Política do emprego, sem informações da consulta.

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Taehyung vivia um amor e ódio com seu emprego, amor por adorar ouvir as histórias de seus pacientes, e ódio por as vezes, seus conselhos quase nunca serem seguidos.

"- Crie uma tabela de horários, vai te ajudar a se organizar, assim as crises de choro irão diminuir."

E o paciente nunca mais voltou. Até hoje Taehyung não soube seu paradeiro, não soube a continuação da história do paciente.

Talvez, ser psicólogo fosse ser leitor. Onde uma vez por semana, uma hora fosse um capítulo da vida. Um romance, auto ajuda, um terror ou drama.

Naquela hora, Taehyung era apenas um leitor que prestava atenção em cada canto. Os movimentos, o olhar, tudo poderia mostrar momentos omitidos, um prólogo.

Quando palavras começavam a se tornar repetidas ou apenas movimentos circulares na mão; coxa ou sofá, o paciente estava relaxado. E caso a postura mudasse de forma extrema, era porquê vinha algo sério.

Saber a trama do livro logo no primeiro capítulo era algo que Taehyung desgostava. Não perdia a graça, mas era como se perdesse a magia e o livro se fechasse.

Falar sobre o assunto principal na primeira consulta era algo complicado, principalmente alguém como Yoongi.

Seu problema não era a falta da mãe, o garoto ficava confortável apenas em pensar na mesma. Seus olhos se tornavam negros macios, e um sorriso escapava. Então, o problema era a madrasta.

Era comum receber pacientes com casos de espancamento na infância, e talvez o Min fosse um desses casos.
Taehyung respirou fundo, vendo o garoto pálido sumir pela rua, indo embora. Seu estômago roncava numa fome bruta, não comia nada desde o almoço. Olhou o relógio, era sete horas da noite, Hoseok estava trabalhando e Jeongguk voltando da faculdade. Talvez devesse passar num restaurante e comprar cerveja e frango frito.

Viver com outros três homens era realmente algo difícil. Hoseok era professor de balé, voltava sempre animado e suado, dizendo o quanto ficava feliz ao ver suas alunas animadas e esforçadas; Jeongguk um garoto de dezoito anos, tinha acabado de entrar na pensão por conta de seus pais, foi expulso ao engravidar uma garota. A mesma fugiu levando o bebê entre o ventre e o coração do Jeon.
Seokjin era o dono da pensão, um homem que gostava de trabalhar de topete e óculos, apesar de Taehyung nunca saber verdadeiramente qual era seu emprego, apenas sabia que o mais velho tinha como hobby colecionar borboletas; algo que achava nojento.

A brisa fria da noite acariciava seu rosto, num toque simples. As nuvens tampavam as estrelas, suas mãos desceram até o bolso da calça, encaixando numa tentativa de aquecer.

O restaurante brilhava no final da rua, conseguia sentir o cheiro de carne e frango frito, no final, uma leve ardor de saquê. Seu estômago roncou novamente.

Abriu a boca num bocejo, tampando a mesma com a mão. Iria comprar comida, jantar e dormir assistindo televisão.

...

- Obrigado pela comida, Tae. - Jeongguk agradeceu, dando um último gole na bebida alcoólica. Hoseok limpava a mesa, em silêncio. Sua feição que era de alegria, agora era de chateação, era desse jeito quando o Jung estava bêbado; tornava-se alguém quieto.

Taehyung se levantou, as meias brancas tocando o chão num pequeno e baixo tac tac tac. Na cozinha, Seokjin começava a lavar a louça.

Cada homem era responsável por uma tarefa naquela pensão; Hoseok limpava, Jeongguk arrumava os quartos e jogava os lixos, Seokjin lavava a louça, já o psicólogo cuidava das compras.

Quando o banheiro estava livre, o Kim pegou sua toalha e foi em rumo ao chuveiro.

Quando entrou na faculdade, precisava de um canto seu, algo barato e perto da mesma. Seu professor disse que havia uma pensão perto, onde morou por pouco tempo. Desenhou um mapa para o Kim, o mesmo aceitou de bom grado.

A água quente deslizava pelo seu corpo cor caramelo, soltou um suspiro deleitoso. Seu cabelo molhado, a franja cobrindo seus olhos; encostou a testa no azuleijo da parede, fechando os olhos.

Naquele momento, gostava de repassar o seu dia, era como um manual; vendo seus erros ou seus acertos, até uma lembrança boa.

Acordou por volta das sete horas, Hoseok comia pão e ofereceu um para Taehyung, que aceitou de bom grado. Oito horas tomou um banho e se preparou para o trabalho.

O primeiro paciente foi Minhyuk, um garoto confuso com tudo. O mesmo tinha um caso de amnésia, perdendo as memórias da sua infância. Em seguida uma garota que se identificava como menino; Taehyung tinha certa pena da mesma.

O paciente precisava de um psicólogo, cuidando e ouvindo, a fim de dizer se era possível fazer a cirurgia ou não. Tinha passado por tanta coisa, pessoas não aceitando seu verdadeiro eu, ouvindo bobagens que cortavam seu coração. 

Quando deu seu horário de almoço, voltou para a pensão.
Jeongguk preparava o almoço, enquanto Hoseok assistia televisão.
Após ter seu almoço e descanso, voltou para o trabalho, para encontrar seu novo paciente.

Lembrou-se de ler a ficha do mesmo. Min Yoongi, dezenove anos. Nasceu em Daegu, e Taehyung abriu um sorriso ao ler esse fato, ambos nasceram na mesma cidade.

Yoongi parecia ser alguém introvertido, mas se soltava fácil, a conversa que teve com o mesmo foi boa demais para um primeiro encontro.

Talvez, iria começar a falar sobre seu motivo para a vinda no terceiro encontro.
Saiu do banho, enxugando seu cabelo enquanto tinha outra toalha amarrada na cintura.

- Hyung, posso mexer nas suas fichas? - Jeongguk gritou.

- Pode, só não bagunça!

Jeongguk sorriu, pegando a papelada do Kim; levou até o sofá, sentando.

Lee Minhyuk, 3 de novembro de 1993. Cabelos negros, nada de interessante.

Kim Taegeuk, não tinha interesse em mulheres. Viu uma folha nova, deixando um sorriso escapar.

- Hyuung! Você tem um paciente novo!
Seokjin sentou ao seu lado, pegando a folha.

- Tem razão.

- 1,74cm? - Leu. - Ele é menor que a gente.

- A pele dele é bem branca, não é? - O mais velho analisou, enquanto Hoseok se aproximava junto de Taehyung.

- Como foi com ele? - Jeon perguntou.

- Foi bom. - Comentou.

- Só isso?! Fala pra gente o problema dele, o que conversaram! - Jeongguk fez beiço, deixando que Hoseok olhasse a ficha.

- Política do emprego, sem informações da consulta.

- Você é chato, Taehyung.

- Oh, ele é bonito! Posso pegar o número dele na ficha? - Hoseok pediu, mexendo os dedos no peitoral do psicólogo.

- Claro que não! Não vou deixar você sair com um dos meus pacientes.

- Acho que já está na hora de dormir, huh? - O mais velho disse. Os outros apenas concordaram, estavam cansados e tiveram um dia cheio.

Taehyung começou a recolher as folhas, encarando cada uma antes de colocar na pasta amarela.
Minhyuk era um jovem comum, apesar de precisar muita paciência pra falar com o mesmo, seu nome sempre era esquecido pelo Lee.
Taegeuk era engraçado, e as vezes se sentia mal por não saber em como chamar o paciente; seu nome masculino ou feminino.

Yoongi era... Yoongi. Talvez, na próxima consulta fosse pedir um desenho do mesmo, para colocar na sua sala; o pálido parecia desenhar bem.

Guardou as folhas dentro da pasta, fechando. Abriu a boca num bocejo, era hora de dormir.

myself; kth + mygWhere stories live. Discover now