Yoongi merecia um final feliz.

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Quando Yoongi acordou, sua boca estava aberta. A memória do pesadelo quente em sua mente, refrescando à todo momento. A luz do quarto apagada trazia o pavor, seu corpo se encolheu preso no cobertor. A franja caía em seu rosto, bagunçada, fazendo-o sentir o cheiro do shampoo vindo do próprio cabelo.

Fechou os olhos, mentalizando a cena se repetir, num loop.

Estava sozinho numa casa, usando camisa botão azul claro, junto de uma calça preta. E uma porta se abriu, revelando sua madrasta, que continha um olhar morto, mórbido. O rosto do homem se retorceu-se em pavor.
De susto, seu corpo foi ao chão, caindo com toda a força, tentou se afastar, rastejando pela casa, porém seus olhos mantinham-se presos aos da mulher. Sua madrasta não se segurou, ajoelhando na frente do corpo pálido. E então, brincou com os botões da roupa do garoto, selecionando alguns aleatórios para tirar. O botão se abria, e a mulher tocava a pele de Yoongi, as costas da mão lhe traziam nojo.

- Taehyung! - Gritou; o pânico batendo na porta de sua mente. - Taehyung!

E assim, seu pesadelo finalizou. Seu corpo estava lento, como se ainda estivesse desenvolvendo tudo que ocorreu, o pálido respirou fundo, passando a mão pelo rosto. Ainda conseguia se lembrar do olhar de sua madrasta. Cambaleando, saiu da cama, sentindo o coração bater forte ainda. O sol estava nascendo, deixando a luz alaranjada brilhar pela sua sala. Yoongi respirou fundo, precisando de um ar.

Isso. Precisava de ar. Precisava sentir a brisa bater pelo seu rosto, respirar fundo, e talvez, ver um pouco das flores. Abriu a porta da sua casa, pensando que horas poderia ser.
O clima estava úmido, quase frio, a rua vazia e as janelas da vizinhança fechadas, e sem nenhum pássaro nas árvores, provavelmente era por volta de quatro horas da manhã.

Parado em frente a sua casa, Yoongi pensou.

Primeiro, pensou na madrasta, porém soube que apenas pensar nela o faria mal novamente. Precisava pensar em algo feliz, havia tido muitos pesadelos recentemente, provavelmente era seu terceiro pesadelo da semana.

Isso. Pesadelo. Felicidade. Taehyung. Saúde mental boa.

Seu psicólogo havia sido muito gentil com o mesmo, estando ali naquele momento de choro,  verdade, Taehyung sempre esteve lá. Quando chorou na praça, quando chorou no parque, e até quando chorou em seu sonho. Era como se o psicólogo fosse seu ponto seguro, o escape de todo aquele trauma. Taehyung sempre esteve ali. Nos momentos de choro, ele esteve, o ouvindo e abraçando, dizendo que iria ficar tudo bem, e aos poucos Yoongi começava a acreditar naquela frase.

Estava tudo bem.

A rua cheia de flores tornava-se uma paisagem bela, e quase conseguia ouvir o som do click da câmera, o sol nascendo, as luzes passando pelas árvores. Sua casa era pequena, num amarelo pastel e cheia de flores na frente. A hera-japonesa começava a subir, crescendo pela casa. Gostava do tom vermelho que a mesma possuía.
Yoongi merecia um final feliz, na verdade, merecia ser feliz após tudo. Então, não teria problema em concordar com esse sentimento novo? Merecia ter alguém para o receber de braços abertos após um pesadelo, e depois saírem de casa para observar as flores e o sol nascer enquanto trocam carinho.

Confessava baixo, amava romances, gostava do jeito lento que o casal desenvolve o romance, acompanhando tudo, mas o que fazer quando poucos encontros tiveram grandes resultados? Continuava sendo amor?

Na verdade, nem soube responder se aquelas consultas eram encontros. Encontro representava sair e se divertir, comer e rir, mas não foi o que Taehyung havia feito?

Saíram para comer num piquenique, e exceto a parte do choro, havia sido maravilhoso.

Taehyung era alguém gentil, compreensivo, bonito. Ah, como era bonito. Yoongi poderia passar a noite encarando o rosto de pertinho, mas nunca perderia a graça. Queria deslizar o dedo pelo rosto, acariciar o nariz fino do psicólogo e tocar seus lábios cujo jurava ser tão macio.
Se fosse pra escolher as partes preferidas de Taehyung, o Min escolheria seu cabelo, olhos e sorriso.
O cabelo castanho grande ao ponto de ser considerado um mullet era algo incrível, como se fosse a peça essencial que transmitia a aura e essencial do Kim.  

O sorriso quadrado, parecia lhe chamar, como se dissesse "Hey, Yoongi! Veja como sou bonito, sorria comigo!"

E Yoongi não ousava desobedecer o pedido do belo sorriso.

A rua repleta de flores, deitadas no chão, algumas mortas e outras vivas, ainda brilhando forte. Que tipo de cor Taehyung gostava numa flor? Na verdade, qual era sua cor preferida? O psicólogo acordaria de madrugada só pra ouvir o pesadelo que o outro teve?
Acreditava ser amarelo, o mais velho tinha cara de quem gostava dessa cor. Amarelo lembra felicidade, calor, e Taehyung transmitia isso. E já para a outra questão, não sabia sua resposta. Tinha medo de irritar o Kim, e provavelmente o assunto do trauma era algo pesado e desconfortável demais.

Yoongi merecia uma história feliz. Merecia alguém para aguentar suas crises, desabafos e construir uma casa de sentimentos fortes. Mas talvez, Yoongi não se merecesse.

Se sentiu fraco, fraco por ter ficado calado naquele momento, e depois sentiu vergonha. Poderia ter feito algo, mas era apenas uma criança que tentava se enturmar e ser legal.
Taehyung era legal. Provavelmente o mais alto era popular na escola, do tipo que toda pessoa quer ficar perto, porque o Kim traz aquela sensação de segurança, como se todos os problemas fossem embora, restando apenas Taehyung e Yoongi.

E quando percebeu, desejava ver a rua coberta de flores junto de Taehyung. Aos poucos, a imagem de sua madrasta que uma vez foi despedaçada, foi substituída pela do psicólogo.  

Estar perto do Kim o fazia esquecer seus problemas e ao mesmo tempo tornar seu maior problema. Como lidaria, agora que estava apaixonado pelo seu psicólogo?

Yoongi merecia uma história feliz, ao lado de Taehyung.

E num segredo, chorou pela última vez, vendo o sol nascer a manhã iniciar. Prometeu para si mesmo que seria a última vez que choraria por isso, afinal, odiava chorar.
Teria um dia cheio, e daqui a pouco seu alarme irá tocar, avisando que era hora de se preparar para o trabalho.
Faria mal levar um buquê de flores para Taehyung? Aparecer de surpresa, talvez.

Yoongi: Bom dia, Tae
Qual sua flor preferida?



Surpreendentemente, o psicólogo respondeu na hora. Estava acordado.

Taehyung: Bom dia!
Hortênsias, por quê?



Yoongi: Final da tarde podemos nos encontrar?



Taehyung: Claro :)


myself; kth + mygOnde as histórias ganham vida. Descobre agora