17. Lago

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— Filho, você entende que não é assim que as coisas funcionam, não entende? — Hagrid disse gentilmente, agora com ainda mais pena do garoto. Albus dera um pulo da cadeira quando pensou em fênix. Achava que tinha encontrado a solução para todos os pesadelos que lhe atormentavam durante as últimas noites. Hagrid balançava a cabeça com dó. "Pobre garoto, mergulhado em ilusões" pensava consigo mesmo, enquanto Albus andava de um lado para o outro em sua minúscula sala.

— Hagrid, como isso pode não funcionar? Lágrimas de fênix são poderosas quando se trata de curar! — Albus sentia a empolgação crescer em seu peito. Recusava-se a acreditar que sua ideia era falha.

— Veneno. Lágrimas de fênix tem forte efeito sofre venenos, cortes, ferimentos não encantados. O que há com Scorpius... O que há com Scorpius é diferente. Maldição antiga. Poderosa — Hagrid suspirou — Não há lágrima de ninguém que possa resolver tal feitiço. Eu sinto muito, Albus. Sinto muito mesmo.

Albus sentiu o coração falhar por um leve segundo e voltar de repente com uma dor imensa e inexplicável. Os olhos se encheram de lágrimas e no pulmão faltou-lhe ar. Sentia como se estivesse sendo sufocado. Não conseguia falar, apenas balançava a cabeça em rápida negação.

— Eu sinto muito — repetiu Hagrid em um sussurro.

Albus se apressou para a porta e saiu apressado pelo gramado úmido de orvalho, deixando a cabana de Hagrid para trás. Não prestou atenção se deixara a porta aberta ou fechada, apenas saiu correndo o mais rápido que podia para o mais longe que pudesse alcançar, o vento gélido da manhã batendo contra o rosto molhado de lágrimas que já não podia mais controlar. E ele não queria controlar.

Albus correu sem prestar atenção no caminho e não notou quando passou a correr pelas margens da floresta proibida. Não enxergava nada a sua frente, estava preso em seus pensamentos. Pensamentos de uma vida dolorosa sem Scorpius. E então ele parou. Chegara à margem do lago. Albus se jogou de joelhos e ficou ali imóvel, as lágrimas ainda descendo pelo rosto enquanto a água do lago se aproximava dele.

Cinco minutos se passaram ali. Depois dez. E então quinze. Vinte minutos depois, Albus já não tinha mais lágrimas para chorar, mas continuava na mesma posição, os olhos fixos em algum lugar além do lago, os pensamentos ainda presos em Scorpius.

Crepitar de galhos partindo e pedras sendo pisadas soaram atrás do garoto, mas ele não pareceu se importar. Scorpius se sentou ao seu lado e passou o braço direito em volta de seus ombros. Albus não virou para olhá-lo.

— Como me achou aqui? — perguntou em uma voz fraca e rouca.

— Te observei correr pelo vidro mágico — Scorpius respondeu em uma voz calma e baixa.

— Vidro mágico? Que vidro mágico?

— Aquele atrás do sofá no nosso dormitório.

— É uma janela — Albus respondeu, ainda não conseguira encarar Scorpius.

— Como poderia ser uma janela, Albus? Nosso dormitório fica embaixo deste lago — Scorpius respondeu ainda calmo, um riso lhe apareceu nos lábios, achando graça do fato de Albus nunca ter notado a verdadeira finalidade do objeto.

Albus enfim virou para encarar o garoto ao seu lado. Scorpius estava pálido. Sorria, mas ainda parecia doente. A bochecha que fora corada um dia agora estava sem cor. Os lábios rosados estavam quase cinza. Mas os olhos... os olhos continuavam azuis brilhantes. Eram naqueles olhos que Albus enxergava a esperança.

Albus aproximou o rosto ao de Scorpius e lhe deu um beijo. Não um beijo qualquer, mas o beijo mais apaixonado que havia dado desde o início. Scorpius segurou seu rosto com as duas mãos puxando Albus para mais perto. Pela primeira vez desde que saiu da cama naquela manhã, Albus se sentia aquecido.

Eles ficaram por um longo tempo naquele beijo, até não sobrar nada de seus fôlegos. Quando enfim se afastaram, os olhos de Albus voltaram a marejar.

