Treze

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                  Eu respeito o meu clã

— Eu respeito o meu clã, pois meu clã me respeita. Respeito o Fogo que me lidera, Respeito o Sangue que corre em minhas veias, Respeito a Água que é meu corpe e a Terra que é minha morada, sou um jogador.— Disseram em uníssono todos presentes ali, com a mão no coração, provavelmente acreditando no que dizem.

— Olá a todos!— Henrique disse com seu microfone, agora está em um pequeno pauco improvisado ao lado do que parecem ser os líderes de cada clã vestindo suas cores.
Estamos separados por cores, por um momento nos imagino vistos de cima, manchas de cores, Azul, Vermelho, Preto e Verde.

Kira está ao meu lado, estamos bem na frente.

— Jogadores da noite, um passo a frente!— Henrique sorri, há uma música baixa no fundo, um eletrónico quase inaudível graças a plateia animada.

Kira quase me joga no chão me fazendo dar um passo a frente e ficando ao lado de outros jogadores.

Henrique me observa com satisfação, estou do jeito que ele queria que eu estivesse. Ao meu lado está uma garota da água, com cabelos afro pintados de azul, ao lado dela a Terra, um garoto albino, forte usando óculos e para minha surpresa, Erick, com suas roupas pretas e seu olhar furioso de sempre, ele me encara e eu desvio.

— Bem-vindos a caça ao tesouro.— Henrique sorri satisfeito com a animação da platéia.— A maioria de vocês sabe como funciona, mas outros são novos nisso.— Henrique me olha e sinto a indireta bem direta em mim. Henrique passa o microfone para Fernanda, minha líder.

— Vocês vão estrar na floresta, e usar as pistas deixadas por lá, para achar o tesouro, devem trazer o tesouro pra cá, e o que o fizer, ganha 25 pontos.— Fernanda aponta para uma tabela refletida num prédio atrás deles.

A tabela está na horizontal, todos os nomes estão na casa do 100.

— Fiquem em suas marcas!— Uma garota animada diz usando uma roupa azul.—

Há 4 faixas no chão, cada uma de uma cor, vou para a faixa vermelha e me preparo para correr.

— Vênus!— Ouço Kira gritar meu nome e me viro.— A plataforma!— Ela aponta para o pé.

Me lembro da plataforma e começo a tirar, ao mesmo tempo, Henrique começa a contagem regressiva com sinalizador para cima.
Tiro a plataforma bem ao fim da contagem, ao som oco da esplosão de luz, começamos a correr, diretamente para a escuridão da floresta a nossa frente, os outros gritam e logo me vejo dentro de uma floresta mal iluminada por estacas em chamas presas no chão.
Sem pensar duas vezes, arranco uma dali, a começo a caminhar.
Para minha surpresa, me sinto confortável com a roupa.

Sinto ser observado, o vento atinge as folhas das árvores que produzem um farvalhar ensurdecedor que me deixam disperto, caminho iluminando o chão e as árvores tentando achar alguma pista.
Ouço alguma coisa cair bem atrás de mim, me viro rápido e caminho de volta iluminando o lugar de onde veio o som.
Alguma coisa prende meu pé assim que piso firme no chão, meu corpo se suspende ficando de cabeça para baixo.
Solto a tocha instintivamente, mas antes que ela caia, a garota com cabelo azul, a pega e me observa com um sorriso perfeitamente alinhado e malicioso.

— Menos um.— Sua voz aveludada é acompanhada por seus passos se afastando e me deixando sozinho no escuro, iluminado apenas pela fraca luz da lua.

Sinto meu sangue descer pra cabeça enquanto tento sem sucesso desfazer o nó que me segura ali.

Sinto minha cabeça começar a doer e começo a desitir.
Meus olhos estão estreitos e começo a observar um pequeno ponto brilhante em meio a escuridão.
Uso minhas últimas forças para me lançar até o tronco onde a corda está amarrada.
Me impulsiono sentindo minhas costas doerem, mas logo, de uma forma milagrosa, me encontro sentado sobre o tronco e respirando ofegante sentindo um alívio na cabeça, me recomponho e começo a desamarrar a corda do meu tornozelo, a armadilha parece bem feita, ferros, molas e mais cordas, juntos de uma forma inexplicável que pelo visto funciona.

Pulo do tronco e caminho até o ponto brilhante neon no meio sas folhagens, é  rosa e parece ser um tecido com algo escrito.

"Observo o pôr do sol ao lado do meu clã"

Oque isso pode significar, talvez  a clareira, ou talvez o prédio de algum clã.
Tento pensar, mas me sinto bloqueado.
Oque pode ser o pôr do sol, alguma pessoa ou um lugar?

Meu corpo vibra, o pôr do sol é o pôr do sol, me lembro de mais cedo, quando quase toda a escola estava observando o pôr do sol na frente do internato, quando me encontrei com Jonathan na sala de música.

É a escola.

Coloquei a dica no bolso e cortei caminho pela floresta saindo na estrada de terra, chegando finalmente no internato, Erick e o garoto albino estavam aos socos, bem na frente da escola, os dois tinham algo brilhando no bolso, provavelmente a dica.

Fiquei parado um tempo sem saber oque fazer, até que o garoto albino logo estava encima de Erick, socando seu rosto repetidas vezes, sai sangue do seu nariz e seu rosto está vermelho, quando o albino percebe que Erick está desacordado, ele se levanta, vira seu rosto para mim e sai, sem cerimônias.

Caminho até o corpo desacordado de Erick e rezo para que ele esteja vivo, me abaixo até ele e com o dedo indicador e o médio, toco seu pescoço pra saber se ainda há pulsação.
Sinto as batidas fracas e fico aliviado ao saber que ele ainda está vivo.

— Qual é o seu problema.— Ele abre os olhos e se afasta rápido.

— Estou tentando te ajudar se você não percebeu.— Me levanto já arrependido, deveria estar procurando a outra pista, não tentando ajudar quem provavelmente não me ajudaria.

— Não preciso da sua ajuda!— Ele exclama.

— Ótimo, melhor pra mim.— Saio de perto de Erick pisando firme, sem nem saber pra aonde eu devo ir.
Eu não deveria mesmo ter tentado ajudá-lo.

— Ou!— Ele grita tentando chamar minha atenção, mas continuo andando tentando procurar alguma coisa, as luzes da escola estão acesas e iluminam onde nós estamos.— Vai ser melhor procurar se apagar as luzes da escola.— Erick sugere ainda sentada no chão escorado por seu braço, e com outro encima do joelho dobrado. Eu o ignoro.— Vai mesmo me ignorar?— Ele sorri, acho que é a primeira vez que o vejo sorrindo, isso é estranho.

— Cala a boca!— Exclamo lançando uma encarada com os olhos semicerrados.

Ele se levanta, e vai para trás da escola, ouço alguns barulhos na floresta e temo que seja o albino voltando.
De repente, as luzes da escola inteira se apagam e a luz fraca da lua, ilumina o gramado.

— Agora está bem melhor não acha?—Erick surge sorrindo em meio a escuridão e começa a procurar também. Continuo em silêncio mexendo nos arbustos para encontrar a pista. — Por que me ajudou?—

— Não fiz nada, só queria ter a certeza de que havia me livrado de você.— Disse sem encará-lo.

— Achei.— Ele exclamou passando do meu lado e esbarrando em mim de forma agressiva, quase me jogando no chão.

Ele pegou o pedaço de pano brilhante amarelo e trouxe até mim.

— Por que está me mostrando? — Perguntei erguendo o cenho.

— Estou apenas retribuindo o favor.—

"Onde dorme a perigosa ingenuidade de um anjo, um planeta."

— Isso não faz o menor sentido.— Exclamei cansado de procurar pistas idiotas.

— Sério?! Você é mesmo muito lerdo.— Erick sorriu e saiu em direção ao internato coberto pelo breu.— Você não vem?—

De repente, Erick e eu estamos trabalhando juntos, talvez seja um sinal das coisas melhorando.


Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now