II Capítulo

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-Peter Pan...
-Selina Blacktorn!

Meu pai! Guardei o diário dentro da blusa e peguei qualquer coisa da prateleira e fingi ler.

-O que faz aqui? -ele perguntou com os braços cruzados.
-Estou lendo.
-Ah, é? Então me conte o que está lendo.
-Porque a curiosidade?
-Porque eu ficaria surpreso se você soubesse o que está lendo, sendo que o livro está de cabeça para baixo.

É, o livro estava de cabeça para baixo.

-Ãh... Ops?
-Vá para seu quarto Selina, e nunca mais venha aqui.
-Certo pai.

Tentei passar o mais discretamente por ele, corri para meu quarto e entrei no esconderijo secreto, que ficava dentro do guarda roupa, que dava para uma espécie de quarto do pânico. Todos os quartos do Instituto tem este quarto do pânico, caso aconteça um ataque inesperado.
Tinha uma lanterna e algumas garrafas de água. Deixei a porta aberta para respirar um pouco, liguei a lanterna e continuei a ler o diário de minha mãe.

"Peter me parecia perigoso, e, ao mesmo tempo, amigável. Ele disse que ouviu meu chamado e que me levaria até lá, que se chamava Neverland. Disse que era impossível, mas ele simplesmente voou e disse: 'será?'. Ele se aproximou de mim, quase encostando sua testa na minha e jogou um pó brilhante verde em mim. Quando percebi, ele me segurava pelos braços para não bater a cabeça no teto. Ele pegou em minha mão e foi me levando para os céus... Minha casa foi ficando pequena, até sumir. Senti um enorme maremoto se bater sobre mim, a mão de Peter soltar a minha e caí em um terreno macio. Estava em uma floresta, e Peter apareceu dizendo que agora, este era meu novo lar."

-Selina!

Ouvi a voz da minha mãe me chamando e saí do quarto do pânico, deixando o diário lá dentro.

-O que foi? -perguntei.
-O que estava fazendo no quarto do pânico?
-Bom... Lendo.
-Lendo? -ela fez uma expressão confusa- Se for um dos livros da ala proibida...
-Não é, eu juro.
-Bom que seja. Vim te chamar para jantar.
-Okay, mas espera.
-O que foi?
-Andrew está cozinhando desta vez?
-Depois do Natal, nunca mais deixo ele entrar na minha cozinha.
-Ufa, viveremos mais um dia.

Rimos e fomos para a sala de jantar. O Instituto era enorme, as vezes o achava longo demais. Finalmente chegamos na sala de jantar e notei que meu pai tinha pedido comida chinesa para os três e uma pizza para mim. Detesto comida chinesa, amo pizza! Comi três pedaços de peito de peru e dois de atum. Adoro pizza. Conversei com todos por várias horas, mas pouco me intrometia nos assuntos.
Toda a hora eles falavam das caçadas que tiveram, aventuras passadas, equipamentos novos que pretendiam comprar, coisas da Clave, entre outros. As vezes me sinto uma alienígena perto deles. Nunca conseguia conversar direito, pois sempre falavam sobre assuntos mais adultos.
Sentia falta da época em que Andrew não tinha amadurecido, uma época em que brincávamos de espadas de plástico e corríamos por todo Instituto. Uma vez ele me levou para a estufa e esperamos até a meia-noite. Eu não estava entendendo o porque, mas quando deu o horário, valeu muito a pena. Naquele dia eu tinha dito que nunca iria ter amigas, seria sempre eu. Andrew disse que queria me animar, e conseguiu. Eu fiquei fascinada com as flores e o cheiro que saíam delas. É a única lembrança que, na minha opinião, vale a pena guardar.

-Selina?

Voltei a realidade e vi que Andrew me chamava.

-O que foi?
-Lhe fiz uma pergunta.
-Eu não ouvi, desculpe.
-Porque estava na ala proibida hoje?
-Porque... -todos me olhavam, odeio quando fazem isso- Todos os meus livros estavam velhos e entediantes, só queria algo novo.
-Você é igual a sua mãe... -meu pai disse, meio triste- Impressionante.

