Trinta e Um

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   Olá, eu não sei bem oque escrever pois não sei oque se escrevem numa carta de suicídio, eu estou surtando. Não consigo simplesmente continuar com isso, tem sido um inferno e não apenas para mim, há coisas a qual gostaria de simplesmente escrever aqui e resolver tudo, mas tenho medo de colocar a vida de meus amigos em perigo, então essa é a forma mais fácil de resolver as coisas, mesmo que não seja a forma certa. Desde que Kira partiu, tenho me sentido cada vez mais culpado, talvez por ela ser minha amiga.
Tenho imaginado como seria perder Vênus, Isa ou Lucas e isso tem me corroído ainda mais, graças aquele maldito documento que todos assinamos para estar aqui, sabemos que somos culpados por cada morte, somos cúmplices.
Mas eu não quero ser, minha alma está fadigada, exalsta e quase morta.
Meu peito está apertado e preciso acabar com a dor, me perdoem.
  Jonathan Pierre.

Despedidas são sempre marcadas por dor e lágrimas, a carta encontrada por Lucas nas coisas de Jonathan, serviu para nos acalentar, eu ainda desconfiava sobre Jona ter mesmo se matado de forma tão fria, mas após uma autópsia, confirmaram que foi mesmo suicídio.
O caixão está aberto, é impossível não se lembrar de Kira vendo Jona na mesma situação, seus olhos estão fechados e sua pele está pálida e meio azulada, sua família não apareceu, nem todos os alunos apareceram, a morte de Kira foi marcada por um belo velório e um orgulhoso enterro, mas alguns de nós, o condenam pela forma que morreu, sem pensar na dor que ele estava sentindo. Temo que o suicídio de Jona sirva para encorajar alguns de nós, que também sofrem com tudo isso.
Talvez Henrique também tema, já que seu jogo doentio, depende de cada um de nós. Talvez por isso Henrique ainda não tenha entregue a confissão de Mio sobre a morte de Kira, para me manter ali, na linha, enquanto sou considerado o maior suspeito de um assassinato que eu não cometi. Pelo que sei, deram um jeito no corpo de Mio, fizeram parecer que ele simplesmente foi embora, isso me preocupa, talvez Henrique nunca entregue a confissão de Mio.

O velório de Jonathan, foi bancado pela escola, todos os custos, acho que para diminuir a culpa, eu os julgo por isso, mas também gostaria de diminuir minha culpa.
Desde que Jona se foi, meus olhos tem estado a maior parte do tempo inchados e molhados, Isa não está aqui e isso me surpreende.

Há um padre, que chegou de repente e nos convidou a se sentar, há poucas pessoas, umas 30 no máximo. Estamos em cadeiras enfileiradas, Lucas está ao meu lado e percebo que não me lembro de tê-lo visto chorando, talvez por que ele não sente tanto.

Henrique está como sempre ao lado de sua mãe, estão de pé. Ele encara o gramado pensativo com os braços cruzados, seus olhos estão brilhando como os olhos de alguém que precisa chorar, mas ele não vai chorar, não meu primo, não Henrique Willians, pelo menos não aqui.

— Vênus!— Ouço a voz de minha tia, que me tira do meu transe em pensamentos distantes, talvez eu também estivesse encarando a grama como alguém que quer chorar, mas diferente de Henrique, eu choro, é algo natural e sem que eu perceba, apenas duas gotas rebeldes caem e as seco imediatamente.— Quer falar alguma coisa?—

Eu não quero falar, não agora que Jona está morto, frio e pálido em um caixão bem na minha frente, mas eu me levanto e me obrigo a me despedir.

— E..eu não preparei nada.— Digo envergonhado agora ao lado do padre.

— Não tem problema, apenas diga oque sente.— O padre com aparência idosa e cansada, sorriu pra mim, e me senti confortável.

— Olá— Foi a primeira coisa que pensei, alguns riram, achando que o "olá" era para o morto.— Eu não me sinto encorajado para fazer as coisas, seja oque for, eu não me sinto confortável, sempre me senti incapaz ou apenas um grão de arroz em um mundo tão grande, oque é verdade afinal, mas Jona sempre me encorajava, seja com palavras, com gestos, ou mesmo com o olhar. Ele me encorajaria se agora ele estivesse aqui, Jonathan Prierre foi um amigo, um amor, um conselheiro, talvez eu até tenha visto um pouco do meu pai nele, mas antes de ser tudo isso, Jonathan foi humano, e como todo humano, nós cansamos, cansamos da dor, da raiva, da tristeza e até mesmo da alegria. Jonathan estava exausto e agora ele vai descansar.—

— Obrigado Vênus.— O padre agradeceu e acenou com a cabeça para um garoto ao lado que segurava um violino. Ele começou a tocar e eu me lembrei do violino que Lucas tem no quarto.

E então ela chegou, no meio do velório ao som do violino, Isa caminhou entre os presentes em direção ao caixão, consigo ela carrega dor e uma garrafa de wisk, a barra de seu vestido arrasta no chão, ela está usando um vestido de noiva, um clássico estufado finalizado em rendas e detalhes em pedra, ela está chorando, mas não de forma escandalosa, ela simplesmente deixa que as lágrimas caiam enquanto ela caminha, seus olhos estão manchados de rímel, ela passa os olhos sobre mim e leva a garrafa até a boca, seus lábios vermelhos sorriem, seu véu é longo e arrasta no chão por onde ela caminha.

— Somos como assassinos no enterro de nossas vítimas! — Ela diz entre sorrisos levando novamente a garrafa até a boca.

— Isabela!— Henrique tenta a segurar quando ela esbarra no caixão quase o derrubando.

— Deixe-a falar.— O padre diz e o violino para.

— Meu lindinho. — Isa acariciou o rosto de Jona com as costas de sua mão.
— Por que fez isso com a gente?—

Eu me tornei uma cachoeira, meus olhos simplesmente entornam, eu desabei, não sou forte o bastante para vê-lo partir, nem corajoso o suficiente para partir com ele.

Desculpem pelos erros.

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