Capítulo 13. A dor semelhante

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         "Porque quando o sol brilhar, brilharemos juntos. Disse que estaria aqui para sempre. Disse que sempre serei uma amiga. Fiz um juramento, eu vou aguentar até o fim". Ember Island - Umbrella   

Me aproximei muito de Nicolay. A gente queria que Heitor e Caua, nossos amigos, ficassem juntos, e isso nos uniu. A operação cupido. Certa madrugada, eu percebi que Nicolay gostava muito de alguém, a ponto de ser bem safadinha. Eu me lembrei do dia que vi Guto a cumprimentar e que ela havia sentido uma tensão. Ousei e perguntei, depois de dizer que ela poderia confiar em mim:  

__ Nic, você gosta do Guto, né?   

__ Ai, amiga, sim, infelizmente.   

Puts, ela foi sincera comigo logo de cara. Se fosse eu no lugar dela não teria confiado esse segredo para a melhor amiga do meu crush. Porém, Nicolay era assim. Confiava nas pessoas, fazia de tudo para não magoar ninguém, era sensível, era meiga, gostava de ajudar e o principal: era intensa. O único problema disso tudo é que Nicolay é igual a mim. Encontrei nela uma pessoa que me entenderia, porque era como eu. Na Nic, encontrei uma espécie de metade, um encaixe perfeito do meu jeitinho de ser. E foi aí que percebi que não podia magoá-la. Ela confiou em mim e me contou a sua versão da história com Guto. Ela estava totalmente apaixonada por ele. Eu não podia perder mais uma amizade por causa de menino, como a de Juliana que perdi por causa do babaca do Theo. Então, decidi que jamais contaria a Nicolay do que havia acontecido entre Guto e eu. Guardei meus sentimentos só para mim, deixei os dela continuar florescendo. Nic nem imaginava que eu sabia exatamente como era aquele beijo gostoso que ela descrevia.   

   
Eu sabia que Guto ainda tinha suas crises depressivas, sabia que ele precisava se apaixonar e amar alguém que colorisse um pouco a sua vida. Mesmo que me causasse profunda dor, tinha noção de que eu nunca seria capaz de fazer Guto ser feliz e muito menos se apaixonar por mim. Sempre sentia que ele era muita areia pro meu caminhãozinho. Foi aí que comecei o apoiar com a Nicolay. Se eu não seria capaz, desejava que Guto fosse feliz com alguém que verdadeiramente o amava. Nic era intensa e ela saberia amar e valorizar Guto. Nicolay era linda, seu cabelo cacheado era um charme, seu corpo lindo, altura perfeita. Ela era perfeita física e interiormente pro meu "melhor amigo".   

Guto estava vivendo um verdadeiro triângulo amoroso, ficava com Sophy e com Nic. E eu sempre falava que apoiava a Nicolay para ele, a desejava pra ele. Ele dizia que talvez futuramente, mas que não se via namorando tão cedo.   

Poucos dias depois daquela festa na piscina, a qual rolou o maior beijão entre Guto e eu, marcamos de ir no parque de diversão da cidade com Arthur. Seria um passeio do nosso trio. As 8:00h da manhã, Arthur e Guto chegaram em minha casa, para irmos juntos ao parque. Abracei Arthur e em seguida um abraço forte em Gu, onde as batidas do meu coração entravam em harmonia com o som do coração dele.   

No parque, quando fomos em um brinquedo chamado barca, Guto acabou passando mal. Colocou sua cabeça em meu ombro e fechou os olhos esperando se sentir melhor da náusea. Quando saímos do brinquedo, nós três fomos sentar em um banco pra esperar Guto melhorar e depois iríamos em busca do nosso almoço. Sentei no meio dos meus dois melhores amigos. Com uma sensação de nostalgia ao estar no mesmo lugar que conheci Guto. As coisas mudaram tanto desde aquele dia há 3 anos atrás. Guto levantou sua camisa e olhou pro seu tanquinho lindo. Eu sem nem perceber acabei olhando também.   

__ Perdeu alguma coisa aqui, Isa? - dispara Guto em tom de ironia.   

__ Quê? Não! - respondo tentando disfarçar, morrendo de vergonha.   

Ele deitou a cabeça no meu ombro novamente, eu comecei a fazer um cafuné carinhoso em seus cabelos escuros, macios e sedosos. Guto pegou no sono. Arthur foi procurar uma banca que vendia almoço e nos deixou sozinhos. Ficamos naquele chamego por alguns minutos... alguns minutos em que eu até me sentia suficiente pra ele. Mas essa sensação sempre passa rápido demais. Demos fuga no Arthur, saímos correndo dele quando começou a chover. Arthur começou a nos procurar, Guto e eu estávamos escondidos debaixo de uma árvore grande. Tinha tudo para surgir um beijo quente, com uma cena perfeita de chuva e sem ninguém por perto. Infelizmente não ocorreu. Desejei sim, mas Guto não quis, não me queria e nunca iria aproveitar as oportunidades que a natureza tentava nos dar.   
Mas, na realidade, mesmo que Guto quisesse eu não teria feito. Isso mesmo, eu seguraria minhas vontades. A razão é que eu havia descoberto o que a Nicolay sentia. Não seria capaz de fazer isso com uma amiga que tinha uma dor semelhante à minha.   

