Capítulo 14

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P.O.V Narrador


A inquietação de Carl persistira por três semanas, um período de tempo considerado até mesmo curto, mas que foi o suficiente para deprimi-lo. Ele esfregava suas mãos pálidas uma na outra, na tentativa de aquecê-las do frio. O Inverno havia chegado, Lacombrade era rodeada por um vasto deserto branco, que tornava toda a atmosfera do local ainda mais sombria. Os corredores da escola conseguiam manter a temperatura fresca até nos dias mais quentes de verão, e agora parecia que as paredes tinham a intenção de congelá-los.


O último mês do ano sempre aparentava ser o mais desgastante em termos físicos, levantar-se de sua cama pela manhã se transformava em uma tarefa mais árdua do que de costume. Tudo que podia pensar era no conforto que receberia após o término do ano letivo, poderia voltar para a casa de sua família e passar o Natal com Sebastian.O céu apresentava uma coloração acinzentada, como se a vida não se fizesse presente naquele local, tornando tudo ainda mais sombrio. Mas os jovens estudantes não haviam tempo para reparar em detalhes como este, a maior parte de seu tempo era ocupada preparando-se para as provas finais.


Essa época do ano conseguia ser um deleite e uma tortura ao mesmo tempo, os veteranos preocupavam-se imensamente com a possível aprovação para uma universidade renomada, enquanto os outros alunos focavam em impressionar os pais com nota altíssimas. Havia uma pequena parcela que não importava-se com as avaliações, eram esses repetentes, delinquentes ou até aqueles que não possuíam nenhum objetivo em mente para o ano que viria. Carl encontrava-se na grande porcentagem que dedicava-se inteiramente á estudar, colocando outras necessidades de lado por um curto período de tempo.


Seus pensamentos não conseguiam manter o foco somente nos livros que estudava, diversos empecilhos tiravam sua concentração, o fazendo se frustrar por desperdiçar tempo. Uma figura de cabelos avermelhados continuava enraizado em sua mente, há três semanas evitava contemplar a imagem do cientista, mas as memórias de momentos passados estavam vivas dentro de si. Aquilo ainda era algo que o deprimia diariamente, sentia-se vazio e e abatido, o que mais o levou a exaustão foi agir normalmente para os amigos, evitando de qualquer comportamento suspeito. Mas a vida não estava á favor de Carl, como se isso não fosse o suficiente para o tornar soturno, ele ainda recebera uma notícia repentina.


Recentemente, Serge havia o dito que precisava conversar com Carl em particular, e que o assunto era de extrema importância. O garoto religioso não soube o que esperar, uma parte de si apenas indagava sobre o que poderia ser, mas outra pequena parte, em que sua sutil fixação pelo pianista ainda existia, o deixava nervoso. Ele disse diretamente, sem rodeios ou preocupações, explicou toda situação ao amigo. Serge e Gilbert partiriam para Paris na próxima semana, e não possuíam a intenção de voltar.


O conceito da ideia em si não assustou Carl, ele já escutara histórias de estudantes que partiram de Lacombrade sem autorização ou aviso prévio, decidindo viver por si próprio ou com uma companheira em outro lugar. Mas quando tratava-se de seus amigos, sua reação era diferente, temia o que poderia acontecer.Sabia que a vida em Paris seria complicada, especialmente para dois jovens que nem sequer haviam alcançado a maioridade, e ainda por cima eram marginalizados por toda sociedade. Sua primeira preocupação foi se os amigos teriam onde dormir e o que comer, e como sobreviveriam até Serge receber oficialmente seu título de Visconde, juntamente com as posses e a herança de seu pai.


Conhecendo Gilbert, ele imaginava que não seria fácil para ele viver em um ambiente onde estaria completamente desprotegido, sem contar a ausência de suas habilidades sociais. Não houve questionamentos ou dúvidas, sabia de todas as motivações de Serge e de como os últimos dias têm sido difíceis para ambos, já que ele e seu colega de quarto foram separados á força. Não era o momento para expor as próprias inseguranças, ele deveria apoiar os amigos, mesmo não concordando com sua escolha. Ele sentia-se solitário, mesmo não estando literalmente só, mas tudo mudaria com o passar do tempo. Todos crescem algum dia, os dias de juventude eventualmente terminariam, mas não quer dizer que este processo não seria doloroso. Talvez aquela fosse sua despedida, havia uma chance de nunca mais reencontrá-los novamente, principalmente após a graduação.

As Lágrimas da Rosa AzulWhere stories live. Discover now