A escuridão reinou

66 11 10
                                    

Youngjae não conseguia fitá-lo. Seus olhos nervosos tentavam, mas o homem se forçava a não o fazê-lo, afinal de contas isso apenas o machucaria mais ainda. Depois que sua prisão foi publicamente anunciada, Jaebum lhe segurou firmemente pelo braço e o levou até o a van preta em meio a protestos da multidão e algumas ameaças. Ele nem precisava apertá-lo como o fez, pois não houve resistência pela parte do Choi — não só porque tudo aquilo já estava combinado previamente, mas porque o rebelde estava simplesmente estupefato. Não pensou que retornaria a ver Jaebum tão cedo, em fato achava que se existisse algum deus, e se ele fosse bom, teria garantido-o uma morte sem muitas dores apesar dele ter se explodido.

Havia mais dois agentes do governo no carro. Um homem negro alto, forte e cheio de tatuagens brancas pelo pescoço e cabeça careca. O outro, ruivo, tirou o capacete nervosamente, encarando a parede ao que passou. Ao que se sentaram, um ao lado do outro, os agentes logo apontaram suas armas gigantescas para ele como se o rebelde fosse algum tipo de bicho extremamente perigoso, aparentemente temiam que, mesmo desarmado e claramente chocado, o Choi pudesse fazer qualquer coisa contra eles. Jaebum, muito calmo, porém, sentou-se ao seu lado e algemou suas mãos, ainda mantendo certa falta de cautela. Ele tinha o rosto impassível, as coisas a sua volta simplesmente pareciam comuns, como se aquele fosse apenas mais um dia. Youngjae reconhecia os sintomas: obediência, silêncio, olhos sem vida e incapacidade de lembrar-se de qualquer porcaria — tinham apagado ele.

Tinha perdido completamente a noção das coisas. Sabia que estavam em movimento, mas não sabia há quanto tempo e nem conseguia identificar pelos sons se ainda estavam na parte movimentada da cidade. A cabeça doía, seu corpo inteiro lutava contra vontades que matariam ambos, ele e Jaebum, e um zumbido insistente perambulava do lado de fora de suas orelhas. Além disso, sentia muito frio agora que a tempestade não mais o abraçava; dava qualquer coisa para poder trocar de roupa, ou ao menos tirar o moletom pesado, entretanto sabia que o mínimo de seus movimentos poderia causar um tiroteio e, apesar dos pesares, Youngjae desejava que não fosse Jaebum a matá-lo, ao menos não em tais condições.

A mão dele que não segurava a arma estava ao seu lado. Se quisesse, o Choi poderia entrelaçar seus dedos entre os dele, senti-lo novamente, confirmar que realmente Jaebum estava vivo, mas não queria arriscar envolvê-lo em mais perigo ainda. Estava bem claro que após sua execução, o Im não seria mais importante, então matá-lo ou não tampouco faria diferença para quem quer que pudesse dar ordens a ele. Como não iriam garantir que outras pessoas subissem ao poder tão rapidamente, Youngjae duvidava que poderiam salvá-lo. Restava apenas se comportar, torcer para que deixassem Jaebum em paz e aceitar que, de uma forma ou de outra, não poderia mais estar com ele agora que tinha se decidido.

Finalmente tomou coragem para analisá-lo, mesmo que um pouco. O lado direto do rosto dele estava gravemente ferido, com marcas de queimadura que subiam do pescoço até parte da bochecha. A orelha parecia ter sido costurada em vários pontos, mas continuava estranhamente horrenda. Seu olho direito parecia ter sido parcialmente afetado também, porque, pelo o que conseguiu ver, Youngjae observou uma mancha preta na íris cobrindo o tom de roxo, como se a explosão tivesse causado um defeito no que quer que Jaebum fizera para mudar a cor dos olhos. Perdera parte do cabelo também, entretanto, como fazia um tempo que o Im não o cortava, e Youngjae se recordava de ouvir Bambam e Jackson brigando com ele por causa disso, as mechas longas cobriam parcialmente as partes desfalcadas.

Ficara óbvio que a parte direita do corpo de Jaebum fora a que tomou praticamente todo o baque da explosão. Youngjae honestamente não sabia se fora uma decisão sábia, ainda mais levando em conta que só conseguia ver o rosto dele, entretanto ao menos o garoto estava vivo. Não era o Jaebum que conhecia, mas estava ali e isso, por mais deprimente que soasse, era suficiente para Youngjae. Esperava que algum dos meninos o visse e pudesse salvá-lo; agora pensava que a perda de memórias não seria algo bom para o Im. Quando morresse, ele não iria sofrer, não iria lembrar-se de nada que passaram juntos, seria apenas mais uma morte. Talvez assim fosse melhor para ele.

ImperiumWhere stories live. Discover now