Fiquei mais um pouco, mas quando eles falaram sobre um lobisomem que se matou e arrancou as próprias tripas, fiquei enjoada e fui para meu quarto.
Em certo ponto do Instituto, havia uma ponte coberta que separava os quartos e as outras salas. Me sentei em uma beirada e apoiei as costas em uma das vigas. Olhei para o céu... Nova York não tinha um céu estrelado. Só tinha poucas luzes, que as vezes eram aviões passando. Me sinto um pássaro na gaiola aqui.

-Quero ser livre e feliz... -comentei muito baixinho, ninguém estava perto, então só eu ouvi.

Nunca tive ninguém além deles três, e isso é frustrante. Eu... Sempre quis alguma amiga, ou outro amigo. Sempre quis outra pessoa como amigo... Me sinto tão sozinha.

-Tudo isso acabará logo, Emma.

Meu pai! As pontes do Instituto tem barras embaixo delas, perfeitas para sustentação da ponte e perfeito para pessoas se apoiarem nelas e ouvirem as conversas do pai e da mãe. Me joguei para o lado, agarrei uma das barras, enfiei meus pés nas barras da frente e fiquei quieta para ouvir o que eles estavam falando.

-Eu sei Julian... É que tenho muito medo do que Selina pode fazer.
-Ela tem apenas 15 anos.
-Fará 16 em três dias, será considerada de maior para o mundo.
-O mundo mundano.
-Mas ela acha que com 16 será de maior para a Clave, ela é espontânea e vai querer fazer alguma loucura. E agora que eu sei qual livro ela pegou...
-Acalme-se Emma, ela é sua filha. Tem as suas melhores características.
-É disso que tenho medo.

Estremeci ao ouvir isso.

-Eu sei qual diário ela pegou da ala proibida, e espero que não tenha lido nada.
-Você tinha um diário de viajem? Porque nunca me contou Emma?
-Porque... Você não entenderia.

Ouvi passos, e então, silêncio. Peguei a borda da janela e me forcei para cima. Me sentei no chão da ponte e pensei sobre o que minha mãe havia dito. Ela não confia em mim? É apenas um livro. Certo?

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Voltei a ler o diário.

"Passei as semanas seguintes dançando e cantando com os meninos e Peter. Ele foi se tornando tão amigável que o considerava meu irmão, praticamente. Era muito ingênua na época, então quando ele me pediu para entrar com ele em uma ilha em forma de caveira, descobri que ele queria meu coração. Peter precisava do coração de um verdadeiro crédulo para poder viver para sempre. Eu entrei em pânico e corri, mas ele me encurralou. Eu joguei pó de fada em mim e voei para longe, e por milagre, cheguei em Los Angeles novamente. Julian foi o primeiro a ve abraçar, disse que eu havia sumido por seis meses, mas havia parecido dois meses. Nunca mais a sombra de Peter ou o próprio Pan me encontraram, e agradeci aos céus e a Raziel por isso."

Minha mãe teve uma aventura e tanto. Mas se ela descrevia Pan tão bem, porque ele a deixou escapar? E porque ela tem tanto medo que eu leia este livro? É apenas um diário.
Este diário, essas palavras... Parte de mim não acreditava na história e outra estava fascinada para saber se Peter era tão ruim assim. Mas uma coisa também estava me intrigando... Ela descreveu tudo tão bem no início, porque no final ela escreveu tudo tão depressa? Ficou corrido o final da história. Me pergunto o que pode ter acontecido.
Me levantei para dormir e vi uma coisa incomum no meu quarto... Uma sombra.
Sombra! Não, não, não! Gritei quando ela avançou na minha direção. Pouco me lembro depois disso, pois havia apagado na mesma hora.

Welcome to Neverland   •em revisão•Where stories live. Discover now