I - Will

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Quanto tempo havia se passado? Horas? Dias? Semanas? Meses? Will não sabia. O tempo não fazia sentido naquele lugar. Era como se não existisse. Até porque na verdade não existe. O tempo é uma invenção da humanidade, só um tipo de unidade de medida, e é por isso que não funciona em lugares que não são regidos por seres humanos, como o submundo por exemplo. Essa foi a conclusão na qual Will chegou após perceber que não era possível cronometrar o tempo por ali.

Apesar de não saber disso, Will já estava nos Campos Elísios haviam algumas semanas. Durante todo esse tempo o filho de Apolo teve muitas reflexões filosóficas, além de pensar muito sobre os arrependimentos que levou consigo para a morte. Coisas que ele gostaria de ter feito antes de morrer. Coisas que ele gostaria de mudar em si mesmo ainda em vida.

Mas nada disso adiantava agora. Will havia morrido. Havia ido embora daquele mundo sem conseguir ajudar ninguém. Tinha deixado seus irmãos para trás. Agora, naquele lugar com um céu azul, sol brilhante e campos verdes sem fim, tudo o que restava para o garoto eram as horríveis lembranças da batalha.

Will se lembrava muito bem. Seu meio irmão e conselheiro do chalé de Apolo, Michael Yew, acabara de morrer em meio a uma explosão. Depois de Michael, o mais velho dos filhos de Apolo era Will Solace, logo ele assumiu a liderança do chalé.

Mas Will não era muito bom em batalhar. Ele era péssimo na arqueria e não se dava tão bem com instrumentos musicais como alguns de seus irmãos. Suas habilidades mais notáveis eram um assovio supersônico e brilhar no escuro. Sim, brilhar no escuro, uma habilidade que muitos achavam legal mas Will não achava nada interessante, considerava até mesmo algo um tanto inútil.

Além disso, não se pode esquecer que Will era o melhor curandeiro dentre os filhos de Apolo, o que era algo bom, certo? Isso era bom, Will não negava, ele amava salvar as pessoas. Mas de que adiantava salvar os outros se Will não conseguira salvar nem a si mesmo?

E ali estava Will Solace novamente, se sentindo um completo inútil patético, pensando no quão inferior ele era em comparação aos outros semideuses. Imagine o quanto mais Will poderia ter feito se fosse mais forte? Poderia ter salvo mais pessoas, poderia ajudar no campo de batalha e não somente nos cuidados com os feridos, poderia ter salvo a si mesmo e com isso ajudado a salvar mais e mais campistas machucados.

Will queria ser tão heróico quanto Percy Jackson, tão forte quanto Clarisse La Rue, tão estratégico quanto Annabeth Chase ou tão incrível quanto Nico di Angelo.

Nico di Angelo... esse era outro arrependimento. Quando ainda em vida, Will ansiava por ter a amizade do filho de Hades. Todos aqueles semideuses mais fortes que ele tinham medo de Nico, mas Will não. O filho de Apolo admirava Nico de longe, via o quão incrível, forte e poderoso ele era. Will não tinha medo nenhum de Nico di Angelo. Na verdade queria se aproximar do garoto. Dar sua confiança a ele e receber a dele em troca, queria ser seu amigo... Mas nada disso importava mais a essa altura.

E ali estavam os pensamentos de Will mais uma vez voltando para o ponto inicial: O fracasso que ele foi na Batalha de Manhattan.

Os últimos momentos que Will se lembravam eram os dele curando Annabeth Chase e mais alguns campistas feridos alojados no mesmo prédio.

Will se lembrava de Percy o agarrando e jogando em cima de uma moto, o levando até aquele prédio para ajudar Annabeth. Após salvar a filha de Atena e ajudar na recuperação de mais alguns outros campistas feridos, Will já não se sentia inútil da forma como se sente agora. Ele realmente estava ajudando na guerra, estava dando o seu melhor em sua especialidade: curar pessoas, salvar a vida delas.

Mas Will se sentia sobrecarregado. Só tinha treze anos e havia acabado de assumir o controle do chalé 7. Todos pareciam satisfeitos e gostavam de Will como líder, mas aquilo causava pânico no garoto. E em meio a toda aquela confusão de auxiliar seus meio irmãos mais novos e salvar a vida de todos os campistas possíveis, aconteceu aquilo. Will morreu. Ele não sabe como, não sabe onde e nem mesmo quando isso ocorreu. Will só sabe que em um momento estava lá, e no momento seguinte não estava. Ele não pôde salvar nem a si mesmo.

A história parecia até mesmo um tanto cômica. O melhor curandeiro do chalé 7 havia morrido e nem percebeu como isso aconteceu. O filho de Apolo, deus da medicina entre tantas outras coisas, que morreu no campo de batalha sem conseguir fazer nada. Will se sentia como uma piada.

Após sua morte, seu irmão Austin Lake é quem assumiria o controle do chalé. "Pelo menos Austin é competente." Isso é o que Will pensava. Ele sabia que Austin era um bom músico, fazia bom uso de seu saxofone em meio a qualquer batalha.

Will continuava olhando para o verdadeiro paraíso que eram os Campos Elísios. Aquele lugar era verdadeiramente lindo, digno de qualquer herói. Mas Will não conseguia curtir a paisagem, não se sentia tão heróico quanto outros semideuses que se encontravam ali. Não se sentia merecedor de estar em um local tão bonito como aquele.

O Campo de Asfódelos era onde Will achava que deveria estar. Aquele lugar amontoado de almas, onde pessoas comuns ficavam após a morte.

E não importa o quanto refletisse Will sempre chegava nessa mesma conclusão: Ele não era merecedor dos Elísios, ele deveria estar no Asfódelos, aquele sim era um lugar para perdedores como ele.

Apesar de estar no paraíso grego, Will sentia como se estivesse em um verdadeiro inferno. Tudo o que ele fazia desde sua morte era pensar no tanto de arrependimentos que ele tinha. Will não aguentava mais a si mesmo e não sabia o que fazer sobre isso.

E então, ao longe, Will avistou uma figura nada típica daquele local. Havia alguém ali por perto, o que era bem incomum, já que o filho de Apolo havia se afastado o máximo possível dos outros mortos que ali residiam, planejando passar o seu pós-vida pensando sozinho.

Um garoto de idade próxima a dele vestindo uma calça jeans preta rasgada e uma jaqueta de aviador por cima de uma camisa com estampa de caveira se aproximava. O menino parecia mexer em algo em uma de suas mãos... Um anel? Sim, era um anel. Ele estava virando seu anel de um lado para o outro. Will reconhecia aquilo como uma maneira de aliviar a ansiedade, talvez.

Logo, Will percebeu quem era aquela pessoa: Nico di Angelo estava ali, fazendo mais uma visita para os mortos.

Elísios - SolangeloWhere stories live. Discover now