trenta

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— Você não deveria estar no trabalho? – Pergunto assim que vejo Francesca do outro lado da porta.

Fran revira os olhos e empurra as sacolas que carregava, em meu peito, me empurrando para dentro do quarto junto. São quase nove horas da noite, e não vejo motivos para Fran ter aparecido na porta do meu quarto. Não consigo não pensar que seja algo ruim, mas ao sentir o cheiro de comida vindo da sacola, tento relaxar.

— Não sabe das novidades? – Fran se joga na cama de Zoe, retira com os próprios pés as botas cano curto brancas que calçava e as cruza em cima da cama.

— Quais? Há tantas... – Coloco as duas sacolas em cima do pequeno frigobar e abro a primeira, vendo caixas com o logo do restaurante de frango no centro dentro.

— O Roccia tá em reforma – Ergo o olhar surpreso para ela – A polícia interditou o local para o caso, toda a cidade acabou descobrindo sobre o que aconteceu e não quis voltar lá, então o chefe resolveu fechar e reformar. – Ela puxa a sacola mais perto dela e retira algumas caixas.

— Você tá sem emprego então? – Ela dá de ombros.

— Eu tenho umas economias, vou ficar de folga por um tempo.

— E Lorenzo e Merlorie? – Ela abre uma das caixas, e o cheiro de batatas fritas toma conta do lugar, fazendo meu estomago roncar.

— Lorenzo conseguiu emprego em um restaurante, Merlorie vai tocar em um bar na zona sul.

— Merlorie tem uma banda?

— Tem, e é o vocalista, acredita? – Solto uma risada antes de pegar uma das caixas e abrir, revelando frango frito.

— E o que faz aqui?

— Vim visitar minha amiga, não posso? – Abro um pequeno sorriso – Sei que quer se afastar dos Ghostins e de toda essa merda, mas não vai se livrar de mim garota. – Solto um suspiro.

— Sinceramente Fran? – Ela ergue o olhar para mim, sua boca cheia de batatas – Você foi uma das melhores coisas que me aconteceu desde que cheguei a essa cidade – Vejo os olhos dela se encherem de lágrimas – E mil desculpas por ter te usado, mas sinto lhe dizer que não me arrependo, eu precisava, e se não fosse por isso, não teria conhecido a garota incrível que você é.

— Porra morena para de me fazer querer chorar .– Ela passa um guardanapo por debaixo dos olhos.

— Não me chame de morena – Resmungo e pego um guardanapo, para então pegar uma coxa de frango – Me lembra de Dante. – Faço uma careta.

— Ah pare, ele não é tão ruim assim, ele é o mais engraçado de todos. – Reviro os olhos e relutantemente, assinto com a cabeça.

— Talvez, mas quero esquecer ele e todos os outros – Dou uma mordida no frango e só volto a falar após mastigar algumas vezes: - Apesar de Martina parecer querer o oposto.

— Soube da ameaça dela – Fran assente com a cabeça – Sei que não foi a melhor forma, mas você realmente precisa conversar com Dean, deve ter um monte de perguntas aí dentro – Aponta para a própria cabeça, se referindo a minha – Aproveite o momento. – Assinto com a cabeça e termino de mastigar.

— Escuta... Como a família de Letitia reagiu? – Ergo receosa o olhar para a ruiva. Fran solta um suspiro antes de me responder:

— O funeral foi lindo, mas pareceu tão... forçado, os pais dela nem choraram.

— Todo mundo demostra os sentimentos de formas diferentes.

— É, prefiro acreditar nisso do que pensar que os pais dela eram tão filhos da puta que nem ficaram tristes com a morte da filha.

OverdoseDonde viven las historias. Descúbrelo ahora