diciotto

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Engulo em seco assim que Letitia vira o rosto, escondendo-o de mim. Suas mãos passam com força em seu rosto e então seus soluços param, deixando o banheiro estranhamente silencioso.

— O que faz aqui? – Sua voz soa rouca.

— Eu ouvi soluços, então decidi ver o que era. – Ela ri com deboche.

— Então além de tudo, é uma enxerida?

Respiro fundo, sua reação é totalmente natural nessa situação, eu discutir com ela sobre sua grosseria não ajudaria em nada.

Fecho a porta atrás de mim e giro a chave, impedindo alguém de entrar no banheiro unissex.

Me aproximo a passos receosos e me sento ao seu lado, segurando uma cara de nojo por aquele chão sujo, definitivamente precisam contratar uma equipe de limpeza para limpar esse lugar, se não fosse por nós, que varremos o salão e limpamos as mesas e a cozinha, esse lugar todo seria um tremendo chiqueiro. Olho para a mesma direção que ela, a parede de azulejos que um dia já fora branca.

— Então, como se sente?

— Será que dá para você me deixar em paz? – Sua voz soa ríspida e dirigida totalmente em minha direção, mas não desvio o olhar da parede suja.

— Ok, eu mereci pela pergunta idiota, claramente as lágrimas não eram de alegria.

— Eu tô falando sério Anabela, me deixa em paz. Não é só porque você tá tendo um caso com Dean, que pode fazer tudo que quiser. – Franzo o cenho.

— Isso nem faz sentido – Reviro os olhos. – Eu não gosto de você Letitia.

— Idem. – Resmunga.

— Eu estou falando, será que pode fechar a boca e me ouvir? – Olho para ela que me olha com a boca aberta em choque, mas se cala – Obrigada – Volto a olhar para a parede – Não gosto de você, te acho extremamente grosseira e uma péssima funcionária, já que passa metade do tempo nos fundos se pegando com os clientes. E para falar a verdade, eu acho ridículo o motivo de você não gostar de mim – Bufo, me lembrando da nossa conversa de dias atrás– Mas tudo bem, eu não posso e nem quero te forçar a gostar de mim ou ao menos ser educada, mas se eu estivesse nessa situação – Olho para o teste em suas mãos – Eu iria querer desabafar com alguém, e um praticamente desconhecido que eu odeio, me pareceria uma boa ideia, afinal, o que diria, não me afetaria – Solto um suspiro – Mas se você prefere ficar aqui, chorar e me xingar ao em vez de aceitar a minha ajuda, ótimo, te desejo boa sorte para lidar com essa situação. – Tomo impulso para me levantar, mas a sua mão segura meu pulso. Paro o movimento e olho para Letitia que encara o chão.

— Fica – Seu pedido soa em um sussurro. – Por favor.

Assinto, sentindo sua mão deixar meu pulso. Me viro em sua direção e espero ela começar a falar.

— Não era para isso acontecer – Ela apoia os cotovelos nas pernas cruzadas – Não era para acontecer – Funga – Eu só tenho vinte e um anos e porra – Ergue a cabeça – Olha para mim, eu trabalho em um lugar de merda, meu salário vai todo para as despesas da faculdade e meus pais me odeiam – Solta um riso – Não tenho amigos, pois todos viraram a cara quando comecei a sair com os Ghostins e esses caras ai fora – Aponta para a porta – Estão pouco se fodendo para como eu me sinto e o pior – Dá outra risada. – Eu tô desabafando com você porque eu não tenho nenhuma merda de pessoa para contar nessa situação, nem mesmo o pai dessa criança.

Pisco em choque com toda a revelação e decido ignorar a alfinetada da última parte.

— Eles não ligam para você? Mas você é praticamente um deles.

OverdoseWhere stories live. Discover now