Elísios - Solangelo

VIII - Nico

Nico di Angelo estava ferrado. Estava ferrado de toda e qualquer forma possível.

Enquanto se dirigia para fora dos Campos Elísios após seu último encontro com Will, a mente do filho de Hades estava num turbilhão de pensamentos.

Primeiramente, Nico estava relembrando sobre a conversa com Hazel que teve meses antes: o momento onde decidiu não voltar a ver Will Solace novamente.

Naquele dia, Nico perguntou para sua irmã se ela conhecia a sensação de estar gostando de alguém (no sentido romântico da palavra). Hazel ficou levemente envergonhada ao ouvir a pergunta de Nico, mas respondeu-a mesmo assim.

"Muitos pensamentos relacionados à pessoa vindos junto de um coração acelerado; vontade de estar ao lado dela em todos os momentos; sentimento de satisfação e felicidade ao vê-la sorrir..." – Esses eram apenas alguns dos sintomas da doença chamada paixão dos quais Hazel contou para Nico.

A filha de Plutão falou muito naquele dia, explicou em detalhes a visão de uma pessoa apaixonada sobre o amado. Hazel seria uma ótima poeta.

Mas Nico ficou extremamente preocupado com cada palavra que saia da boca de sua irmã. Tudo aquilo, ou ao menos boa parte, definia o que Nico andava sentindo por Will e também o que um dia já sentiu por Percy.

Quando acabou de conversar com Hazel, a mente de Nico ficou completamente ocupada durante vários dias e várias noites. O filho de Hades não sabia como lidar com toda essa situação. Não sabia o que fazer sobre Will. Não sabia o que fazer nem sobre si mesmo.

Inevitavelmente, os pensamentos do filho de Hades se voltaram para Bianca, porque se ela estivesse viva, Nico teria com quem contar. Se ela estivesse viva, ele não estaria tão sozinho, com tantos problemas e nem tão infeliz...

Nico se perguntava se algum dia conseguiria confiar em alguém novamente após aquela droga de missão que tirou a vida de sua irmã. Às vezes ele achava que não. Talvez fosse realmente impossível. Talvez... Nico devesse apenas desistir.

E foi naquele momento, meses atrás, que Nico pensou em desistir de vez de continuar a ver Will Solace.

Assim seria mais fácil. Nico sabia que sairia machucado de qualquer maneira estando em uma situação delicada como essa. Só a ideia de ser amigo de um cara morto já era meio estúpida, agora, gostar desse cara como mais do que um amigo? Nico estava praticamente pedindo para sofrer ao se colocar em uma situação assim.

Além disso tinha a questão de Nico estar gostando de um garoto. Outra vez um garoto. Porque ele tinha que ter esse tipo de sentimento por um garoto?

Nico tentou desviar esses pensamentos agora. Ele odiava quando tentava se punir por ser ele mesmo, mas ao mesmo tempo era difícil de ignorar isso quando o filho de Hades nasceu décadas atrás e cresceu ouvindo que sua forma de amor era errada. Se tem uma coisa que Nico odeia mais do que ele mesmo, eram esses homofóbicos de merda que colocaram coisas ruins em sua cabeça. Que o fizeram se odiar.

Mas deixando esse assunto de lado, de qualquer forma seria uma melhor ideia deixar de ver Will.

Os vivos e os mortos não deveriam ser amigos. Eles vivem em mundos diferentes, de formas diferentes e devem permanecer separados. Como filho do deus grego dos mortos, Nico sabia disso melhor do que ninguém.

E então Nico ficou um mês sem visitar Will. Dois meses. Três. Quatro.

Em nenhum dia. Em nenhum momento durante todo esse tempo. Nem por um segundo sequer Nico esqueceu de Will.

O filho de Hades sinceramente achava que esses sentimentos iriam passar rápido. Surgiram rápido, deveriam ir embora fácil também, não é?

Mas Nico estava errado. Durante todos os dias de distância o garoto relembrava de suas poucas conversas com Will Solace. Do quão próximos eles seriam se o filho de Apolo estivesse vivo. O quão bons amigos eles poderiam ter sido se pelo menos tivessem se aproximado antes da Batalha de Manhattan.