16

741 72 56
                                    

Meu corpo estava parado a frente de Anne, uma junção de carne e pele que se uniam em um completo vazio interno. Não tenho certeza sobre a existência de uma alma dentro de nós, mas se reais fossem, sei que a minha não estaria presente naquele momento. Meu cérebro focava unicamente na idéia de trazer um ser a esse mundo, quando mal era capaz de cuidar de mim mesma. Como haveria de lhe explicar que seu criador era aquele em que menos confiava no mundo, e por isso havia o tirado a vida? Ou seria ele, a contar para nossa criança, como tão impiedosamente, me arrancou tudo que ainda restava aqui dentro?

Não poderia fazer aquilo, sob nenhuma circunstância, jamais deixaria aquela gravidez seguir seu caminho. O que aconteceria ao primeiro sinal que Zayn notasse? Quando meu corpo já não estivesse mais com os ossos a mostra, ou minhas refeições de nada serviam se logo as vomitaria. O quão cruel, seria o ato cometido contra mim, pelas mãos do mesmo que pôs esse ser em meu interior?

- Não posso fazer isso, Anne, não posso ter essa criança. - Joguei o aparelho no lixo, e caminhei reto até a saída da farmácia, onde pacientemente, ou apenas pelo dinheiro, o taxista ainda nos esperava. -

Abri a porta mas fui impedida de entrar pelas mãos da mulher atrás de mim, seu aperto não era forte, mas ainda assim era capaz de me dizer o quão desejava que eu ficasse.

- Lauren nós nem fomos a um hospital ainda, precisamos ter certeza disso, e não importa o quanto você odeie o pai desse possível filho, não vou lhe permitir tomar nenhuma atitude precipitada.

Me senti fraca, não fisicamente, ainda que também lutasse para me manter de pé, mas sim quanto a quem era. Queria ser capaz de dispensar Anne, e seguir meu próprio caminho, baseado em minhas escolhas, pedir ajuda a algum outro alguém quando já estivesse longe em outro país, onde nunca mais veria qualquer uma dessas pessoas outra vez.

Deixei que as lágrimas corressem por todo meu rosto, era a maneira mais pura e sincera que tinha para expressar como me sentia no momento, absurdamente abalada e perdida, mas principalmente, completa e totalmente sozinha.

Senti os braços de Anne rodearem todo meu corpo, o invadindo com um terrível calor, que me puxou de maneira tão agressiva e inesperada, até que me encontrasse jogada em seu abraço. Não queria lhe soltar, a apertei firmemente e senti sua resposta, me acalmando.

Me afastei minimamente ao sentir seu aperto forçar o quão resistente a dor em minhas costas eu era, mais um problema que teria de resolver, mas esse procuraria lidar apenas com minha própria ajuda.

- Você não está sozinha nisso, sei que acredita nisso, e há pouco que eu possa dizer para mudar essa sua idéia, mas irei fazer tudo que esteja ao meu alcance, para lhe mostrar como eu estou aqui, Lauren.

Suas mãos me soltaram para que pudessem limpar meu rosto, secando a água que caia em pequenas gotas.

- Vamos, venha. É hora de ir para casa, chega de tantas emoções por hoje.

Me permiti descansar enquanto voltávamos para casa, relaxei meu corpo sob o de Anne, de maneira que ficasse confortável com as minhas costas, mas era quase impossível. Ainda assim, dei meu melhor para que aquele saco de ossos onde me encontrava, pudesse ter paz pelo menos uma vez ao dia.

--

Forcei meu corpo a entrar naquele elevador, não sei o que mais me assustava, o cansaço ou a possibilidade de ter alguma outra alucinação.

Por sorte, me livrei de ao menos um desses destinos, saí de dentro da máquina ainda tendo completa noção da realidade, mas não era capaz de lutar mais um segundo contra o sono.

Entramos no quarto e não me surpreendi por ver o cômodo vazio, duvidava muito que os dois fossem chegar cedo, ou perto disso.

Arranquei fora aquele vestido sem pensar duas vezes, o prazer e alívio ao sentir meu corpo livre, foi avassalador.

DARK LOVE Z.M 2° LIVRO Onde as histórias ganham vida. Descobre agora