As Lágrimas da Rosa Azul

Capítulo 16

P.O.V Narrador

Provence, Academia Lacombrade – 4 de Junho de 1886

Carl Messier, um jovem singelo de cabelos tão escuros quanto noite, contemplava a agradável tarde de Verão e as disformes sombras que formavam-se graças á luz do Sol.

Através das grandes janelas da sala, era possível observar detalhadamente cada pequena parte que compunha a paisagem, desde as folhas esverdeadas até os animais que subiam pelas árvores.

Com uma das mãos apoiadas no vidro da janela, o jovem podia ver, de forma sutil, seu próprio reflexo. Era possível observar os efeitos que o tempo havia tido nele, seu rosto não havia mudado muito, apenas parecia mais velho.

Mesmo penteando-se todas as manhãs, alguns fios de cabelo ainda caíam sobre sua testa, o que o fazia se recordar do passado e lhe dava uma aparência mais jovial. Permanecia pálido, havia crescido um pouco e podia notar que sua voz havia mudado.

Não tinha mais 16 anos, mas as memórias de sua época de juventude ainda continuavam vívidas, principalmente pelo fato de nunca ter saído de Lacombrade. Olhando para trás, ele vê uma mesa com diversos pápeis, e notou que a decoração daquele lugar não mudou nem um pouco.

Após cinco anos, ele se encontrava diariamente naquela sala, local onde já frequentou algumas vezes, e onde poderia facilmente encontrar seu irmão Sebastian alguns anos atrás.

A antiga sala de Rosemariné, "O Príncipe Branco", que agora ocupava o posto do velho diretor após sua morte. Não era como se estivesse surpreso por ter ocupado este posto, desde muito jovem sabia desta possibilidade, mas ainda assim parecia algo muito distante.

Tudo era diferente agora, para Carl, aquele que mais mudou com o tempo foi Sebastian. Seu irmão completaria 13 anos, iniciaria sua juventude, talvez o período mais conturbado de sua vida.

Embora sentisse orgulho pelo o que Sebastian havia se tornado, temia que ele se desviasse para algum caminho ruim, pois sabia o quanto Lacombrade era capaz de corromper até os indivíduos mais puros.

Isso o fazia se recordar do seu passado, de quando sua vida começou a mudar graças ás pessoas que nela entraram. Recordava-se perfeitamente do primeiro dia de aula de seu irmão, do momento em que conheceu Gilbert, de cada lembrança que tinha com seus amigos.

Tudo permanecia fresco em sua memória, era como se o tempo simplesmente não tivesse passado. Via sua juventude com carinho, recheada de momentos bons, alguns ruins e outros que preferia esquecer.

Mas Carl prometeu para si mesmo que esforçaria-se para pensar mais no presente, e era isso que tentava fazer enquanto sentava-se de frente para á mesa coberta de papéis.

No entanto, certas coisas permaneciam iguais, Sebastian ainda era o preferido de Rosemariné. Ele fazia diversas visitas ao seu escritório, sempre acompanhado de uma bandeja contendo uma xícara de chá.

Ele também frequentava a sala do irmão diariamente, seja para entregar correspondências, relatar o que ocorria nos corredores ou simplesmente para aborrecê-lo. Não negava que Sebastian tirava proveito da posição de Carl, ter parentesco com o superintende lhe dava uma certa vantagem e proteção dos outros alunos.

O jovem de cabelos escuros apenas esperava que isso fosse o suficiente para proteger seu irmão, pois sabia como Lacombrade poderia corromper até o mais puro dos indivíduos.