Carinho

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Alguns dias se passaram. Entre as ondas de crime e as constantes visitas da dupla de amigos ao rapaz no hospital, uma certa proximidade foi formada ali entre os três, especialmente entre América e Rússia, cujo rapaz pálido sempre ía com maior frequência e sem falta rever o rubro em seu quarto e levar coisas para ele, sejam roupas ou apenas ía para conversar, mesmo que este não fosse a melhor companhia para se puxar um bom assunto. Brasil também não ficava para trás e fazia questão de aproximar os dois, faltando em algumas visitas para que o "casal" pudesse ficar sozinho e os incentivando a passarem mais tempo juntos do que já costumavam fazer.
Todavia, apesar da intimidade já construída entre o trio, que poderia até se arriscar a ser chamada de amizade, o jovem soviético ainda se negava a falar sobre o ocorrido consigo que o levou a chegar a tal estado um mês atrás naquela praça, esfaqueado e ensanguentado no meio da rua, e menos ainda se referia à sua família ou seu passado, sequer tocava no que remetia aos acontecimentos ligados aos crimes cometidos por eles, o que de certa forma era um tanto complicado com a onda de assassinatos que vinham se estendendo pela região durante aquelas semanas, cercando o rapaz que sabia muito bem a causa deles: eram avisos, ele não estava sozinho.

Era uma tarde de sexta feira, como já era de costume, América ficava no hospital antes de ir para a faculdade - ou faltar às aulas para fazer companhia a Rússia pelas costas de seu pai - e mais tarde voltava para casa. Por raras vezes havia passado a noite ali com o soviético quando este acabava aceitando sua companhia, pois o mesmo preferia ficar sozinho consigo mesmo na maior parte do tempo. Estava assistindo o jornal naquele dia pela TV da recepção enquanto tomava um café na lanchonete ao lado, apoiado sobre o balcão ao mesmo tempo em que via a reportagem. Mais uma morte havia sido registrada.

Eua: Caralho...Se meu pai souber que eu tô cuidando de um deles aí sim que ele não me deixa sair de casa - pensava - Ele anda preocupado com todas essas mortes acontecendo aqui por perto - bebia o café.

Mais corpos eram encontrados à cada semana, todos sempre pelas redondezas e com a tal marca em seus olhos, o título da reportagem escancarava bem os principais suspeitos de tais crimes: "Inferno soviético: vítimas sofrem com a injustiça do silêncio".
América pensava em como Rússia se sentiria quando saísse para a rua com toda aquela confusão envolvendo o sobrenome de sua família. Terminou seu café o qual pagou na lanchonete e voltou para o quarto onde o rapaz passava seus últimos minutos antes de receber alta. Ele girou a maçaneta abrindo a porta e adentrou no local, encontrando o mesmo vazio para seu espanto, bem diferente de como deveria estar.
Eua: Rus?...- falou fechando a porta e andando pelo quarto - Meu Deus do céu, onde ele tá? - pensava.
América olhou em baixo da cama, conferiu a tranca das janelas e até mesmo as paredes para se se encontrava algum indício de fuga ali, falhando em sua procura e então se voltando à porta do banheiro, sua última esperança, a qual, devido à preocupação, abriu sem antes pensar em bater.
Rus: Ei! - exclamou puxando uma toalha para se cobrir, ele estava todo molhado, com certeza havia acabado de tomar um banho.
Eua: F-Foi mal! - disse extremamente envergonhado com as bochechas num tom avermelhado virando seu rosto bruscamente e pondo a mão sobre o nariz que começava a sangrar.
Rus: Bate na porta antes de entrar! - falou enrolando o cobertor em volta do quadril.
Eua: E-eu fiquei preocupado!
Rus: Preocupado com o quê, cara? Eu só tava tomando um banho - falou num tom e expressão sérios.
Eua: N-nada não, só não pensei direito quando não te vi no quarto.
Rus: E como você vai ficar depois que eu for embora? Vai surtar?!
A feição de América se alterou rapidamente e ele mirou o maior esquecendo de todo o constrangimento anterior, estático.
Eua: Embora?
Rus: Claro, eu não vou ficar morando na casa do Brasil pra sempre.
Eua: Sim, m-mas pra onde você vai?
Rus: Eu não sei. Pra algum lugar bem longe daqui.
Eua: Mas eu pensei que...que você iria ficar aqui com a gente.
Rus: E viver num lugar cercado por gente me julgando e com minha própria família tentando me matar?
Eua: A gente vai dar um~
Rus: Não, América, vocês não vão dar um jeito. Não tem jeito pra isso - o interrompeu, falando duramente.
Eua: É que eu...queria que você ficasse aqui conosco.
Rus: Eu vou ficar por perto por um tempo, não vou achar um hotel onde as pessoas queiram hospedar um cara como eu tão rápido assim. Só depois vou conseguir ir.
Eua: É...talvez sim...

Amor em CaosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant