memoria

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Dean Bianchi
Quattri anni prima
(Quatro anos antes)

Meus pés batem com força contra o gramado a caminho da entrada de casa, tentando descontar toda minha raiva nele, mas não ouço o barulho que eles ecoam, e isso me deixa ainda mais estressado. Subo os degraus da varanda e quando abro a porta, a fecho com toda a força possível, sentindo prazer em ouvir o som alto causado.

Atravesso o hall de entrada, sentindo o olhar dos empregados em mim e subo as escadas pisando com força em cada degrau.

— Dean? – Ouço me chamarem, mas apenas ignoro e continuo a subir as escadas.

Atravesso todo o corredor com portas coloridas de cada um dos meus irmãos e quando chego na porta preta, a abro com força. O som forte causado ao encostar na parede me traz um pouco mais de felicidade.

— Dean! – Ouço a voz, agora zangada, pelo corredor.

Retiro a mochila das costas e jogo no chão perto da escrivaninha, tiro os tênis com os pés e puxo a gravata infernal do uniforme enquanto me aproximo da cama. Ouço-a entrar em meu quarto e fecho os olhos com força.

— Se tiver danificado algo, seu pai ficará bravo.

— Tô nem ai. – Resmungo, desisto de tirar a gravata e me jogo de costas na cama. Ouço seus passos se aproximarem de mim e abro os olhos.

Antonella está em pé a minha direita, me encarando. Suas sobrancelhas, acima de seus olhos azuis, estão franzidas, um sinal de raiva, seus cabelos - antes pretos, agora em sua cor natural -  loiros estão presos no alto da cabeça, ela veste um vestido branco sujo pelas tintas que usa em seus quadros e suas mãos estão apoiadas na cintura. Ela arqueia as sobrancelhas, esperando que eu fale, mas desvio o olhar para o teto.

A ouço bufar e então, o colchão ao meu lado se afunda, ela se sentou.

— Cadê seus irmãos? - Pergunta por meus primos e meus irmãos.

— Por ai. – Resmungo.

— Veio sozinho? Cadê seu carro?

— Vim a pé, precisava extravasar a raiva.

— O que aconteceu? – Respiro fundo, mas não desvio o olhar do teto – Querido – Sinto uma de suas mãos em meus cabelos e fecho os olhos, apreciando o gesto. – O que foi?

— Lodovica terminou comigo – Odeio como minha voz reflete como eu me sinto por dentro: triste pra caralho.

Me sento na cama, e me viro, ficando de frente para ela, ao ver meus olhos, ela abre um sorriso confortante.

— Oh querido – Sinto seus braços passarem ao meu redor, mas não retribuo, como sempre, como eu precisava ser. Antonella se afasta e leva ambas as mãos ao meu rosto, me olhando atenta. – Como você está?

— Ótimo. – Dou de ombros, mas sei que ela não acredita.

— Dean, às vezes não faz mal quebrar – Um de seus polegares acaricia minha bochecha – Você não precisa ser forte o tempo todo, você é só um garoto de quinze anos, chorar não vai lhe fazer menos corajoso. – Encaro seus olhos azuis e então, me permito chorar.

Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e com rapidez elas escorrem pelo meu rosto. Antonella me abraça e eu, pela primeira vez em muito tempo, retribuo, a abraçando com força. Encosto o nariz em seu pescoço e respiro fundo seu perfume floral, que me faz chorar ainda mais e alguns soluços me escaparem.

Longos minutos se passam, com Antonella apenas acariciando minhas costas e meus cabelos e quando consigo parar de chorar, respiro fundo e me afasto. Passo as mãos pelo rosto, secando as lágrimas que incrivelmente fizeram me sentir melhor.

— Quer desabafar?

— Eu tô cansado de ser conhecido como o filho do traficante – Minha voz sai rouca por causa do choro – Eu tô cansado de todos naquele maldito colégio me temerem, de não quererem se aproximar, de não ter amigos por isso e a única namorada que tive – Solto uma risada de raiva – Me deu um pé na bunda porque não quer continuar namorando com o filho do traficante. – Antonella respira fundo e segura minhas mãos.

