Aluno Transferido (AU)

2.1K 205 175
                                    

N/A: Depois de um milhão de anos estou de volta com mais uma one shot no capricho para vocês, queridos leitores que ainda não desistiram de mim! Espero que curtam essa versão colegial dos Wangxian ♥

Estou sentado na última fileira de carteiras, no canto direito da sala e com a cara grudada na janela, desesperado para me distrair e me desligar do irritante burburinho da sala.

É aula de Literatura, e embora eu realmente devesse estar prestando atenção, já que minhas notas não estão tão boas quanto eu gostaria, o ambiente é insuportável e me priva de concentração. A pobre professora tenta em vão colocar qualquer tipo de conhecimento em nossas cabeças, é de dar dó, mas como quaisquer outros bons exemplares de adolescentes mimados, idiotas e que seguem à risca os mandamentos do estilo de vida YOLO – You Only Live Once, ninguém está prestando atenção. E os cadernos, que deveriam estar sendo devidamente preenchidos com textos e poemas inspiradores, estão cheios de bilhetinho, fofocas maldosas, planos para sábado à noite e alguns pênis desenhados. Mas é assim que tem que ser, prestar atenção em aula por aqui é coisa de careta. Hashtag YOLO.

E eu, como qualquer outro careta, faço o gênero aluno-muito-quieto-excluído-anti-social, preocupado com o futuro, buscando entrar em uma faculdade excelente, com uma típica cara de babaca estudioso que não consegue se encaixar e que consequentemente tem que sofrer diariamente nas mãos dos coleguinhas.

Já o resto da escola é exatamente o contrário: todos os trocentos e tantos meninos e meninas que frequentam o Instituto Educacional Gusu vêm das melhores famílias, têm heranças bancárias e genéticas perfeitas, mamães manequins inexpressivas, papais empresários de sucesso que não dão a mínima para seus rebentos e sobrenomes sonoros. Eles não se preocupam em estudar, já que seus destinos brilhantes estão traçados. Faculdade é uma opção que só irá ser considerada no momento em que tiverem um pouco de boa vontade. Enquanto todos esses principezinhos e princesinhas vão religiosa e diariamente às butiques da moda, fumam erva "da boa", têm aspiradores no lugar de seus narizes empinados por cirurgias cosméticas e farreiam à beça, minha rotina segue de casa para a escola, da escola para o trabalho de meio período e de volta para casa.

Mas não posso reclamar muito, minha vida é relativamente boa e falta só mais um pouco para tudo mudar. Vou me esforçar para ingressar na melhor faculdade, espero conhecer pessoas interessantes que não me tratarão como lixo, aproveitarei ao máximo a vida universitária e me formarei com ótimas notas e um currículo promissor. Bom, pelo menos esse é o plano. E depois mais alguns anos exaustivos de estágio em um museu ou como arquivista e quem sabe conseguir me tornar um historiador com livros publicados e aclamados. E com mais sorte ainda meu nome será referência em pesquisas de mestrado e serei convidado para dar palestras em universidades em outros países.

Mas, no momento sou apenas um estudante secundário, uma anomalia neste sistema escolar elitista, primeiro porque sou um aluno bolsista sem grandes recursos financeiros e segundo porque eu não moro em uma mansão ou numa cobertura de vidro com varandas imensas em um bairro nobre, nunca saí em nenhuma coluna social importante e não uso roupas de grife. Não tenho amigos entre meus colegas de sala, e pra ser sincero nem quero ter, muito obrigado. Não sou cumprimentado na entrada, ando com fones de ouvido comprados em uma loja de departamentos qualquer, só ouço rock independente, músicas underground e música clássica, adoro documentários aleatórios que encontro no YouTube, leio todo tipo de livros e coleciono histórias em quadrinho. O bullying eu aprendi a ignorar na sexta-série quando me dei conta de que o problema não era comigo, mas sim os outros, que não me compreendiam e eram por demais limitados. Agora ele não representa muito para mim. Eu apenas ignoro e nem me dou ao trabalho de responder.

Meu guarda-roupa segue minha personalidade. Não ligo para essa tal de aparência e não faço questão de tentar agradar, nem muito menos estourar o cartão de crédito do meu tio em jeans rasgados e com tinta preguiçosamente esborrifada que custam de três a quatro dígitos – chamam isso de alta costura. Portanto, as camisetas brancas e os jeans claros permanecem. Meu bolso aprecia.

Contos Wangxian: para ler antes de dormirWhere stories live. Discover now