018: Recolha seus pedaços

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— Não faça isso, Yudis — eu a alerto sentindo o coração palpitante a cada segundo que passa.

Não é como se eu não tivesse ficado curiosa agora que ela está ali sentada do outro lado sorrindo para as folhas de um reles bloco de notas, porém, o medo de saber o que foi escrito naquelas páginas e não ter a capacidade de digerir que quer que seja, me faz ficar inquieta e desejar que Querin o tivesse levado consigo antes de sair.

Yudis, pelo contrário, parece que vai explodir de alegria por algum motivo que me deixa inexplicávelmente tensa e ansiosa.

— Ah, mas agora é tarde, Igith amiga — ela devolve e logo depois me encara, o sorriso crescendo a cada segundo. — E você vai querer ouvir isso. Aposto que sim.

Faço que não, mas minto. Eu quero saber sim e o fato de estar roendo a minha unha do polegar diz muito sobre a situação.

— E então... Pronta?

É errado isso que estamos fazendo? É!
Estamos invadindo a privacidade dele? Estamos!
Eu poderia dizer para ela parar com isso? Poderia!

Mas o que eu decido dizer ao invés disso?

— Leia logo de uma vez, droga!

Yudis da uma risadinha e pisca para mim, feliz por receber a minha confirmação antes de limpar a garganta e começar, lenta e suavemente:

Tão intensa quanto uma brasa ardentre iluminando o breu vivente na imensidão das esmeraldas frebris, desejosas por submergirem a inundação de todas emoções contidas nesse espaço belo e oculto que chama coração. Dos cabelos flamejantes num tom rubro tão delicado e eletrizente, destacado entre tantos que se torna cativante, de tal modo condiz com essa maneira sutil de sentir e exorbitante de sorrir. É de fato sua impertinência, que faz marcar a diferença. E o modo que se envergonha com simples palavras, mesmo que saiba como explodir mediante a uma dúzia delas...

Inacabado

~Sobre intensidade, sobre você G.R

Querin Attagül.

Se meu coração já estava batendo meio acelerado, agora ele está praticamente errando as batidas. Afasto o dedo dos lábios semi-abertos, um pouco confusa a medida que tento acalmar o arrepio brusco que me percorre a espinha.

Por que ele escreveria algo assim?

— Nossa — eu digo, desacreditada. Inalo o ar com força e o solto na mesma frequência. — Minha nossa.

— Está vendo isso Igith amiga? Você está entendendo o que isso quer dizer? — Yudis parece consumida por uma felicidade que não consigo abosrver totalmente. Ela sorri para aquelas palavras e depois está se dirigindo a mim. — Ele gosta de você!

— Yudis!

— Que foi? — Reclama. — Você ouviu o que eu li, não ouviu? O Querin escreveu sobre você, Igith. Sobre você!

— Não é sobre mim! Não tem como ter certeza disso. — Yudis revira os olhos como se estivesse aborrecida, da um tapa na própria testa e volta o bloco de notas para mim, apontando para uma das frases.

Cabelos flamejantes num tom rubro tão delicado e eletrizante... — repete ela, impaciente — Ah, o Querin deve obviamente estar falando de mim. — Debocha a garota me fazendo revirar os olhos também, por mais que eu tente compreender aquelas palavras ou o porquê delas terem sido escritas. Pior ainda, se foram mesmo escritas para mim, qual o motivo? — Para quem acha que ele escreveu esse texto?

Marcas do Passado [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora