O começo

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— Jaebum, vê se as batatas já cozinharam.

Era estranho não ter que lidar com toda a animação que a vida de líder de um movimento reprimido trazia. Não que Youngjae sentisse saudade do perigo constante, do fingimento necessário e de todas as noites mal dormidas, mas acabou se acostumando com tudo isso e agora que não lidava mais com nada disso constantemente era simplesmente esquisito encontrar-se tão calmo. Apreciava saber que não estava mais temendo pela própria vida a cada segundo, assim como se sentia feliz por não ter que ficar cumprindo horários terríveis, mas ainda iria levar muito tempo para se acostumar a ser uma pessoa normal.

Claro que ainda tinha deveres. Apesar de terem conseguido muitas melhorias para o povo com as revoltas e mudanças que forçaram com os dados que obtiveram, ainda existiam pessoas poderosas em cargos altos tentando derrubá-los a todo o momento. A sociedade perfeita que queriam era uma utopia irreal, portanto os rebeldes não iriam descansar tão cedo levando em conta o quanto ainda precisariam reivindicar. A parte boa era que não mais sofriam atentados, afinal o grupo deixou de ser considerado uma ameaça e os agentes do governo não tinham mais o poder de atacá-los.

Ser rebelde agora era algo bem comum se você fosse uma pessoa sensata. Depois que o movimento começou a espalhar a verdade, mostrar que não tinha intenção de atacar ninguém e que só buscavam melhorias para a população num geral, as pessoas lentamente começaram a apoiá-los mais ainda e as coisas tornaram-se menos secretas. Alguns estabelecimentos até mesmo adotaram as cores dos rebeldes, o roxo e o preto, mostrando que não tinham a intenção de curvarem-se para o controle exagerado que o governo e as corporações ainda tentavam impor. Lentamente, mas de forma correta, as coisas foram melhorando.

Escolas e hospitais ganharam reformas. As cidades pequenas do interior, antes abandonadas por falta de movimentação de capital, receberam investimentos e voltaram a funcionar. O povo tinha mais coragem em questionar o que estava acontecendo com os impostos pagos, e certas empresas foram boicotadas após vários arquivos delatando corrupção foram expostos na rede. Os rebeldes ainda lidavam com grupos elitistas enraivecidos, até mesmo recebiam ameaças anônimas de vez em quando, contudo era bom saber que a maior parte da nação sabia realmente o que estava acontecendo.

Youngjae cedeu a liderança e agora o grupo era um só: os lados Hell e Heaven deixaram de existir, dando inicio a uma nova fase com apenas um grupo administrativo. Ainda tinha um cargo de extrema importância dentro do movimento, contudo optou por deixar a liderança, mesmo que muitos fossem contra, porque queria ter mais tempo para viver a vida que desde sempre lhe fora atrapalhada por trabalho, missões e estratégias. Além disso, o próprio Choi parecia cansado demais para pensar em qualquer coisa relacionada a comandar, portanto entendeu que essa era a melhor escolha a se fazer.

— Repete, eu não ouvi direito o que você disse. — Jaebum entrou no quarto, apressado, fazendo Youngjae rir.

— As batatas. — disse apenas, vendo o mais novo arregalar os olhos e voltar correndo para a cozinha.

Ainda moravam todos na sede. Youngjae e Jaebum agora dividiam um andar, Bambam, Yugyeom e Jinyoung ficavam logo abaixo deles e Mark e Jackson mudaram-se para cima. Continuava a mesma barulheira, agitação e bagunça de sempre, entretanto talvez fosse exatamente por esses motivos que nenhum deles quis ir embora: estavam acostumados a ficarem juntos, gostavam das coisas assim. As relações praticamente não tinham mudado nada apesar do ano que passara, a única coisa que faziam diferente era que para se dirigem a Jaebum precisavam falar um pouco mais alto; desde que ele perdera a audição no lado direito, parecia fingir não escutar nada de propósito apenas para testar a paciência dos outros.

— Pronto, eu salvei elas. — Jaebum voltou, sorrindo. Deitou-se ao lado de Youngjae. — Você quer almoçar agora?

— Nah. — resmungou, negando. — Comi demais no café da manhã.

— Bom, levando em conta que você era um magricela trêmulo, estou feliz que esteja se alimentando direito.

Youngjae riu.

— Adoro quando você me elogia assim.

— É coisa do meu amor. — Jaebum soltou um risinho, deixando um selar sutil na bochecha do mais velho. — Mas, sério, vamos comer antes que esfrie.

O Choi rolou os olhos, entretanto logo assentiu. Fechou as coisas em que estava trabalhando e acompanhou Jaebum até a cozinha. Um dos passatempos do Im quando tiveram que se esconder após a fuga foi cozinhar, e era admirável o quão bom ele tornou-se nisso. Fazia uma comida realmente muito gostosa, Youngjae nem mais se aventurava na cozinha sabendo que ele estava por perto.

— Isso 'tá com um cheiro bom. — Comentou o Choi, abraçando de lado Jaebum.

— Obrigado. — murmurou, contente.

Youngjae o fitou por alguns segundos, então riu baixinho, deixando um beijo nos lábios dele.

— Bobo. — disse baixo.

Ainda era estranho não temer constantemente a morte, mas Youngjae tinha que admitir que agora que realmente estava vivendo sua vida de forma mais tranquila tudo parecia realmente perfeito.

ImperiumWhere stories live. Discover now