Batom vermelho

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Jaebum se infiltrou entre as pessoas, seguindo o fluxo que percorria o centro caótico da Neos. Os prédios espelhados brilhavam junto da água da chuva, o céu cinzento não parecia nem um pouco mais colorido ou vivido mesmo com os hologramas animados preenchendo qualquer espaço possível. Com as mãos no bolso do moletom e de capuz, o Im almejava chegar na área dos becos e acessar os bares exóticos localizados um pouco afastados das ruas principais. Chegava a ser engraçado o quão difícil era acessá-los mesmo que estivessem tão perto do centro, mas levando em conta a fama de tais bares, Jaebum entendia o porque do excesso de receio e dificuldade para entrar.

Era sua primeira missão sozinho, a primeira vez que iria buscar uma informação sem ter auxílio de alguém mais experiente. Já estava no movimento rebelde há uns meses agora e apesar de não sentir-se pronto de forma alguma, Youngjae e Yugyeom estavam constantemente lhe elogiando por ser tão escorregadio e bom mentiroso, o que eventualmente foi um grande fator para lhe designarem tal missão. Não era nenhuma informação extremamente crucial e mesmo assim Jaebum sentia-se nervoso, tremendo dentro de suas roupas, tentando ao máximo não mostrar o olhar nervoso que Bambam gostava de fazer graça; ele tinha que agir de forma confiante, caso contrário não o levariam a sério.

Os becos, ao contrário da grandiosa e brilhante Neos, eram apagados e o lixo eletrônico se acumulava ali junto de alimentos estragados, vasilhas e peças de andróides quebrados. Quanto mais fundo neles, pior a situação ficava. O cheiro era excepcionalmente marcante, e não de uma forma boa; bebida, lixo, urina e algo que honestamente poderia ser carne apodrecendo. Apesar disso, ainda mantendo a cabeça abaixada, Jaebum se permitiu continuar sua viagem até o Hollow's, local onde iria conseguir uma informação e buscar um envelope para Mark. que lhe deu isso como uma tarefa bônus. Ele não se surpreendia de ter sido mandado de dia, as chances do bar estar vazio eram extremamente maiores.

Conferiu uma última vez o mapa em seu painel material e constatou que não precisaria andar muito mais, afinal encontrava-se bem em frente do bar. Ao erguer a cabeça, viu o holograma mostrando o nome em uma cor avermelhada, enfraquecida pela luz do dia — mesmo que o céu estivesse nublado e os becos fossem estreitos, ele não caminhava totalmente na escuridão. Não era necessário bater na porta de madeira, informar quem era ou fazer cumprimentos muito elaborados, Youngjae o disse para entrar, sentar-se no bar e conseguir o que tinha pedido. E como Jaebum era um agente obediente, ele o fez, retirando seu capuz ao adentrar o local fechado, bagunçando os fios úmidos.

O bar tinha uma aparência antiga e estava praticamente vazio. Um homem solitário com uma enorme barba e olheiras profundas estava sentado ao lado da janela fechada por uma cortina vermelho vinho, segurando uma caneca enorme de cerveja, lamentando-se silenciosamente. Ele não olhou Jaebum, sequer parecia estar prestando atenção no ambiente. Além dele havia uma mulher sentada de forma desleixada ao fundo, com os pés na mesa e fios roxos elétricos, acumulando garrafas de cerveja ao lado, sorrindo com seu batom verde musgo em direção ao seu painel material, entretida, igualmente despreocupada com a presença do Im. Decidiu parar de olhar tanto, sentando-se ao balcão.

A última presença no bar era aquela mulher de olhos extremamente afiados, fios negros escorridos e sorriso manchado pelo batom vermelho. Ela lhe direcionou um olhar curioso, certamente não acostumada com a presença diferente no local, mas em um suspiro aproximou-se do balcão. Deixou um copo em frente ao Im, lhe servindo uma dose de alguma bebida com cheiro forte, capaz de atordoar qualquer um. Com um sorriso charmoso, ela deixou a garrafa de lado e cruzou os braços. Era muito bonita, quase que misteriosa demais para que Jaebum conseguisse lê-la através de sua expressão satisfeita. Youngjae parecia escolher bem seus aliados, afinal o Im não tinha se encontrado com uma pessoa sequer que não tivesse o surpreendido.

— Por conta da casa, gracinha. — A língua dela umedeceu os lábios de forma divertida.

— Eu não deveria beber. — Jaebum também sorriu, levemente sem jeito.

ImperiumWhere stories live. Discover now