— Precisamos falar sobre isso — disse Scorpius, seus dedos passeavam pelo rosto de Albus. Scorpius fechou os olhos, respirou fundo e quando tornou a abri-los, disse: — Albus, eu te amo. Mas eu vou partir a qualquer momento. E você precisa entender...

— Eu preciso entender? — Albus se exaltou — Como eu posso entender ISSO?

Scorpius virou para o lado oposto de onde estava Albus. Podia ver a silhueta do castelo de onde estava. Assim como podia ouvir os soluços chorosos que Albus tentava controlar.

— Eu amo você — Albus sussurrou com dificuldade — Amo de verdade. Tenho uma vida planejada com você.

Scorpius virou-se novamente. Albus estava de olhos fechados, respirando fundo afim de controlar toda a dor que emergia em seu peito.

— Você tem? — Scorpius perguntou e viu Albus, ainda de olhos fechados, assentir com a cabeça.

Scorpius se esticou e beijou Albus, que se assustou, mas o beijou de volta.

Scorpius sentiu um calor crescer em seu peito. As mãos voltaram a segurar o rosto de Albus, que lentamente caiu para trás, ficando de costas no chão de terra e cascalhos. Scorpius, que ainda não desgrudara do beijo, apoiara o corpo por cima, e sentiu a pele arrepiar quando Albus passou as mãos geladas por dentro de sua blusa, subindo da cintura até as costelas, e depois voltando. Albus enfim terminou o beijo.

— Como pode agir assim sabendo do que pode acontecer? — disse Albus, a sobrancelha franzida encarando um Scorpius que suspirava em cima dele.

— Como pode não querer aproveitar cada minuto sabendo do que pode acontecer? — rebateu Scorpius, e Albus se chocou ainda mais.

— Quem é você e o que fez com o meu Scorpius?

— Seu Scorpius?

— Só se você quiser — sussurrou Albus.

— Claro que quero — Scorpius respondeu, voltando a beijar Albus, que deixou escapar um leve sorriso. Scorpius pressionou o quadril contra o de Albus, que suspirou e sentiu aquela sensação gostosa de quando estavam no armário de vassouras.

Eles não sabem por quanto tempo ficaram ali. Tempo suficiente para o rosto de Albus desinchar das lágrimas, talvez. A única coisa que notaram é que o Sol já estava completamente visível quando deitaram lado a lado na beira do lago, as roupas sujas e amarrotadas.

Scorpius pegou a mão de Albus, e juntos entrelaçaram os dedos. Eles olharam um para o outro, Albus com um sorriso fraco, Scorpius com um sorriso que dizia "está tudo bem".

— Quero fugir com você — comentou Scorpius, a voz calma, rosto voltado para o céu matutino.

— Quê? — Em um susto, Albus se sentou e encarou Scorpius, que continuava deitado em cascalhos.

— Albus, se eu estiver para morrer... quero que meus últimos dias tenham valido a pena.

Albus sentiu o coração murchar. O sorriso leviano de minutos atrás desaparecera. Scorpius estava chorando.

— Scorpius, não podemos. Por mais excitante que seja essa sua rebeldia repentina, não podemos ir. Precisamos ficar onde é seguro para você.

Scorpius fechou os olhos e respirou fundo, mas isso não impediu as lágrimas de descerem pelas têmporas.

Albus segurou-lhe os ombros e pôs Scorpius sentado. Eles se olharam nos olhos, depois Albus lhe deu um beijo na testa. Os dois ficaram abraçados por um tempo, Scorpius encolhido no peito de Albus.

— Eu estou com tanto medo. Tanto medo, Albus.

— Eu sei. Eu também.

Todo o clima de efêmera rebeldia adolescente havia passado. A dor e o medo da perda voltara a assombrá-los.

***

NOTAS: Oi, galerinha que gosta de uma fic Scorbus. Pra quem quer atualização, deixe aí nos comentários o melhor horário/dia pra eu estar postando.

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 Já tenho TRÊS capítulos prontos, mas apenas UM publicado. Assim que tiver gente lendo, posto o próximo. É uma vibe um pouco diferente dessa aqui, juro juradinho que vocês vão gostar!

Spells | ScorbusDove le storie prendono vita. Scoprilo ora