— Eu sei que nossa família não é bem vista nessa cidade, mas infelizmente, esse é o trabalho do seu pai, que foi passado pelo pai dele para ele, e é ele que coloca comida na mesa...

— E também é ele que mata pessoas. – A interrompo, a fazendo engolir em seco.

— Tem razão, não é algo bonito e reconheço isso – Ela solta um suspiro. – Mas é o que temos, é o que nos foi oferecido...

— Por que ele não negou? – Pergunto me levantando. Não consigo ficar parado, a adrenalina está correndo pelo meu corpo e preciso me movimentar, então começo a andar pelo quarto, Antonella me acompanha com o olhar. – Por que ele aceitou?

— Ele foi criado desde cedo para assumir isso querido, esse era o maior orgulho de seu avô.

— Algo ilegal? – Paro em sua frente e cruzo os braços – Por que você aceitou tudo isso? Você tinha uma vida normal. – Antonella desvia o olhar, fugindo do assunto, como sempre fazia quando perguntávamos sobre sua antiga vida antes de chegar nessa casa há dez anos.

— Você não precisa assumir o posto dele. – A olho zangado por ter tocado na ferida.

— Eu preciso – Descruzo os braços, exausto – Se não for eu, será Dante, ou Matteo, Pietro, Martina... – Nego com a cabeça – Não quero que eles recebam esse peso.

— Nem você deveria receber querido – Ela suspira e puxa minhas mãos, para voltar a sentar ao seu lado – Seus irmãos nunca vão te abandonar, você nunca ficará sozinho, eu vejo o amor que há entre vocês – Engulo em seco – E eu sei que um dia você encontrará uma garota incrível também para completar essa família. – Solto um riso.

— Quem vai querer namorar um traficante? – Antonella abre um sorriso.

— Não se pode mandar no coração querido, o amor sempre fala mais alto – Ela fecha o sorriso e me olha séria – E se um dia você quiser desistir de tudo isso por amor, faça – Arregalo os olhos, surpreso por ela dizer isso – Dinheiro não traz felicidade Dean, amor sim, amor de irmãos, de namorados, amor. Seu pai vai lhe deixar um império quando se for, e quando isso acontecer, caberá a você decidir se quer continuar com ele ou não. – Engulo em seco, sem saber o que responder.

Antonella se inclina em minha direção e deixa um beijo suave em minha testa, antes de se levantar.

— Você é um garoto incrível querido, ela ou ele verá isso - Ela solta uma piscadela. - E infelizmente, todos acabamos tendo o coração partido pelo menos uma vez.

— Ela não partiu meu coração. – Resmungo, a fazendo sorrir.

— Ainda assim, não desista do amor só porque deu errado na primeira vez, se você ama alguém, lute por ele ou ela, e só se permita desistir quando não houver mais nenhuma batalha a qual lutar.

Antonella pega minha mochila jogada no chão e a coloca com delicadeza em cima da escrivaninha. Quando ela está se aproximando da porta, a chamo:

— Antonella – Ela olha para mim. Engulo em seco, isso sempre foi mais difícil para mim do que para meus irmãos, mas ela precisa ouvir de mim pelo menos uma vez: - Eu te amo mãe.

Seus olhos azuis brilham como nunca antes e começam a se encherem de lágrimas. Eles sempre ficam assim quando algum de nós a chama de mãe, raramente vindo de mim, eu sempre achei que tinha algo a mais do que simples emoção do momento.

— Eu sei querido – Ela engole em seco e limpa uma lágrima que escorreu pelo seu rosto – Eu também te amo Dean.

NOTAS FINAIS
SURPRESA SURPRESA!!
Decidi trazer um capítulo a mais para vocês, então no total terá quatro capítulos hoje!!!
Espero que tenham gostado, e terá outras memórias de Dean como essa ;)
Próximo capítulo às 18hrs!

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