Castigo Perpétuo

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Rafaella - POV

Tive bastante tempo para pensar, horas haviam se passado, no plano terrestre já era noite, provavelmente, e Thelma já tinha feito seu trabalho. Isso me fez chorar, sabe... imaginar como Bianca acordaria sem lembrar de mim. Mas, talvez fosse melhor dessa forma, porque provavelmente, eu irei morrer hoje. Não era como se algo muito diferente fosse acontecer, todo mundo já sabia o destino de quem burlava a lei máxima, em alguns casos, alguns cupidos tinham o direito de ficar apenas exilado, eu tinha, mas não queria, e não suportaria passar pela reabilitação e continuar vivendo sem esperança alguma.

Não podia viver sabendo que fui poupada apenas por ser filha de quem sou. Se meu destino fosse encarar o que estava prestes, eu iria.

Como eu já esperava, Eros, Harmonia, minha mãe e Babu foram afastados do conselho. Eles não poderiam participar do julgamento, pois eu sou da família, e sentimentos podem interferir. Mas pelo menos recebi a visita deles, talvez a última. Eu falei tudo que meu coração quis, caso contrário eu explodiria. Desabei, desabafei, fiz Babu e minha mãe contarem toda verdade para Harmonia, fiz Eros prometer que nunca deixasse nenhum mal acontecer com nossa irmã, assim como fiz com Babu, e minha mãe chorou. Ela chorou porque mesmo que eu não fosse condenada a morte, no fundo, já sabia que eu nunca mais seria a mesma se passasse pela limpeza.

E eu? Eu apenas pedi para que todos eles me perdoassem pelo que iria acontecer, e abracei cada um como se fosse a derradeira vez que fazia aquilo. Quando todos já iam embora, pedi para que Eros ficasse um pouco mais comigo, queria conversar a sós.

— Eu ainda não acredito que tudo isso está acontecendo, Rafa, eu não acredito que você realmente fez isso. — Ele não estava me julgando, pelo contrário, seu olhar era o mais terno possível. Eros era meu porto seguro. Então, pela milésima vez naquele dia, eu me permiti chorar, agora em seus braços.

— Você me desculpa? — Era a única coisa que eu podia perguntar. — eu a amo, irmão. Eu não consegui controlar.

— Shiiii. Ta tudo bem. Tudo vai ficar bem. — Ele me apertou contra seu peito e afagou minha cabeça com cafunés.

— Eu fui feliz como nunca fui em toda minha vida. Eu não me arrependo do que fiz, Eros. Eu amo a Bia e se pudesse fazer tudo outra vez a amaria de novo. — Fui sincera, ainda aos prantos, eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia fingir ser forte ao lado dele, eu me sentia segura para mostrar meu lado totalmente frágil e quebrável.

— Eu sei que você a ama, eu sinto isso, Rafa. Vocês não tinham como negar isso uma para a outra, estava acima de nossos poderes, e você também sabe disso. Nunca poderia ter sido de outra forma. O destino de vocês foi selado, nós apenas tentamos evitar o inevitável.

— Eu sei... Mas, agora eu não tenho muito tempo. — Me soltei de seu abraço e enxuguei as lágrimas que ainda molhavam meu rosto. Sentei na cama e ele me acompanhou. — Preciso que você me prometa algo.

— Pode me dizer, sabe que eu faria qualquer coisa pra te ajudar.

— Eu não vou deixar que me julguem. Eu mesma vou escolher.

— Rafaella, o que você está pens...

— Castigo perpétuo. — Disse firme antes que ele terminasse sua frase.

— Não, você não vai fazer isso! —Eros levantou e pos as duas mãos na cabeça.

— Vou, e você nem ninguém podem me impedir de fazer-lo. Eu posso escolher, não posso? Então, já decidi. Não vou passar pela limpeza, nem vou ser exilada no tártaro.

—Eu não posso deixar que faça isso. Rafaella, você vai morrer.

— Esse é o ponto, Eros. Mas, e SE, eu não morrer? Eu vou ser banida daqui. E é exatamente o que eu quero.

— Se não morrer depois do que fizerem com você, vão te tornar um anjo caído, sabe disso. Você nunca mais será a mesma.

— Eu nunca mais vou ser a mesma em todo caso, Eros. NUNCA. Então é melhor eu tentar voltar, ou morrer logo de uma vez. Me deixa te explicar.

— Conta logo o que tem em mente. Com vou poder te ajudar se vou estar afastado?

— Eu vou dar um jeito de sobreviver, e assim que eu for banida, preciso que você esteja na terra. Você sabe o que vai acontecer comigo, eu vou estar cheia de ódio, rancor, e tudo de ruim que existe, e é por isso que você vai fazer aquilo.

— O aquilo que você fala, é AQUELE aquilo?

— É, lembra que nós estudamos sobre, uma vez? Pode dar certo comigo. Eu mesma faria, mas não posso. Tem que ser você.

— Mas, Rafa, eu nunca fiz aquilo antes, nem você. Como podemos ter certeza que dará certo?

— Não vamos ter até tentar, irmão.

Eros ia revidar minha fala, mas ouvimos passos se aproximando. Provavelmente já tinha chegado a hora do julgamento.

— Promete que vai fazer isso por mim?

— Prometo que vou fazer tudo que estiver ao meu alcance.

Quando os guardas chegaram para me buscar, Eros me abraçou e sussurrou em meu ouvido. — Faça o que seu coração mandar, e não tenha medo. Eu vou estar aqui ou lá por você.

— Eu te amo, irmão, e obrigada por ser a minha pessoa. A melhor que eu poderia ter.

— Também te amo, Rafaella. 

E então abriram a cela para me carregar d'ali para fora.

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