trentasei

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Giovedi

Eu já estive na cadeia antes, mas não desse lado.

Por meu pai ser delegado, eu vivia na delegacia com ele, desde que me conheço por gente, eu brincava com folhas de papel e comia rosquinhas, mas acima de tudo, eu via gente sendo presa, dia após dia, alguns por delitos enormes, e outros por pequenos, como um senhor que uma vez foi preso por roubar pão para sua família -eu odiei assistir aquilo-. Isso tudo talvez tenha me influenciado querer seguir essa carreira, mas também me fez querer nunca mesmo ser presa, eu nunca vi o lado de dentro da delegacia, com celas e detentos, mas sempre soube o quão ruim era.

Me sinto então, decepcionada ao acordar com a luz do sol atravessando o pequeno vão na parede, que é ridículo chamar de janela, no dia seguinte. Meu corpo todo dói, por ter dormido sentada no chão da cela, mas não mais que minha cabeça que com o mero movimento de a afastar da parede, me faz gemer de dor. Que ótimo, presa e com ressaca.

Olhando ao redor, encontro Zoe deitada no chão do outro lado da pequena cela, só consigo ver seus cabelos loiros apoiados em seus braços por estar dormindo de costas para mim. A minha direita, encontro Francesca dormindo no único colchão disponível no local, e apesar de ela parecer tão péssima quanto eu, fico puta da vida por ela ser a única ocupando o melhor lugar para dormir.

Solto um suspiro e olho para as grades da cela, encarando a cela do outro lado, vazia, quando chegamos, na noite anterior, eles estavam soltando um grupo de caras que roubaram uma joalheria na costa, e nos tornamos seus únicos hospedes, quem dera isso nos trouxesse alguma mordomia.

A polícia demorou vários minutos para chegar na arena, e durante aquele tempo, o segurança impaciente quis que ficássemos com as mãos para o alto. Quando chegou, fomos colocadas em uma viatura, viatura! E levadas a delegacia. Fran passou todo o caminho resmungando para os oficiais que eles iriam se arrepender daquilo e que ela tinha contatos, mas por sermos três garotas bêbadas, uma delas, Zoe, rindo para as árvores que passavam, eles pouco deram atenção. Foi por isso também que nos empurraram para uma cela e decidiram lidar com a gente só quando tivéssemos sóbrias.

Ouço um gemido de dor sair de uma das meninas e demoro a reconhecer que vem de Zoe. A loira resmunga e se vira, ficando de barriga para cima, mas demora longos minutos para abrir os olhos e pronunciar algo:

— Eu morri?

— Se morreu, isso aqui definitivamente não é o céu. – Resmungo, e fico surpresa com o quanto minha voz sai rouca. Zoe olha para mim, e parece surpresa por me ver ali.

— Onde estamos?

— Não se lembra? – Pergunto, e uma cara pensativa surge em seu rosto.

Não fico surpresa por seu esquecimento, ela parecia outra pessoa ontem, e definitivamente bebeu bem mais do que eu. Fran resmunga na cama, mas assim que desperta, se senta com tudo e arregala os olhos.

— Eu estou presa? – Ela grita e leva a mão a cabeça. – Ai meu Deus.

— Aí merda – Zoe exclama, se sentando com lentidão. – Isso é culpa minha, me desculpem.

— Você não nos apontou uma arma na cabeça e nos obrigou a invadir a arena – Dou de ombros. – Apesar de ter tido uma arma apontada para a cabeça no fim da noite.

— Quando vamos sair daqui? Ligaram para alguém? – Fran pergunta.

— Não deixaram a gente ligar ontem por causa do nosso estado. – Explico.

— Bom, mas terão que deixar agora – Fran se levanta e começa a gritar. – Alooo, cadê os guardas desse lugar? Eu quero fazer uma ligação.

OverdoseWhere stories live. Discover now