Em algum dos últimos dias de férias... Nicolay, Guto e eu fomos ao shopping. Eles se pegariam e eu iria de vela. Guto passou lá em casa para pegarmos o Uber. Detalhe que você já percebeu, né? Sempre íamos juntos nos rolês. Ele chegou, abri o portão e o abracei. Eu estava toda arrumada, com um conjunto de veludo colado. Guto entrou em meu quarto, sentou em minha cama e esperou eu terminar de arrumar meu cabelo. Foi inevitável não perceber enquanto eu o observava de ladinho que ele me olhava de cima a baixo disfarçadamente. Eu ficava agoniada imaginando o que ele poderia estar pensando sobre mim. Será que me achou feia naquela roupa? Ficou reparando minha altura? Ou qual seria o problema?   

Entramos no carro e fomos em direção ao nosso destino daquele dia. Chegando lá, combinei com Nicolay que ela me ligaria quando chegasse e nos esperaria na porta de uma livraria. Enquanto eu não recebia a ligação e nem dava a hora marcada com Nicolay, Guto e eu fomos andar pelo shopping.   
Uma menina alta e um menino alto andando lado a lado, juntinhos pelas lojas. É, eu sei, quem via pensava que éramos namorados.   

Ele fazia graça comigo, me provocava, me agarrava para uns abraços.  Eu nem percebi que a hora passava. Quando me dei em conta, o horário marcado com a Nicolay já estava atrasado. Guto e eu corremos pra porta da livraria. Nic nos esperava há minutos. Fomos até a bilheteria comprar os ingressos de um filme de comédia. Passamos na sorveteria e compramos nosso milkshake. Enfim, fomos para a fila do cinema. Guto e Nicolay ficavam de casal, grudados, dando selinhos, parecendo namorados. Dentro da sala de filme, adivinhem... meus dois acompanhantes não assistiram o filme. Nicolay sentou no canto, Guto em nosso meio e eu na outra ponta.

Não deu nem 15 minutos de filme e eles já estavam se beijando, se engolindo e trocando amassos. Eu não conseguia deixar de reparar naquele beijo e lembrar de 2 semanas atrás, em que eu estava no lugar dela. Quando a pegação deles chegou no auge, Guto colocou um de seus braços no meio de suas pernas. Acho que ele pensou que eu fosse olhar pro volume dele crescendo. Finalmente o filme que eu assisti sozinha acabou, desci as escadas do cinema imaginando se fosse eu no lugar de Nicolay. Com certeza eu estaria muito satisfeita.

Guto não sentia nada por Nicolay e ficava de casal com ela, a confundindo ainda mais.
A mãe de Nic já a esperava no estacionamento. Nos despedimos dela e a observamos sair pela porta do shopping.   

Eu estava com fome, Guto e eu fomos até a praça de alimentação. Ele estava sem dinheiro, então eu paguei 2 combos pra gente, com batata, refri e hambúrguer. Ficamos na fila para pegar nosso lanche, enquanto ele me contava cada detalhe sujo da sua pegação com Nicolay. Guto havia gostado, mas confessou que se sentiu incomodado de estarem grudados, já que ele não possuía nenhuma intenção de ter algo sério com ela. Depois de comer, conversar e rir, fui comprar um balde de sorvete para nós dois dividirmos. Paguei tudo, faria de novo, sem cobrar nada em troca. Era apenas meu papel de melhor amiga. Sentamos em um banco do shopping na parte superior para tomarmos nosso sorvete. Já era 19:00h. Foram momentos muito gostosos que passamos depois que Nicolay foi embora. Eu desabafava com ele sobre algumas coisas que acontecera em minha casa enquanto dava mais uma colherada no sorvete. Minhas cenas desse dia de momentos favoritas são com certeza as que ríamos juntos e olhávamos um pro outro no momento da risada. Era um olhar brilhante como... como as estrelas no céu.   

Ok, fui bem brega agora.   

Mas, quando a gente ri juntos, eu sinto o quanto a vida pode ser leve ao lado da pessoa que amamos, independente das dificuldades. Guto me faz sentir viva.

No momento em que terminávamos nosso sorvete, um velho tarado passa me encarando sem que eu percebesse. Guto parou, olhou dentro dos olhos desse homem e falou:   

__ Perdeu alguma coisa aqui?   

__ O que foi, Guto?   

__ O velho tarado ali, passou comendo você pelo olhar. Que nojo, mano.   

__ Meu Deus, eu nem vi, amigo.   

Na hora de irmos embora, ele preferiu colocar a primeira parada do Uber na minha residência, mesmo sendo contramão (já que o caminho era mais próximo de sua casa), para que eu não corresse nenhum risco indo sozinha. Nós dois fomos no banco de trás. Trocamos alguns olhares, mas nunca passou disso. Tiramos fotos que com certeza estão seguras e guardadas. Quando cheguei em casa, escutei Nicolay desabafar sobre seus sentimentos e senti muito por ele não a corresponder e a deixar ainda mais confusa. Nossa dor era semelhante, muito, infelizmente.

Por nossos filhos - baseado na música de Zé Neto e Cristiano Where stories live. Discover now