Éramos donos

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A brisa balançava meus cabelos. Pude ver a casa branca, alta e velha, as lembranças batiam a porta, quase me encorajando a fazer o mesmo.

A mochila pesava em meus ombros, e não consegui dizer se a mochila realmente estava pesada ou era somente minhas pernas bambas de medo. Há tanto tempo que eu não via meu pai, que mal consegui recordar de seu sorriso. Que vergonha.

Dei alguns passos, ela faria algo?
Provavelmente não.

Eu  já era mais velho, e ela não é boba. Culpava-me por ter mentido para Taehyung, ele não merecia isso. Sinto falta de seu rosto, ou pelo menos do seu perfume gostoso.

Bateu na porta; retorcendo os lábios em nervosismo.

- Oi pai... - Sorri, sendo abraçado pelo mais velho. Senti o cheiro típico do café, o rádio tocando baixinho, num pagode gostoso. Vi as rugas no rosto do meu pai, o sorriso de orelha a orelha, com a gengivas rosadas brilhando.

- Faz tempo que não te vejo, filho.

- Desculpe, a faculdade toma meu tempo.

- Vem cá, a sua madrasta quer te ver.

Respirei fundo três vezes, o sentimento de pavor tomando conta de minha mente. Enxerguei o longo cabelo negro caindo pelas costas, a mulher alta virou, sorrindo ao me ver.

- Yoongi!

- Oi! - Sorri falso, as pernas querendo correr para fora da casa.

Vi também o escritório da mulher, onde a mesma sempre me colocava sentado na mesa, e tocava meu corpo. Vi o mesmo baralho em cima do armário.

"Yoongi, vamos brincar."

E bem, sempre tive azar em jogos.
Sentei na cadeira afastada da cozinha, vendo a mulher preparar café. Meu pai foi buscar bolo na geladeira; levei o polegar até a boca, deslizando de modo desleixado, quase preocupado.

"Yoongi, não pode contar para ninguém."

Mordi o polegar.

Lembrei das unhas azuis tocando meu braço. Tocando meu rosto, acariciando de modo tão doce quase igual o de minha mãe. Não, na verdade, sua mãe nunca faria o que a mulher tinha feito.

Estúpido Yoongi. Estúpido. Estúpido.
Minha mãe foi uma mulher carinhosa, cujo tinha a tradição de cantar baixinho para mim a música da Bela e a Fera.

"Sentimentos são como uma canção, para a Bela e a Fera."

Não contive um sorriso. Os cabelos curtos de minha mãe se esparramam pelo travesseiro, enquanto meu corpo de criança aconchegar em busca de carinho e calor.

Ergui meu rosto, vendo o rosto da mulher que me fez mal. Seus olhos mórbidos me encarava, e não consegui identificar se foi um olhar de pena, arrependimento ou qualquer outra emoção. Minhas pernas travaram, enquanto minha mente gritava "Pânico! Pânico!"

Meu corpo se moveu, levantando da cadeira. Saí em busca de alguma privacidade, meus dedos digitando o contato de Taehyung.

Yoongi: tae me ajuda
Por favor
Eu preciso falar com você essa noite


Q

uando saí da casa de meu pai, fui em rumo ao consultório de Taehyung, onde o mesmo me garantiu que estaria lá à minha espera, pronto para me ouvir. Apertei o botão de chamada, balançando minha perna num tique ansioso.

myself; kth + mygWhere stories live. Discover now