Por nossos filhos - baseado na música de Zé Neto e Cristiano

Capítulo 9. A dança da paixão

"Mas quando eu te vejo com ela, a minha mão gela, minha boca vai secando, eu vou ficando muda".  - Marília Mendonça.

Minha festa de 15 anos se aproximava e meu sentimento por Guto ficava cada vez mais intenso, porém, ele não sabia e nem tínhamos chance. Aliás, éramos melhores amigos. E novamente eu entrava nesse drama de friendzone. Éramos melhores amigos que já tinham se conhecido de outra maneira. E que maneira deliciosa!   

Fui contar os detalhes da resenha e daquele maldito beijo para Any: 

__ E foi desse jeito, amiga, mas a nossa amizade continua forte e não abalou. Não quero me iludir, foi totalmente sem apego e sem compromisso. Só um beijo.   

__ Amiga, seus olhos estão brilhando. - disse Any reparando como eu contava os detalhes.   

__ Tá pirando, amiga? Foi total sem apegar.   

__ Isa, eu acho que você tá gostando dele.   

__ Não, amiga. É porque ele é um amigo muito especial. Gosto demais dele nesse sentido.   

Any soube ler dentro de mim e descobrir que eu estava apaixonada quando eu mesma nem tinha certeza.   

•••   

Fazia tanto tempo que eu não sonhava com outro garoto desde o meu passado turbulento com Theo. Entretanto, Deus decidiu permitir que Guto viesse me encontrar nos sonhos. Não eram sonhos românticos. Comecei a sonhar muito com ele, e olha que eu nem costumo lembrar do que sonho. Nessas cenas que aconteciam enquanto eu dormia, Guto sempre chorava muito, e era triste. Eu nunca entendi esses sonhos, mas mal sabia que era intuição. Foi aí, que pouco tempo depois descobri que Guto era depressivo, pensava até em tirar sua própria vida.   
Não lembro ao certo como eu descobri isso, ele não se abria facilmente. Mas desde então eu comecei a cuidar dele, como uma parceira mesmo. Eu me preocupava, insistia em mandar mensagens todos os dias, mesmo quando ele me ignorava. Comecei a dar abraços muito mais fortes nele. Coloquei a notificação de mensagens dele como personalizada, pois teria um toque diferente das demais mensagens e era um toque muito mais alto para garantir que se eu tivesse dormindo eu acordaria.   

Em alguma de suas crises eu acordei com o toque de sua mensagem de madrugada, e logo despertei. Fui tentar ajudar com tudo que eu tinha em meu coração. E eu falava muito do espiritual. Acredito que somente Deus pode preencher o vazio de nossas almas, não importa a causa e o tamanho da dor.   
Guto até se acalmava as vezes, mas eu sempre ia dormir com medo de acordar com a notícia de seu suicídio. Suas crises tiravam toda a sua estabilidade emocional e aquilo me preocupava muito. Eu orava todos os dias pra Deus não deixar ele fazer nenhuma besteira. E enquanto eu tentava cuidar de Guto, eu ia me apaixonando sem nem perceber. Era só o papel de amiga que eu estava cumprindo, mas meus sentimentos não entenderam isso. Fui cometendo esse erro sozinha, estragando de certa forma a nossa amizade. Eu sentia uma vontade oculta de cuidar dele de verdade, vontade de quando essas crises viessem eu pudesse ir em sua casa e o abraçar, dizer que sempre estaria com ele. Eu sentia vontade de poder tentar fazê-lo um pouco mais feliz dia após dia. Minha insegurança comigo mesma, com minha aparência não me permitiam assumir meus sentimentos por ele.   

•••   

A escala dos alunos fiscais do próximo ano sairia naquela semana. Era o maior sonho do Guto naquele colégio. Nunca vi ninguém desejar tanto ser aluno fiscal. Os militares foram falar com a gente sobre os fiscais do próximo ano e que iríamos ter que treiná-los. Eu não tinha dúvida que iria escolher treinar Guto e Arthur. Mas, aí obtivemos a lista com o nome dos escolhidos... Arthur passou na seleção, mas Guto não. Eu já imaginava que isso seria um problema, deixaria ele muito triste não ter conseguido.   
Entrei na sala de arquivos. Tranquei a porta enquanto os militares estavam em reunião e procurei a ficha de inscrição do Guto, e descobri que ela nem foi para a votação.   
Eu quis saber o motivo e fui juntamente com a minha amiga Any falar com o militar responsável. Descobrimos que a culpada do sonho de Guto não ter sido realizado era a Sophy. Quando ela terminou com ele, fez sua mãe ir na escola fazer a cabeça dos responsáveis pelo colégio, insinuando que Guto não era um bom aluno. Além disso, Sophy contou para a coordenadora que Guto havia traído ela, manchando ainda mais a imagem dele.