I Capítulo

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•Selina•
Quando as lâminas se chocaram, saíram faíscas de suas pontas.
Meus braços queimavam e meu coração batia cada vez mais forte e mais rápido em meu peito. A adrenalina corria por minhas veias enquanto tentava desferir um golpe mínimo em meu Instrutor. A espada em suas mãos parecia um feixe de luz de tão rápido que se movia, enquanto a minha insistia em dançar nas minhas e não se ajeitar de forma alguma. Com mais uma investida, ele não só atirou minha espada para longe, como também fez um corte em meu antebraço. A espada em meu pescoço fez com que o encarasse, tendo que admitir minha derrota. Mais uma vez.

-Sel, lembre-se: mantenha as mãos firmes ao redor do cabo -assim que abaixou a lâmina, corri para minha espada e pulei em sua direção a fim de tentar um ataque surpresa, o qual falhou pois ele me derrubou em poucos segundos. A espada novamente em meu pescoço- Mais sutileza e mais velocidade, talvez se tivesse deixado que eu colocasse marcas em você antes teria se saído melhor.
-Cale a boca -reclamei afastando a arma com minha mão, fazendo um novo corte- Eu não tenho habilidade alguma com essas... Essas... Coisas completamente estúpidas!
-São essas "coisas completamente estúpidas" que podem salvar sua vida um dia. Aprender a se defender é tão importante quanto saber atacar e, em nosso mundo, sempre devemos atacar para matar.

Andrew Blackthorn. Meu instrutor e irmão. Era tão comum que ele falasse frases impactantes que muitas vezes acreditava que ele havia saído de um livro de guerra.
Tirando sua estela do cinto de armar, caminhou em minha direção e acenou para meus ferimentos. Estendi meu antebraço enquanto ele desenhava um iratze. Sempre cuidadoso e com medo de errar a runa, Andrew não se apressou, demorou o quanto achava ser necessário para fazer uma runa perfeita. Perfeccionista e preocupado.
Ao sentir a queimação do contato da estela com minha pele, queria começar a chorar. Vendo minha expressão, vi pesar em seus olhos. Ele não queria me causar dor. Não queria que estivesse treinando. Não queria continuar com isso, pois sabia o quanto eu estava infeliz.

-Vamos encerrar por hoje. Amanhã depois do almoço vamos tentar arco e flecha, é mais fácil de manusear e pode ser uma vantagem para você, já que combate corpo a corpo parece ser uma fraqueza.
-Tudo é fraqueza para mim. Não consigo dominar nenhuma dessas porcarias e nem quero!

Sua expressão se tornou mais infeliz ainda. Não era culpa dele estar sendo obrigada a treinar, mas ele odiava me forçar a fazer todos esses treinamentos. Ao terminar o iratze, comecei a sentir o corte se suavizando, se tornando uma linha rosa-clara enquanto a marca desbotava e se tornava apenas linhas brancas quase imperceptíveis. Ele tomou minha mão e limpou o sangue com a manga, desenhando outro iratze. A queimação na pele era insuportável para mim.

-Selina, a Clave já nos alertou. Mais vezes do que o de costume. Se não aprender o básico, você vai... Eles vão tirar você de nós. Não quero que seja uma ninja ou algo do tipo, quero que aprenda o bastante para enganar aqueles desgraçados nos deixarem em paz. Nossa família vem sendo perseguida há tempo demais. Além disso, ninguém quer que você vá.

Não respondi. Apenas abaixei a cabeça e deixei que ele cuidasse do corte.
Quando acabou, Andrew levantou meu rosto e mostrou um sorriso que dizia que tudo ficaria bem. Sabia quando mentia para mim, mas neste caso, ele estava mentindo para si mesmo. As coisas não ficariam bem, já havia aceitado isso. Mas isso não me impedia de morrer de medo de quando o futuro chegasse.
Quando a marca estava pronta, levantei e corri para meu quarto. Evitei todos que estavam no caminho, mantendo a cabeça abaixada e mantendo o ritmo constante. Subir as escadas. Virar a direita até o fim. Trancar a porta e entrar debaixo do chuveiro. A água fazia minhas roupas grudarem em meu corpo, porém eu não ligava. Quando o barulho do chuveiro estava alto o suficiente foi que desabei. Só então me permiti chorar.
Podia ter sido as lágrimas, a água ou a fumaça no banheiro, mas por alguns segundos vi uma sombra estranha, que sumiu tão rápido quanto apareceu.

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