Café amargo

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Jaebum costumava pensar que odiava a chuva. Porque em Neos estava sempre chovendo, a impressão que tinha era de monotonia e tédio, algo rotineiro demais para fazê-lo sentir-se animado. Naquela manhã, entretanto, ele acordou com a sensação de que precisava muito dela como um conforto para que se sentisse normal novamente, afinal o clima na base estava horrível. Nenhum dos meninos parecia animado, a ansiedade corria viva nas veias de cada um; bastava que alguma coisa caísse no chão, uma ferramenta na oficina de Jackson ou um copo de café na cozinha do quinto andar, para que todos de repente se encontrassem atônitos, prontos para agir, correr ou lutar, temendo um inimigo que ainda não estava ciente deles.

Youngjae, por outro lado, estava irritante de tão tranquilo. Jaebum não aguentava olhá-lo e vê-lo tão impassível sobre tudo, sorrindo como sempre esteve, treinando de forma até um pouco relaxada — se ele estava fingindo calma, o fazia muito bem, afinal Jaebum não era o único se mordendo de ódio da falta de preocupação dele. Era um sentimento de puro terror saber que em alguns dias poderiam perdê-lo se algo desse errado e ainda sim o próprio Choi não expressar porcaria nenhuma sobre isso. A intenção dele certamente não era frustrar ninguém ou desprezar todas as preocupações, entretanto mostrar-se inabalável também não estava sendo uma boa estratégia até então. Claro, isso controlava o caos e o medo generalizado, os outros agentes não próximos de Youngjae sentiam-se confortáveis em vê-lo tranquilo, mas os meninos sabiam que era uma farsa.

As mãos dele tremiam mais do que o normal agora, Jaebum podia perceber, mas isso não se devia apenas ao que faria dentro de alguns dias. Com a aprovação total do plano, ficou decidido que a equipe que iria invadir a prefeitura seria metade anjo e metade demônio, assim ficaria justo. Os agentes escolhidos seriam sorteados entre os melhores dentro de algumas horas, então todo mundo estava ainda mais pilhado por conta disso. Youngjae não queria que ninguém dos meninos fosse, ele precisava ser sincero, mas como líder obviamente não alteraria nada ou faria de sua vontade algo maior do que as escolhas do destino. O número de possíveis candidatos do lado Hell era bem menor e todos os seis estavam na lista, as chances de mais de um dos garotos ser escolhido era grande, o Choi sabia, mas tinha fé que tudo daria certo.

O plano até então era simples: no meio da noite, um pouco depois das onze, os hackers experientes do lado Heaven invadiriam todas as TVs, outdoors, hologramas e meios de comunicação de vídeo e áudio. Youngjae estaria pronto para falar, anunciar que era um rebelde e, de certa forma, educar a população duvidosa sobre o que os rebeldes realmente queriam com todos esses movimentos. Enquanto isso, em um grupo pequeno de dez pessoas, os agentes silenciosamente iriam invadir o prédio da prefeitura, que teoricamente já estaria vazio tirando os guardas, e iriam extrair o máximo possível de informações dos grandes bancos de informação impenetráveis que eles mantinham por lá. O objetivo principal era ganhar sem lutar; se conseguissem informações boas o suficiente, ou perigosas o bastante para não puderem ser vazadas, o grupo tentaria negociar, ou chantagear, as pessoas gananciosas no poder e mandá-las para longe. Se houvesse resistência mesmo com a ideia de um acordo pacífico, certamente haveria luta.

Os estrategistas do lado Heaven contavam com a popularidade de Youngjae para convencer os indecisos a apoiarem os rebeldes. Em seu discurso, que basicamente seria feito apenas para distrair as pessoas enquanto o grupo de agentes iria invadir, o Choi convocaria uma manifestação inicialmente pacífica para algumas horas depois de seu comunicado. Esperavam que as pessoas tomassem os centros da cidade vestidas de preto e rumassem até a prefeitura, cercando-a por completo com seus gritos e insatisfação, o que atrapalharia uma perseguição caso o grupo de agentes fosse pego ou noticiado, afinal os poderosos não poderiam ordenar que os agentes do governo perseguissem os rebeldes entre as pessoas, ainda mais portando armas, isso seria um escândalo e faria a percepção popular ainda pior.

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