VI - Nico

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Embora odiasse admitir, Nico estava pensando sobre Will Solace. O filho de Hades voltava dos Elísios e se encaminhava em direção ao palácio de seu pai enquanto refletia sobre tudo o que havia acabado de acontecer.

Assim que Nico chegou nos Elísios mais cedo naquele mesmo dia, Will foi em sua direção e o chamou por um apelido bobo: "garoto das trevas". Nico revirou os olhos naquele momento, fingindo não gostar da provocação. Mas na verdade, bem lá no fundo, o filho de Hades havia, de certa forma, gostado daquele apelido. Quer dizer, amigos criavam apelidos bobos um para os outros, não? Naquele momento, Nico sentiu como se, pela primeira vez na vida, tivesse um amigo.

"Pare, Nico. Você não pode ter amizade com uma pessoa morta, vamos lá, isso não vai dar certo."  – foi o pensamento que sobrepôs todos os outros, impedindo que o filho de Hades pensasse muito sobre sua possível amizade com Solace. – "O próprio Will te disse para focar em manter amizades com os vivos, não faça o contrário."

Nico precisava manter o foco agora. E o mais importante nesse momento era falar com seu pai sobre os últimos acontecimentos estranhos do submundo.
Nico já estava aos pés do Palácio de Hades - subindo os primeiros degraus em direção às portas - quando Perséfone, repentinamente, saiu de dentro do Palácio.

—Nico, graças aos deuses! – Disse a deusa, que parecia apressada e também preocupada com algo. – Rápido, entre. Hades quer falar com você.

Nico assentiu para Perséfone e adentrou o palácio. O garoto nem prestou muita atenção à sua volta, o local era basicamente o mesmo de sempre: um salão escuro com alguns esqueletos decorativos jogados de um lado ou de outro. Nada cativante.

Hades estava pensativo, parado em um canto olhando para uma janela com vista para os campos de punição. Parecia preocupado.

—Pai? – Nico disse ao se aproximar mais.

—Nico. – Disse Hades , se virando em direção ao garoto. – Enviei Perséfone atrás de você faz pouco tempo, se chegou tão rápido imagino que já saiba sobre a atual situação.

—Na verdade não muito bem. Sei que as coisas não estão normais, mas não sei exatamente o que está acontecendo. Foi sobre isso que vim perguntar. A falta de guardas, a movimentação, a preocupação...

Hades ouvia Nico falar e assentia lentamente.

—Digamos que... algo grande está acontecendo. Monstros têm conseguido escapar do tártaro e se restaurarem com mais facilidade após serem mortos. Não se sabe a causa ainda, mas a maioria dos guardas estão investigando.

Nico olhou para o chão aos seus pés. Monstros escapando da morte? Francamente, não havia se passado nem seis meses desde o fim da batalha contra Cronos, o que raios viria agora?

—Por enquanto, isso só vem acontecendo com os monstros. Mas se minhas suspeitas estiverem certas... – Hades disse, balançando a cabeça. – Logo humanos também conseguirão se livrar do mundo dos mortos.

Hazel. Sua irmã foi a primeira coisa em que Nico pensou naquele momento. Hazel havia ressuscitado, voltado à vida de um jeito que Nico não achava nem ser possível após tantas tentativas falhas com Bianca.

Nico deveria relatar a situação de Hazel para Hades, o deus grego dos mortos deveria saber sobre as almas que escapam de seu domínio. Mas Nico não sabia se conseguiria fazer isso. Ele não queria arriscar a vida da garota, era possível que, se soubesse sobre ela, Hades mandasse seu filho levá-la de volta para o submundo. Nico não queria isso. Apesar de mal conhecer Hazel, queria que ela vivesse agora tudo o que não pôde viver há mais de cinquenta anos atrás.

—Não se preocupe com a garota. – Hades disse, como se lesse os pensamentos de Nico. – Se eu realmente não quisesse que ela saísse daqui, ela não sairia.

