Acho que esse seja o Fim

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Bianca - POV

Que horas eram? A luz que entrava pela janela aberta era forte demais para me deixar dormir.

Tudo parecia normal demais, como se eu tivesse acabado de acordar de um sonho. Um daqueles que você só sonha uma vez da vida, e são inesquecíveis. Sorri lembrando do meu, e sentei na cama me dando conta de que não havia sido um. Olhei para o lado procurando a minha cupido e não a vi. Então, meu mundo caiu.

Havia apenas o vazio. Ela não estava lá.

Rafaella tinha partido da minha vida para sempre, mas eu ainda conseguia sentir o gosto do seu beijo em minha boca, seus toques em meu corpo, e a maciez de suas asas em minhas mãos. Conseguia lembrar nitidamente de cada palavra que ela sussurrou em meu ouvido, de todas as nossas carícias e promessas, da sua respiração... tudo isso como se ela ainda estivesse aqui comigo, pela eternidade.

Foi então que me dei conta que estava chorando, enquanto passava um pequeno filme meu e dela na minha cabeça, todas as nossas memórias juntas, desde a primeira vez que nos vimos, desde o primeiro susto,  até o nosso amor noite passada. Por que? Por que ela tinha que ir embora, se tudo que sentíamos uma pela outra era amor?

— Eu te amo, Rafa. — Murmurei enquanto abraçava minhas próprias pernas, com a cabeça apoiada nos joelhos, na esperança que ela ainda pudesse ao menos me ouvir. Mas era ainda mais doloroso, saber que eu jamais conseguiria escutar sua resposta outra vez.

Rafaella - POV

— Eu também te amo, Bia.

Ela estava sentada na cama, chorando por mim, e eu ao seu lado chorando por ela, sem que ela pudesse me ver, ouvir ou sentir. Aquilo me deixava no chão, completamente.

— Eu não te deixei, meu amor. Eu ainda estou aqui, mas você não pode me ver mais.

E eu queria ficar, juro que se pudesse, ficaria para sempre, mesmo que ela não conseguisse mais me sentir, ou me ver, mesmo que ela seguisse em frente... Eu queria estar do lado dela para acompanhar e aplaudir cada conquista e suas felicidades. Eu só queria ter certeza de que Bianca fosse ficar bem, e que fosse feliz.

Então, alguém apareceu perto da janela. — Rafaella, criança... — Ergui minha visão me atentando ao chamado. O anjo da guarda de Bianca estava lá, e para minha surpresa, era Thelma, com suas asas escuras como a noite, observando nossa situação com o olhar triste, e não com reprovação. — Então é você quem cuida dela? — Perguntei.

— Sempre. — Anjos da guarda cuidam de seus humanos desde o momento que nascem, e naquele instante, eu senti que Thelma amava Bianca como filha desde seu primeiro dia na terra, cuidou e a protegeu, mesmo que a distância. E, como uma mãe, ela sentia a dor e o peso de cada lágrima de Bia naquele momento.

— Eu só quero que ela fique bem. — Eu me levantei e corri para os braços da guardiã, chorando como nunca. —Me desculpa. — Eu nem sabia porque estava me desculpando, mas talvez fosse pelo fato de ter trazido dor para alguém que ela tanta amava.

Ela me soltou do abraço e segurou meu rosto com as duas mãos, me afagando com carinho. — Rafaella, você fez a minha menina feliz! Você a ensinou muito em pouco tempo. Você quem fez ela acreditar no amor outra vez, e a fez enxergar as coisas com outros olhos, e eu vou ser eternamente grata a ti por isso. — Ela sorriu gentil e continuou. — Farei o que precisa ser feito, mas estou aqui para garantir que ela fique bem, não se preocupe.

Assenti para Thelma e dei um sorriso quase imperceptível, mas que na verdade, não queria dar. Thelma apagaria a memória de Bianca e tudo que fosse relacionado a missão ou a mim. Ela simplesmente dormiria outra vez, e quando despertasse, seria como se eu nunca tivesse existido.  — Preciso partir agora, não é?

— Eles já estão esperando seu tempo esgotar para descerem.

Eu nem tinha mais forças para enxugar as lágrimas, deixava elas caírem livremente enquanto dava minha última olhada em Bianca, que ainda chorava, e agora estava agarrada fortemente com o travesseiro do ''meu'' lado da cama.

Eu sabia que se demorasse mais, eles viriam me buscar a força, então o melhor que eu podia fazer, era me entregar de vez. Olho para o meu relógio pronta para aperta-lo, mas quando finalmente o faria, eu hesito — Não consigo,Thelma. Eu não consigo deixa-la.

— Rafa, se você não for agora só vai piorar a situação. Você quer da maneira fácil ou difícil? Eu sei que você a ama, e sei o quanto você está quebrada agora, criança. Mas será melhor para as duas. — Thelma faz um movimento com as asas e provoca uma brisa leve dentro do quarto, o que acaba derrubando alguns papeis de cima da cômoda, e com eles, meu desenho cai junto. Bianca se assustou de leve, mas logo seus olhos fixaram no desenho, ela levantou e o pegou, apertou contra seu peito como se fosse algo muito precioso. E novamente eu chorei.

Thelma fez sinal positivo com a cabeça e eu assenti antes de criar coragem para acionar o disposito. A agradeci por ficar cuidando de Bianca e deixei que meus olhos vissem minha amada pela última vez. Então eu o faço, mas Bianca vai ficar bem, ela vai ficar bem. Eu precisava ter algo em que acreditar antes de desaparecer d'alí para todo o sempre.

— Vou estar sempre com você.

Brigdes Where stories live. Discover now