o toque

1K 127 9
                                    

Rafaella - POV

- Você pode ficar? - Ela me olhou com a cara mais pidona do mundo. - Não quero ficar sozinha. - Tomou mais um gole do chá e me encarou novamente. Suspirei.

- Ok, eu fico. Mas só se você beber tudo. - Sentei na cama ao lado dela e cruzei os braços esperando-a terminar de tomar o líquido azul.

- Pronto.

- Boa garota. Agora vai melhorar rapidinho. - Peguei a caneca de suas mãos e coloquei em cima do móvel ao lado da cama. De alguma forma ou insistindo, eu quis aninha-la em peito para fazê-la dormir, e para minha surpresa, ela mesma o fez. Acho que não era um sentimento meu, e sim uma vontade dela que eu pressenti. O bloqueio dela comigo estava enfraquecendo? Sorri, aquilo era bom para nosso trabalho juntas.

- Obrigada, Rafa. Você é um anjo.

- Afinal de contas, não é? - Fui sarcástica e pude ouvir seu riso baixo. - A cabeça ainda está prestes a explodir?

- Não, já está melhorando. Ainda incomoda, mas não como antes.

- Eu te disse que ia melhorar logo. Não há nada melhor do que algumas gotas do elixir de um cupido. - O quarto ficou em silêncio por alguns minutos.

- Rafaella... - Bianca chamou meu nome de repente, quando eu pensei que ela já estivesse dormindo. - Lembra quando eu perguntei das suas asas? Que você era um anjo cupido mas não as tinha e, você me disse que tinha?

- Lembro perfeitamente do grito que você deu quando me conheceu. É claro que sim. - Ela se desaconchegou e sentou na cama, eu fiz o mesmo.

- Posso vê-las? - Me assustei de leve com sua pergunta. Fiquei nervosa por algum tempo, eu nunca tinha mostrado minhas asas a nenhum dos humano que trabalhei, eu até brincava que eles só veriam quando eu quisesse, mas na real, nunca foi preciso e nunca me pediram para vê-la antes. - Nossas asas são algo muito particular. - Expliquei.

- Ah... me desculpa. Não queria te deixar desconfortável.

- Não, você só me pegou de surpresa, mas tá tudo bem. Eu te mostro.

- Mesmo? - Não a respondi, apenas levantei e tirei meu casaco junto a blusa que estava por baixo, ficando apenas com um top branco. Nem eu mesma acreditava que no estava prestes a fazer. Bianca estava voltando toda atenção do mundo em mim, e eu pude sentir minhas bochechas queimando no mesmo instante. Fechei meus olhos e me concentrei alguns segundos, e então, lentamente senti elas saindo de minhas costas e se fechando em volta do meu corpo, como uma especie de escudo de proteção. A sensação era incrivelmente boa, só de tê-las ali, soltas.
Aos poucos fui as abrindo e me virando mais de lado, para que Bianca pudesse observar melhor. Dei 3 batidas de leve, fazendo uma brisa suave ir de encontro ao rosto da morena. Parecia encantada, nem piscava.

- E então? O que achou?

- Rafa, elas... são perfeitas. -Ela respondeu sorrindo. - São lindas!

Aquele momento meu nervosismo já tinha sumido e me sentia estranhamente muito feliz. - Quer toca-las? - Espera, o que eu tinha acabado de perguntar? Foi automático. Bianca nem ao menos hesitou, e em pouco, já estava levantando da cama e se aproximando de mim, mas bem devagar e com todo cuidado, como se as asas fossem quebrar se ela ficasse perto demais.

- Okay, pode tocar, elas não vão se desfazer. Toque sem medo. - Estiquei uma das asas até mais perto dela, e então ela assentiu com a cabeça. Bianca tocou apenas com o dedo indicador, bem de leve, e depois foi passando todos os dedos até ter as penas branco-peroladas em suas mãos. Nesse instante, um arrepio cortou minha coluna até morrer em minha nuca, senti como se minha vida e meu mundo dependesse daquele toque. Fechei meus olhos querendo eternizar aquele momento, pois em meu peito, aquilo era diferente de tudo que eu ja havia sentindo em milhares de anos.

Nunca soube como era ter alguém tocando suas asas, mas definitivamente, iria lembrar de perguntar isso a Eros. Pois quando Bianca retirou suas mãos, eu juro que quis pedir para ela fazer de novo, mas me contive.

- São muito macias e bonitas, você não deveria esconde-las de mim, cupido. - Ela sorriu. - Nunca irei esquecer disso, foi incrível.

- Preciso. - Expliquei sobre seu primeiro comentário e assenti com a cabeça, guardando minhas asas logo depois. Ela voltou para a cama e eu vesti minha camiseta outra vez, deitando ao seu lado logo em seguida.

- Pronta pra dormir agora?

- Me sinto bem melhor. Boa noite e obrigada por ser tão incrível comigo, Rafa. - Cobri seu corpo com o edredom e sorri vendo-a fechar os olhos. Após, deitei minha cabeça no travesseiro e fiquei olhando para o teto, ainda sentindo a sensação esquisita que jamais tinha sentido antes.
Eu não iria dormir, não precisava. Cupidos não sentem sono, mas eu gostava de fechar os olhos e imaginar somo seria isso.

Brigdes Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz