Oito

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Tudo brilha em um vermelho vivo, há uma porta no que parece ser o último andar, uma porta preta com a maçaneta transparente.

— Entra.— Henrique diz assim que abre a mesma.

Eu entro, com passos lentos observando tudo, automaticamente uma luz se ascende, não é vermelha é branca, uma luz comum.
Parece ser um escritório, há uma mesa de madeira e uma cadeira grande de couro com detalhes amadeirados.
Há fotografias e livros nas paredes.
As fotos são antigas e minha tia está em muitas delas, ela era mais nova.

— O que estamos fazendo aqui?—  Pergunto assustado e Henrique coloca a arma sobre a mesa e se senta na quina da mesma.

— Estou lhe mostrando as respostas que você tanto quer.— Ele sorri com o canto da boca e se levanta vindo até mim.— Essa é a minha mãe, sua tia, dona do Internato Willians, porém, ela não comprou o lugar, foi entregue a ela, como herança.—  Ele retirou um retrato da parede e o segurou observando enquanto dizia.— Sua mãe estudou aqui e morou aqui, ela como a filha mais velha, seria a herdeira do maior bem de todo o país: o Internato, mas tola ela não aceitou e fugiu com seu pai, obrigando assim que meu avô desse a minha mãe o lugar.
Os jogos existem á muito tempo, começaram com meu bisavô, nosso bisavô — Henrique sorriu.— Ele criou as regras, os jogos, tudo. Todos participavam, era divertido, mas logo os limites acabaram, adolescentes começaram a morrer e o jogo foi aperfeiçoado, e hoje eu comando.—

— Simples assim?— Perguntei incrédulo na forma como Henrique dizia tudo.

— Seria assim pra você, se sua mãe não tivesse fugido, você estaria no meu lugar. E que bom que não está.—

— Me deixa ir.— Disse em súpilca, aquilo estava acabando comigo, aquela noite esquisita, tudo.

— Precisa assinar para entrar para os jogos.— Henrique se levanta e vai para trás da mesa e se senta na cadeira.

— Eu não vou participar disso.— Disse com uma sombrancelha arqueada e dando um passo para trás.

Henrique sorri, como se já esperasse por essa reação.

— Eu sempre me perguntei como eu faço para as pessoas fazerem oque eu quero que elas façam, e a resposta é o medo.— Henrique pega a arma sobre a mesa e destrava rapidamente a apontando para mim — Medo da morte ou o medo de perder alguém que você ama. — Ele vira a mão que segura a arma para o lado e aperta o gatilho acertando um quadro na parede.

— Já não tenho mais ninguém que eu ame aqui.— Digo com os olhos molhados, meu ombros estão curvados e meu rosto frio e úmido pelas lágrimas, minhas pernas doem e eu desabo no chão.— Me deixe ir.— Suplico novamente e Henrique me observa, ele balança a arma em um movimento rápido acenando para que eu saia dali.

Me levanto devagar, mas caminho com velocidade até a porta.
Desço as escadas rápido pulando os degrais, meus olhos se acostumam novamente com o vermelho e acelero o passo, a música agitada me deixa tonto e continuo caminhando entre tropeços até chegar em Lucas e Kira.

— Meu Deus Vênus!— Kira exclamou entre as batidas da música agitada.

— Oque ele fez com você?— Lucas tocou meu ombro.

— Preciso ir embora daqui.— Disse

— Vamos tira-lo daqui.— Lucas disse para Kira e fomos juntos até meu alojamento.
O alujamento está escuro e apenas a luz da lua atravessa a janela sobre o móvel de cabeceira.

— Temos que voltar.— Kira diz para Lucas assim que me colocam na cama.

— Não podemas deixa-lo assim sozinho.— Lucas me observa.

— Por que fazem parte disso?— Pergunto.— Henrique é um assassino como podem fazer parte disso!— Aumento o tom da voz e o choro cessa, na verdade, começo a prendê-lo, passo as mangas do moletom branco no rosto e os observo.

— Nem todos fazem por que querem Vênus.— Lucas responde sério e cabisbaixo.

— Se não quer então porque ainda está lá?— Pergunto com revolta e me levanto da cama.

— Você está confuso precisa descançar.— Lucas segura meu braço tentando me levar de volta para a cama.

— Me solta!— Grito o empurrando com força, seu corpo se lança para trás e ele quase cai, mas se reequilibra magicamente.

— Chega Vênus! Deite na cama!—  Kira se aproxima.

— Chega você, quem você pensa que é pra falar assim comigo? Não somos amigos, nos conhecemos hoje!— Digo ríspido cuspindo ódio e revolta sobre Kira. Como minha vida se tornou tão medíucre?

— O que está acontecendo?— Jonathan entra no quarto repentinamente como fosse dele.

— Não é da sua conta.— Digo o olhando com ódio, Jonathan é o pior de todos, talvez pior que Henrique, ele vê tudo e o serve como se fosse a cadelinha dele, qual o problema desse lugar, dessas pessoas.

— Olha, pra mim já deu, cuidem dessa criança mimada.— Kira sai pisando firme sem olhar para trás.

— Vou atrás dela.— Lucas diz saindo rápido atrás de Kira.

Me sento na cama e tento respirar. O que é tudo isso?
Ouço Jonathan fechar a porta, observo sua cilhueta parada no escuro encostada na porta, ele está me olhando e eu desabei.
Me lembrando da minha vida antes do meu pai ficar doente, de como éramos felizes mesmo com ele no hospital, de sua morte, dos amigos que perdi quando vim pra cá, tudo, de repente tudo desabou sobre mim. Minha felicidade se quebrou após virar um grande cristal de gelo e agora, me tornei vazio, apenas a raiva e a revolta, comandam oque resta de mim.
Eu desmoronei diante dos olhos dele, decaí devagar chegando ao fundo do poço, eu tentei recomeçar vindo pra cá, tentei agarrar o último fio de esperança que me restava, mas estou na escuridão, e ninguém pode me tirar.






Me Chame De Vênus Where stories live. Discover now