invade meus ouvidos.
Há grama, um grande círculo coberto apenas por grama e alguns troncos, o tempo está frio e o local é iluminado por uma enorme fogueira e algumas tochas ao redor do lugar.
Há quatro prédios, parece uma obra inacabada, cinzentos e esverdiados pelo mofo, com ferragens contorcidas e enferrujadas.

Cada prédio tem um desenho na parte exterior, o primeiro é um grande girassol, que vai do chão até o último andar.
O segundo tem uma grande chama negra, que como o primeiro vai do topo ao fim do prédio.
O terceiro tem um riacho, um pequeno riacho com águas brilhantes e cristalinas, desenhadas em branco e azul.
E o quarto e último tem oque me parecem ser veias, que abraçam o prédio cinzento de todos os lados.

Há algumas pessoas sentadas num tronco, bebendo alguma coisa num copo transparente, Jonathan está sentado com o braço ao redor do ombro da garota loira, a mesma com quem ele estava mais cedo no refeitório, Lucas e Kira estão sentados um ao lado do outro e eu estou em pé observando aquilo tudo.

— Henrique quer vê-lo — Uma garota negra com cabelos cacheados e volumos disse olhando para mim e depois se virou para Jonathan— E quer que você o leve. — Jonathan revirou os olhos, talvez pela minha companhia ou talvez por ter que sair do seu confortável tronco. A garota simplesmente saiu sem cerimônias e Jonathan se levantou.

— Venha.—  Ele se virou e começou a caminhar e eu o segui, ele quase nunca me olha nos olhos, pelo menos não depois de nossa encarada fatal no refeitório, caras confusos são um carma pesado.

— Quem é Henrique?—  Estmos caminhando pela grama em direção ao prédio com a chama negra.

— Vai saber assim que chegarmos.— Jonathan disse sem demonstrar nada, nem na voz, nem no rosto o qual eu nem conseguia ver.

— E você não pode falar?— Perguntei.

— Posso, só não devo.— Jonathan disse.

— Como assim?— Disse e percebi Jonathans sorrir. Ele está rindo de mim?

Não é por que alguém mandou você não fazer algo, que você não possa realmente fazer, temos o poder da escolha, mas também temos a maldição da obediência. Principalmente quando é nos oferecido algo em troca de obediência.—

— Oque quer dizer com tudo isso?— Perguntei confuso.— Você diz tanto e ao mesmo tempo não diz nada.—

— Você é lento.—

— Você que anda rápido demais.—
Ele parou e se virou para mim com o olhar sério.

— Não me referi aos seu passos, me referi a sua velocidade de raciocínio.— Ele sorriu.— Você é lento.— Ele se virou novamente voltou a caminhar.

Há uma grande aglomeração na entrada do prédio, todos usam preto como peça principal da roupa e me encaram como se eu fosse um alienígena. Talvez seja.

Me surpreendo ao descobri que tem eletricidade, há luzes por todo o interior do prédio, e um elevador aparentemente novo pronto para ser usado.

Entramos no elevador e a porta se fecha, Jonathan aperta o último andar e uma música lenta e constrangedora, começa a tocar, observo ao redor e vejo câmeras, uma na entrada e uma do meu lado esquerdo, mas isso também não me surpreende.

O elevador finalmente para e as portas se abrem, o lugar parece um grande pauco, há um microfone e caixas de som em todo canto, luzes e refletores e não tem parede na parte da frente.
Havia uma sinuca bem no meio do local e alguns fardos pequenos de cerveja ao lado do frigobar, um pisca-pisca bem no alto da parede, estranhamente está parado na cor preta, a qual nem deveria existir num pisca-pisca.

— Ai estão vocês!—  Um garoto ruivo, alto e forte nos cumprimenta abrindo os braços segurando um taco de sinuca. Ele aparenta ter uns 17 anos.
Ele colocou o taco sobre a mesa e caminhou até nós, Jonathan sorri, não de uma forma feliz ou confortável, apenas sorri como tentasse agradar alguém.— Achei que nunca chegariam!— Ele apertou forte a mão de Jonathan e quase se esqueceu que eu estava ali.— Oi peimo!— O ruivo me abraçou repentinamente e vi Jonathan revirar os olhos como se implorasse que aquilo acabasse.

— Primo né—  sorri sem graça. — Você não se parece nem um pouco com a minha tia.—

— Meu nome é Henrique, e eu me pareço mais com o meu pai.— Ele sorriu.

— Oque esse merda está fazendo aqui!—  Para minha surpresa, Erick saiu bufando do elevador, com os olhos queimando como chamas sobre mim, e antes que eu pudesse me defender, seu corpo foi jogado pesadamente sobre mim me jogando no chão, ele impulsionou o braço fechando a mão enquanto com sua outra mão segurava meu pescoço.
Jonathan pulou encima de Erick o empurrando para o lado e o tirando de cima de mim, Henrique observa tudo sem expressão enquanto eu esfrego meu pescoço em busca de fôlego, tentando fazer a dor parar.

Jonathan está por cima de Erick que chora como uma criança, seu rosto está vermelho e Jonathan o imobiliza com as mãos para cima.

— O que eu disse sobre tocar nele porra!—Jonathan gritou com o rosto bem próximo do de Eric.—  O que, eu, disse?!—  Jonathan repetiu pausadamente ardendo em fúria.

— Já chega! — Henrique finalmente se pronunciou sentado sobre a mesa de sinuca a afiando seu taco.— Solte-o agora.— Ele levantou os olhos para Jonathan que apenas obedeceu.

Erick continuou ali, no chão em posição fetal chorando como se implorasse por ajuda.

Henrique se levantou largando o taco sobre a mesa de sinuca e caminhando até Eric enquanto esfregava as mãos.

— Você parece uma criança mimada.— Henrique disse agaichado sobre o corpo de Erick — Levante-se antes que eu corte as suas pernas. — Ele se levantou e sorriu animadamente, Erick rapidamnete se levantou e Jonathan estendeu sua mão para me ajudar a levantar. — Preparem o som e o meu microfone, temos um iniciação pra começar. — Henrique olhou para mim, seus olhos vazios me corroeram de medo, e ali eu soube que não estava seguro e que Henrique, não poupa esforços para ter oque quer.


Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now