ventisei

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Acho que todo mundo já ouviu o ditado "viva cada dia como se fosse o último", eu já pelo menos, infelizmente, nunca havia dado valor a ele até ver os olhos castanhos sem vida da garota loira no chão a minha frente.

O pequeno e apertado corredor lotou rapidamente com todos vindo olhar a cena. Continuei no chão enquanto os meninos avaliavam a situação dentro do banheiro, felizmente, tampando minha visão do corpo de Letitia. Francesca segura minha mão, à esquerda, sentada no chão ao meu lado, tão em choque quanto eu, enquanto repete que poderia ter sido uma de nós, mas duvido muito disso. Fiquei surpresa por Martina se negar a entrar no banheiro, preferindo ficar do lado de fora, e juro que vi seus olhos encherem de lágrimas.

Eu não era exatamente amiga de Letitia, talvez com mais tempo, mas temia pelas suas escolhas e pelo que poderia acontecer com ela, isso provavelmente me fez criar algum tipo de compaixão por ela, e ver ela, morta, com uma expressão parecida com a de Luna no rosto, dói pra caralho. Por que ela? Por que Luna? Por que todas essas mortes? E se eu for a próxima? E se for Francesca? Kaori? Eu não aguento mais tantas mortes em vão, jovens com tanta vida pela frente, porra, Letitia estava grávida.

— Ela estava grávida. – Falo pela primeira vez desde que abri a porta do maldito banheiro, minha voz soa rouca pelas lágrimas que tento segurar.

— O quê? – Martina vira a cabeça na minha direção, mas não consigo desviar o olhar de onde o corpo dela está, mesmo que esteja sendo tampado pelo corpo de Ettore.

— Ela estava grávida. – Volto a repetir em um tom mais audível, que faz os caras se virarem em nossa direção.

— Puta merda – Francesca exaspera ao meu lado, solta minha mão e leva ambas as mãos ao rosto. Ouço seu soluço entre suas mãos, eu não sei porque, mas não consigo chorar, apesar de querer – Por que essa merda tá acontecendo? Por que ela? – Ela funga e levo a mão a sua cabeça, afagando seus cabelos ruivos, tentando a acalmar de alguma forma. O corpo de Martina desliza pela parede ao meu lado, à direita, até chegar ao chão.

— O que a gente faz? – Ela pergunta. Dante suspira.

— Detesto admitir isso, mas precisamos ligar para De Luca.

— Porra – Ettore resmunga. – Não quero ouvir mais um discurso dele de como nossas drogas vêm matando um monte de gente.

— E o que você quer fazer? – Dante se vira para ele.

— Ele vai querer nos questionar de novo. – Ettore cruza os braços. Ergo o olhar para eles.

— Ele sabe que não somos culpados, assim como das outras vezes. – Sinto um arrepio passar por mim com a afirmação de Pietro.

Pisco, atônita e caindo em mim. Nenhum deles matou Letitia, pelo menos não os que estão aqui. Uma sensação de alivio passa por mim quando constato que Dean pode não ter matado Letitia, mas ainda assim, pode ter matado Luna, ou poderia ter mandado alguém matar, e além do mais, onde está Matteo? Olho ao redor, só agora notando que ele não veio conosco.

— Precisamos conversar. – Ergo o olhar para Dean, percebendo que ele fala comigo, o maxilar trincado ressalta o seu rosto totalmente sério.

— Eu... – Olho para os outros que me encaram incertos. – Agora?

— Antes que essas paranoias em sua cabeça piorem.

— M-mas, e Letitia? – Dean suspira e se vira para os outros.

— Liguem para De Luca e resolvam tudo com ele, Martina – Se vira para a garota. – Leve Francesca para dar uma volta.

— Por que eu? – Pergunta, a voz saindo em um murmuro baixo.

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