Nico pensou em retrucar ou perguntar o porquê, mas resolveu ficar quieto. Não era uma boa ideia reclamar de uma boa ação vinda de seu pai.

—E então, sobre as suas suspeitas. O que está acontecendo? – indagou Nico.

—Algo relacionado à Tânatos e os portões da morte. – Disse Hades. – Por enquanto não é nada com o que você deva se preocupar. Só achei bom te deixar à par das notícias já que você vive por aqui.

Nico assentiu e ficou parado por alguns momentos. Sabia que aquela era a deixa para ele ir embora, mas havia algo que ele ainda queria perguntar.

—Caso esse seu palpite esteja certo e pessoas consigam escapar da morte... seria possível que habitantes dos elísios conseguissem voltar à vida?

—Pouco provável. Algumas pessoas mortas conseguiriam escapar das minhas mãos se fugissem antes de adentrar o submundo, mas escapar daqui de dentro sem a minha permissão seria extremamente difícil. – disse Hades. – Mas porque está perguntando isso? Bianca já escolheu renascer. Você, mais do que todos, deveria saber disso.

Nico desviou o olhar, voltando-se para o chão, e após isso, olhando para Hades novamente.

—Eu sei.

Hades arqueou as sobrancelhas.

—Tem alguma outra pessoa!? Alguém que eu conheça?

—Adeus, pai. – Foi a última coisa que Nico disse antes de sair do Palácio de Hades com uma dramática viagem nas sombras.

Francamente, no que Nico estava pensando ao perguntar aquilo para seu pai? O filho de Hades sabia a resposta: Will. Era em Solace que Nico estava pensando. Mas por que ele estava pensando em Will? Por que ele iria querer trazer o filho de Apolo de volta à vida?

Tudo bem, Will vinha sendo uma ótima companhia e um ótimo amigo para Nico. O próprio filho de Hades reconhece que adoraria ter tido uma amizade com Will ainda em vida. Mas o problema é que o filho de Apolo não está em vida, e esse já é um bom motivo para Nico se afastar.

Mas então, por que Nico não consegue se afastar? Por que ele se sente tão bem quando fala com Will? Por que seu coração bate mais rápido e por que ele sente aquele maldito frio no estômago quando Solace está por perto?

Em meio à tantos pensamentos sobre Will, Nico se lembrou repentinamente de alguém em quem ele não pensava fazia um tempo.

—Percy... – murmurou Nico para si mesmo.

O filho de Hades havia se esquecido quase que completamente da existência de Percy Jackson. Absolutamente todos os pensamentos de Nico vinham sendo tomados pelo fantasma loiro de olhos azuis do chalé de Apolo.

E agora Nico estava com medo novamente. Medo do que tudo isso estava se tornando. Medo de si, dos seus sentimentos e medo do que o futuro poderia se tornar.

—Bianca... seria tudo bem mais fácil se Bianca estivesse aqui... – murmurou Nico enquanto limpava uma lágrima que escorria por sua bochecha.

"Mas ela não está." – Pensou Nico. – "Não está."

Nico levou uns instantes para se recompor. Mesmo sendo um semideus, ele ainda era um garoto de doze anos sozinho, assustado e com saudades da sua irmã mais velha.

Hazel. Nico deveria ir ver Hazel.

Tudo bem que eles não se conheciam há tanto tempo, mas Hazel passava certa confiança para Nico. E ele queria dar uma chance para o mundo dos vivos, assim como Will o disse para fazer.

Nico obviamente não contaria tudo sobre si tão facilmente para sua recém conhecida irmã, mas, por enquanto, gostaria pelo menos de perguntar para ela sobre experiências românticas. Nico queria entender se todo aquele sentimento que ele guardava era, de fato, amor ou paixão. Talvez Hazel soubesse. Talvez já tivesse gostado de alguém e conseguisse descrever isso.

E era isso que Nico faria: iria até o Acampamento Júpiter e conversaria com sua irmã.

Elísios - SolangeloWhere stories live. Discover now