quindici

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Venerdi

Eu não sei se as aulas estavam tão chatas, ou se eu apenas estou tão ansiosa para mais tarde que fora impossível de prestar atenção nelas. O professor Thiago, da última aula do dia, anda para lá e para cá, na frente da sala, explicando sobre a constituição, e todos o seguem com o olhar, mas eu sei que as garotas só se mantêm extremamente focadas por ele ser o professor galã do curso. Thiago deve ter no máximo trinta anos e começou a lecionar Direito da Constituição neste semestre, pelo o que ouvi falarem, antes, a aula era extremamente vazia, e agora se encontra lotada, exceto por uma pessoa.

Matteo faltou hoje, sua cadeira a minha frente está vazia. Desde que ele revelou que também estudava direito, passei a reparar nele nas aulas, desde então, ele também passou a sentar-se perto de mim. Matteo é legal, à primeira vista você poderia dizer que ele só está ali para ter um diploma, inclusive, era isso que até os professores pensavam, mas toda pergunta que eles o faziam, ele as respondia com perfeição, provando, mais uma vez, que não se deve julgar um livro pela capa.

Minha estranheza é que Matteo nunca falta, ao contrário de Dean e Dante. O primeiro, só fora em uma aula de Sociologia desde o começo do semestre, e o segundo, faltou na aula de ontem de Química. Algo me diz que Dante está me evitando, já que havíamos combinado de sermos amigos, pelo menos para ele, mas talvez o fato de nossas bocas terem trocado saliva o tenha feito desistir. Reviro os olhos, agora não é hora de pensar nisso, e ignorando os últimos acontecimentos, falarei com Dante.

— Teremos um teste na próxima aula – A voz de Thiago soa lá na frente. Ergo a cabeça dos rabiscos em meu caderno e o encaro – Recomendo que leiam os livros anotados no quadro, o teste valerá metade da nota do semestre – Vejo Candelária, que de repente passou a se sentar lá na frente, erguer a mão. – Sim, senhorita?

— Você poderia me recomendar algum outro livro, Thi? – Seguro a risada.

— Não seria justo com seus colegas – Ele olha para o relógio no pulso. – Venham preparados, não terá exame, até a próxima aula.

Guardo minhas coisas na mochila, após marcar a data na agenda, e saio da sala junto com os demais. O corredor parece a Avenida da Cidade no dia do desfile de natal, tão lotado que só há a possibilidade de seguir os outros.

Saio do prédio principal e viro à direita, em direção ao prédio Sciame para guardar os livros usados. Empurro as portas de vidro da entrada dando de cara com o hall, os pufes brancos que ficam ali estão todos ocupados, a mesa de hockey nos fundos rodeada por garotos e a de sinuca de garotas.

Cada prédio tem um estilo diferente de hall: no Corvi, o hall tem apenas um grande sofá preto e no fundo, uma área onde dizem ser para vitamina, mas todos sabem que tá mais para um bar. No Alphas, há pufes vermelhos em cima do chão de carpete e em frente a uma grande televisão de tela plana, acompanhada de alguns jogos modernos, tem também uma mini cozinha. Nunca entrei no prédio Locuste. Ao redor de todos os halls ficam os armários com a cor de cada casa.

Guardo toda a mochila no armário laranja e pego dois livros da aula de segunda. Terei que passar na biblioteca amanhã para pegar os livros recomendados pelo professor de hoje e por outros também, semana que vem terá alguns testes e eu preciso ir bem.

Vou para o fundo da sala, acenando para as garotas que me abrem sorrisos e tiro uma nota do bolso da calça para usar na máquina de lanches, chegarei em cima do horário no Roccia, sem tempo para almoçar.

Coloco a nota e aperto o botão do sanduíche natural de frango, mas a máquina nem fez barulho. Aperto de novo o botão, e sem resposta e com raiva, dou um chute nela.

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