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Sabatto

Levou mais de uma semana para meu pai finalmente retornar minha ligação.

Uma música pop chiclete soa pelo ambiente me fazendo acordar de meu sonho com Harry Styles. Abro meus olhos com dificuldade, e então estico a mão até a mesa da cabeceira onde lembro-me de ter deixado o celular, olho as horas antes de aceitar a chamada e levar o celular ao ouvido.

Buongiorno. – Saúdo, ouvindo um suspiro em resposta.

— Oi cucciolo. – Solto um riso ao ouvir o apelido antigo.

— Oi pai, como você está?

— Como sempre fico nesta data. – Apoio a outra mão na cama e me sento.

— Você demorou mais desta vez .– Meu pai nunca falava comigo na data em que minha mãe se foi, ele preferia passar o dia isolado, na maior parte bebendo ou trancado em seu quarto, mas ele nunca demorou dez dias para se recuperar.

— Esse ano faríamos vinte anos de casado.

— Ah. – Solto um murmuro, sem saber o que responder, nós não éramos do tipo que diz sinto muito, raramente dizíamos eu te amo para o outro.

— Como estão as aulas?

— Legal. – Olho ao redor do quarto, reparando pela primeira vez, que Kaori não está no quarto, como durante toda a semana passada.

A semana passou voando, felizmente não tive nenhum compromisso ou visita de Ghostins e consegui passar a semana focada nos estudos. Ainda assim consegui notar que Kaori saia antes de eu acordar, almoçava com seus novos amigos do jornal, e quando eu chegava do RR já estava dormindo. Ela está me evitando, e não posso a julgar por isso, na verdade, acho que não a ver como antes faz a culpa de estar escondendo coisas dela, diminuir.

— Tive alguns testes essa semana.

— Alguma nota ruim? – Solto uma risada.

— Não.

— Algum garoto? – Dessa vez, gargalho, ele parece estar de bom humor, o que me deixa aliviada.

— Garoto? Você nunca me perguntou de garotos, o que está acontecendo?

— Nada, só... – Ele tosse – Você está ficando mais velha, eu estou ficando mais velho, estive pensando em netos e...

— Netos? Velha? Eu dezenove anos.

— Dezenove anos – Ele suspira – Esqueça, ainda é muito nova, mas me diga... nenhum número desconhecido tentou entrar em contato contigo?

— Número? – Ajeito a postura, para meu pai perguntar isto, algo deve ter acontecido – Minha tia entrou em contato? – Algo parece cair do outro lado da linha.

— Sim – Solta um palavrão. – Ela está cada vez mais insistente.

— Ela não me vê há quatorze anos pai! – Falo com calma, sabendo que ele irá começar a se estressar. – E eu gostaria de vê-la, nunca entendi...

— Não. – Ele afirma, me interrompendo. Sinto raiva tomar conta de mim.

— Como o senhor bem sabe, estamos perto do natal, está mais que na hora de reunir nossa família pelo menos mais uma vez e... – Ele me interrompe:

— Ela não é da nossa família.

— Ela é a irmã da minha mãe, eu sempre tentei entender o seu lado, mas já estou sendo paciente a muitos anos - O ouço bufar – Eu não vejo ninguém da família dela há quatorze anos, quatorze – Ele se cala. – Não podemos ser só nós dois para sempre.

OverdoseOnde histórias criam vida. Descubra agora