Dezesseis

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   O Passado.
Por Joana Willians.

    

     Fui criada ao lado de minha irmã Vanessa por uma família extremamente machista, hipócrita e preconceituosa.
Quase não estudamos, mas graças a minha mãe, pudemos ter um ensino, nosso pai sempre nos amaldiçoou, por sermos garotas, apenas garotas, o azarado homem presenteado pelo destino com duas filhas, nenhum homem. De sua boca sempre saia que deveríamos nos casar com um homem rico, hoje, porém, o homem rico sou eu.

— Porque a barra de seu vestidos está sempre suja Vanessa?— Perguntei observando respingos de lama no vestido azul de minha irmã.

— Não consigo me conter ao som da vida ao redor de nossa casa, os alunos chegam amanhã e logo toda essa vida irá se perder, não vejo a hora de poder sair daqui.—

— Você não poderá, está presa aqui, amarrada a suas obrigações como a mais velha, cuidará da casa e da escola, tomaria fácil o seu lugar, porém, não posso, é a preferida de todos, mesmo sendo a mais suja daqui e por ser suja nenhum garoto olhará pra você— Disse ríspida, mas sem demonstrar sentimentos, eu não me importava.

— Está errada, me apaixonarei, fugirei e me casarei com alguém que me ama, bem longe desse lugar.—

Eu estava mesmo errada, como o seu plano, ela se apaixonou, fugiu e se casou distante de todos nós, talvez ela tenha enchido a cabeça do garoto com mentiras sobre sua família, ou talvez, eu esteja mentindo para mim mesma.

Depois de um tempo, se esqueceram que Vanessa já havia iluminado o gramado dessa escola sombria, os jogos começaram a ficar cada vez mais cruéis e eu implantei novas regras, comecei a comandar e a ter mais responsabilidades e assim me tornei a primeira herdeira desse lugar.
Meus pais morreram logo, mas não antes de me arranjar um marido.
Um ruivo nojento com cabelo ensebado em gel, cachos mal definidos e sardas por toda a pele, um aparelho brilhante que ele nunca mudava a cor e um sapato que apesar de muitos, ele teimava em usar apenas o mesmo.
Assim que me casei, meu pai começou a cobrar de minha mãe que ela me ensinasse a cuidar do meu marido, e como se ele fosse um aleijado, fui ensinada a lavar, passar, cozinhar entre outras tarefas.
Ele, tomou meu sonho de comandar o internato Willians, demonstrando uma boa técnica com números, gastos e trazendo dinheiro.
Ele me amava, mas eu o desprezava, me tornei uma doméstica que não conseguia nem engravidar, a cada dia eu o odiava mais, a cada gesto carinhoso, beijo e nossas intermináveis noites calorosas as quais eu era obrigada a me deitar com ele.
" é seu dever como mulher" ele dizia.
Logo comecei a questioná-lo e a tentar me inserir de volta nos negócios da minha família, nisso, meus pais já estavam a 7 palmos, talvez queimando eternamente.

Ele não gostava de minha intromição, não gostava que eu entendesse as coisas, não gostava que eu perguntasse, ele se tornou agressivo ao longo do tempo, eu o tolerei no começo pois temia oque eu poderia ser capaz de fazer com ele.
Ele me cobrava filhos, e logo eu me cansei, escondia as marcas com maquiagem para que a sociedade não julgasse o meu casamento como infeliz, não a Joana Willians, a mais rica dali.

— Vire-se mulher.— Ele disse ao meu lado, segurando minha cintura e me obrigando a virar de costas para ele.
Ele, sem cerimônias me usou enquanto eu chorava baixo, gemendo mergulhada em um sofrimento interminável, até que finalmente ele acabou, se virou para o lado oposto ao meu e começou a roncar enquanto eu ainda chorava pensando o quão feliz minha irmã estava nesses apenas dois anos desde que fugiu.

Uma revolta borbulhou em mim, aqueceu meu sangue e fez com que eu me levantasse.
Friamente vesti minha luvas pretas as quais usava para ir a missa e caminhei até a cozinha, do faqueiro, retirei uma faca brilhante, afiada que implorava para cortar a carne.

Enquanto as lágrimas caíam eu subi sobre ele, e dancei com seu sofrimento enquanto observava sua vida medíocre sair de seu corpo inútil.
Eu me limpei, limpei o corpo e me livrei do mesmo.
Normalmente, ele foi dado como desaparecido, até que encontraram seu corpo pálido e gélido me comunicando como a viúva rica.

Minha atuação foi esplêndida, fui oque eles queriam. A viúva desolada, desesperada pela vida do marido agora morto.
"Foi um assalto" eles disseram.

Pouco tempo depois, descobri que estava grávida, um herdeiro, um Willians, meu filho.

Me subestimam por que não sabem oque fiz, e isso só me deixa ainda mais perigosa.

Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now