Agora eu que pareço o psicólogo!

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Dessa vez, não teve aquele gosto de ansiedade ao subir aquelas escadas. Yoongi havia fechado seus olhos, tamanha vergonha, por isso, correu em direção à sala enquanto a cena de Taehyung em sua frente o vendo chorar ainda se repetia num loop tortuoso.

O psicólogo abriu a porta, segurando um prato cor laranja. Sentiu o cheiro de bolo invadir suas narinas.

Trajava dessa vez uma roupa mais formal. Camisa branca, que destacava seu peitoral e ombro — Yoongi percebeu o quão grandes eram. Usava um brinco bonito, perguntaria mais tarde onde havia o comprado e, por fim, uma calça comum.

Por um momento pensou em perguntar onde o Kim iria tão arrumado, entretanto, mal conseguiu.

— Ainda envergonhado por causa daquele dia? — questionou, colocando o prato com bolo na mesinha.

— Um pouco — respondeu, embolado — Não estou acostumado a pessoas me vendo chorar daquele jeito...

— Está tudo bem chorar, Yoongi — garantiu. O Min fechou os olhos assentindo.

— Eu sei, mas mesmo assim...

— Você… Quer me contar o motivo de ter chorado?

— Eu já contei!

— O verdadeiro motivo — arriscou, pisando numa área que sabia o quão perigosa era. Estavam em sua terceira consulta e já estava arriscando tudo.

Sabia o quão difícil era conseguir o mínimo de confiança e qualquer palavra em errado poderia afetar tudo. Era esse o peso de ser psicólogo. A mente humana é algo incrível e complexa, numa gangorra de sentimentos. Um lado está a consciência e do outro lado a impulsividade.

Enquanto a consciência verifica, pensa duas vezes e analisa, temendo tudo que está por vir; a impulsividade apenas se joga, sem medo. A sensação turbulenta que sentimos ao contar um segredo profundo.
Não era como contar para sua avó que havia odiado o presente que ganhou dela, era algo mais profundo. Era assim que Yoongi era movido: numa gangorra de sentimentos.

Taehyung tinha medo. Estava próximo do seu paciente, havia o ajudado quando estava no parque, aconselhado-o bem e, por alto ego, havia feito uma ótima analogia. Porém, nada iria adiantar se tudo fosse por água abaixo.

A sensação de ter a voz de alguém repetindo na sua cabeça, martelando como uma punição por algo que não gostaria de lembrar era o efeito que uma ferida emocional carregava. Podia transformar o humor de uma pessoa em segundos. Yoongi respirou fundo, acariciando as costas de suas próprias mãos e começou:

— Foi na minha infância.

Taehyung tremeu de felicidade, estava indo tudo certo!

— Eu tive uma infância difícil, sabe? Não me dava bem com as outras crianças, acho que era muito inocente. Enquanto mal sabia dividir, as outras crianças me cobravam multiplicação e, caso errasse, era chamado de burro, sabe?

— Wow...

— Diziam que iriam me dar presentes, claro, se eu enfiasse pedras na boca. E eu fiz. Colocava cada pedra na boca, achando que seria aceito naquela brincadeira idiota. Nunca fui — fechou os olhos — Conheci um garoto dentro dessa roda de amizades. Foi com ele que tive minha primeira vez, entende?

— E como foi?

— Acho que... Legal. No fim, fui apenas um brinquedo pra ele, sabe? Provavelmente nem deve se lembrar de mim agora ou apenas se faz de sonso, como sempre.

— E seus pais? Eles diziam algo?

— Eles não sabiam. Céus, mal consigo imaginar a reação da minha mãe se soubesse que seu filho querido é um idiota que sofre bullying na mão de outras crianças.

myself; kth + mygWhere stories live. Discover now