XX Capítulo

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P.O.V Selina
Tudo que se passou era uma memória branca embaçada, não estava entendendo nada e nem queria entender. Eram lembranças, memórias, partes de minha vida que estavam voltando e eu sorria quando cada uma delas se passava. E apareceu mais uma de minhas lindas memórias...

Devia ter uns... Cinco anos? Era estranho, pois eu olhei para mim mesma, 16 anos e olhei ao redor. Era a sala de estar e havia uma mulher e uma garotinha que conhecia muito bem, eu e minha mãe. Estava abraçando-a, a soltei e ela teve a brilhante ideia de abrirmos a claraboia das estufas para olharmos as estrelas. Ela só podia estar maluca, pois apenas poucas estrelas brilhavam no céu de Londres. Mas a acompanhei, levei uma cesta cheia de guloseimas para nós duas e ela levava uma enorme manta para que pudéssemos deitar e ver as estrelas. Ela estendeu a manta e espalhei as guloseimas pela mesma. Nos sentamos e comemos algumas das coisas que trouxe. Assim que escureceu ela desceu a claraboia e, como eu esperava, nenhuma estrela.

-Não teremos estrelas esta noite, mãe... -disse- Uma pena...
-E quem disse que iríamos ver as estrelas do céu? -ela respondeu pegando sua estela.

Ela desenhou uma runa que eu desconhecia no chão um pouco longe de nós e assim que terminou correu para meu lado e se deitou, fiz o mesmo e encarei o céu. Um segundo depois, mais de mil estrelas brilhavam. Estavam em toda a estufa... Quando toquei em uma ao meu lado, ela "explodiu" e virou milhares de pontinhos brilhantes que logo desapareceram.

-Selina -me vire para ela- Quero que saiba, que eu te amo muito. Tudo que faço, é para você.
-Eu sei mãe, também te amo.

Nos abraçamos e vimos cada estrelinha explodir em milhões de pontinhos brilhantes durante toda a noite.

Uma enorme fumaça branca apareceu como um redemoinho e me envolvi nela, procurando um refúgio, um lugar seguro.

Mais uma vez estava nas estufas do Instituto, chorando. Foi... Alguns meses antes de Sombra me pegar. A garota estava encolhida entre os arbustos de amora, ou melhor, eu estava escondida entre os arbustos de amora. Eu iria para a Academia de Caçadores de Sombras em três dias, chorava porque me sentia injustiçada e muito triste. Pois queria ser comum.

-Selina?

Olhei para a Eu nos arbustos, Andrew a achou e a abraçou. A Eu dessa memória chorou como nunca... Foi um dia tão triste pra mim... Mas tão feliz.

-Por favor Sel, não chore... -ele disse.
-Eu não quero! Não quero treinar!
-Eu entendo, juro... Posso te ajudar.
-Como? Mudando as leis da Clave?
-Não, eu vou treinar você.

O soltei e o encarei.

-Como?
-Posso treinar você, Sel. Não te treinarei para ser Caçadora de Sombras, mas para saber se defender. Um dia as leis da Clave mudarão e até esse dia você precisa treinar. Mas eles não disseram como ser treinada.
-Então... Vai me ensinar a me defender e não a me tornar uma Caçadora de Sombras?
-Sim, a Clave não precisa saber.

O abracei o mais forte que podia.

-Obrigado, Andrew. Muito obrigado.
-Não por isso maninha, apenas quero sua felicidade.
-Eu te amo maninho...

A imagem se desfez em pequenas "nuvens", por assim dizer. E uma nova memória apareceu, tudo foi se compondo em seu devido lugar e sabia exatamente aonde estava. Biblioteca do Instituto.

Me encontrava na seção proibida, devia ter... Seis anos? Desde pequena sempre fui desobediente. Estava lendo um dos relatos de viajem de meu pai, sobre suas aventuras há alguns anos, em Cadair Idris. Ele morava em um vilarejo que fora atacado por autômatos assassinos, estava adorando a história, lembro perfeitamente disso. Agachei ao lado da Eu de seis anos e sorri ao me ver, pude sentir uma lágrima escorrendo. Resolvi ler junto com ela, mas assim que coloquei meus olhos no livro ouvi um barulho atrás de mim. Me virei e era Julian. Meu pai... Agora sim lágrimas escorriam de meus olhos, não consegui as conter. Mas ele estava quieto, me vendo ler o livro.

-Selina querida, o que está lendo? -ele se sentou na minha frente e pegou o livro.

Quem sabe se... Eu esticasse a mão ele... Sentiria... Mas minha mão o atravessou como fumaça.

-Você viveu enormes aventuras papai! Um dia, quero viver uma aventura dessas!
-Foi nessa batalha que conheci sua mãe.
-Sério? Que legal! -a Eu da memória se jogou em Julian e ele a colocou em seu colo e leu o livro para ela.

Pai... Eu sinto sua falta. A fumaça voltou, mas tentei afastá-la. Queria ficar naquela memória para sempre. Quando ela se foi, gritei para que voltasse.

O furacão veio novamente, me retirando da memória. Agora tinha certeza de que não era uma memória, e sim um pesadelo. Era a caverna em Idris, onde Andrew sempre me levava. Corria como louca para lá, sabia que algo estava errado, algo muito errado. Cheguei ao topo, com alguns arranhões e cortes devido a minha pressa, e entrei em choque.
Um demônio asqueroso, em forma de bola com bolhas azuis-esverdeadas em todo o corpo, olhos cor de ambar e sete tentáculos pretos. Um dos tentáculos enforcava Andrew ao mesmo tempo em que arrancava sua cabeça do pescoço. Emma e Julian... Eles... Eles... Estavam mortos... Suas cabeças... Descepadas... O sangue enchendo toda a caverna...

-Não!! -berrei e corri na direção do demônio.

Saquei minha lâmina serafim e gritei o nome do anjo correspondente e ela brilhou, cortei o tentáculo que prendia Andrew e depois enfiei a espada nele. Ele se encolheu e explodiu, o icor demoníaco queimava minha pele, mas ignorei e corri para Andrew. Ele estava com o pescoço por um fio e gemia de dor. As lágrimas brotavam como um rio em meus olhos.

-Podia ter chegado antes... -ele disse- Poderia ter salvo todos nós... Poderia...
-Andrew? -nada- Andrew! Andrew! Por favor! Acorde! Eu não posso viver sem vocês...

Um ruído ao fundo da caverna me chamou a atenção. As partes do demônio que explodiu, estavam se juntando. Ele se formou novamente e tentei pegar minha lamina mas... Cade ela?? E agora??
Tentei me desviar, mas... Um dos tentáculos me pegou e me fez olhar toda minha família morta...

-Não!!! -berrei.

O demônio me jogou e fui caindo montanha a baixo, o furacão veio e me levou para outro lugar.

Gritei para que qualquer outra memória voltasse, para tentar fazer alguma coisa, mas fiquei em um vazio. Onde tudo era preto e frio, muito frio. Gritei por alguém, qualquer um. E de repente, uma luz brilhou, me tirando de meu sono.

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Me sentei bruscamente, puxando o máximo de ar que conseguia. Minha visão estava borrada e meus ouvidos estavam entupidos. Quando os dois voltaram ao normal, percebi que estava gritando e me contorcendo. Braços me envolveram e eu agarrei um deles e o coloquei em baixo do meu pescoço, pedindo por um abraço. Seja de quem for, eu estava apavorada.

-O que... O que... Aconteceu... Comigo... -gaguejei.
-Eu sinto muito... Pensei que... Pensei, oh Deus -era Peter quem me segurava.

No momento, nem liguei de Peter Pan estar me abraçando. Algo me confortava naquele abraço, me sentia segura. Estava com frio, muito frio.

-Estou com frio... Muito frio...
-Aqui.

Ele balançou as mãos e logo uma manta me cobria, era quentinha.

-O que aconteceu comigo? O que... Foi aquilo? -disse e ele voltou a me abraçar.
-Tenho medo de te contar tudo e... Não confiar mais em mim.

Foram aquelas palavras, que me fizeram levantar e me afastar dele. Minhas pernas falharam e me apoiei na parede do interior da cabana dele. Ele correu para me pegar, mas eu levantei os braços. Indicando para ficar longe.

-Como teve coragem... -comecei- Como pode fazer com que esquecesse minha própria mãe?!
-Selina, eu... Sinto muito, mesmo. Sei que não acredita em mim, mas tem que saber que...
-Chega! -o interrompi- Chega! Peter... Eu confiei em você... Confiei! E você quase matou minha mãe, Jack, Tinke e vai me matar! Me de um bom motivo para que eu devesse acreditar em você!

O silêncio invadiu a cabana. Consegui me sustentar melhor e Peter correu para perto de mim. Me abraçou e me beijou. O contato de seus lábios nos meus me fez sentir mais... Leve. Permiti que ele aprofundasse o beijo e logo estávamos em um beijo apaixonante e viciante. Paramos apenas para pegar ar.

-Eu te amo, Selina Blacktorn.

Welcome to Neverland   •em revisão•Where stories live. Discover now