Eu roxo você

408 71 13
                                    

Se Taehyung fechasse seus olhos, sentia que o universo inteiro estaria ao seu dispor. Como se todo ao seu redor, fosse a via láctea, sobrevoando perto de sua aura. Gostava de imaginar o universo em tons roxos, roxo brilhante para as estrelas mortas que mesmo assim ainda persistem em brilhar; ou roxo escuro para os buracos negros, por sempre sugar tudo que existe por perto, todos os brilhos.

Sabia que poderia estar errado, afinal, Taehyung se formou em psicologia, não astronomia. Era só um homem idiota que gostava de pensar no universo e em roxo.

Provavelmente, sua cor preferida era roxo. Dentre as existentes e misturadas cores, essa lhe dava uma satisfação pessoal, de forma inexplicável. Uma satisfação até em pronunciar o nome da cor. Roxo. Roxo. Ro-xo. Até em diversas línguas, ainda ficava bonita! Purple era um exemplo, olha, purple! Você está purple hoje.

E uma cor para carregar um nome tão bonito, tinha que ter um sentimento belo junto.

Você está roxo hoje.

Que dia roxo!

Eu roxo você.

As coisas mais bonitas carregavam roxo, por exemplo; hortência. Claro, não era um nome tão bonito ao ponto de colocar na sua filha, imagina o bullying que a coitada iria sofrer? Hortênsia.

Era algo só seu, como se colocar o mesmo nome em outra coisa, iria estragar toda a magia. Para Taehyung, a flor hortênsia era a mais bela de todas, mais bela que rosas e girassóis, mais bela que tulipas e margaridas.
Todas as manhãs, quando sentia a luz do sol acariciar seus cabelos castanhos, grandes demais - na verdade, sempre ouvia Hoseok reclamar dizendo que seu cabelo iria crescer, criar vida e viver como um guaxinim, e o Kim apenas ria, dizendo que o outro estava com inveja. — se fechasse os olhos, conseguia viajar mais um pouco, voltar para o sonho anterior e imaginar um final melhor nele.

Quando saiu da cama, sentia que iria ser um dia diferente, que iria dar tudo certo. Aquela sensação de alegria ao levantar-se, algo diferente, gostava da sensação que a diferença poderia causar.

Agora, pensava se deveria tomar um banho de banheira ou de chuveiro. Tinha o péssimo hábito de ser rápido, fazer as coisas rápido. Era como se nos seus melhores dias, funcionasse perfeitamente, mas naqueles dias de chuva, era um boneco travado. Falava rápido, pensava rápido, resolvia as coisas rápido demais.

Como não tinha trabalho naquele dia, resolveu ter seu próprio aftercare. Quando decidia se isolar de todos apenas para fazer as coisas que gostava. Tirou o short que usava para dormir e ligou a torneira, enchendo a banheira. No armário alto, junto de remédios e outros produtos de beleza, havia shampoo e condicionador. Os pegou, vendo que tinham cheiro de mel. Oh, odiava mel, mas era os únicos que tinham naquele banheiro. Pegou o celular, colocando em sua playlist de músicas favoritas, e colocando no aleatório.

Seesaw.

Não conhecia o cantor da música, apenas tinha gostado dela, seguiu as ondas do viral. Fechou os olhos, soltando um suspiro prazeroso ao sentir a água morna em seu corpo. A voz grossa do cantor acalmava seu cérebro, principalmente quando ele cantava, a voz de pouca experiência em vocal era agradável.
E aos poucos, conseguia se lembrar.
A grande casa branca, com vários enfeites antigos. Conseguia lembrar do barulho do tocador de vinil. Sua mãe amava coisas antigas, adorava colecionar, e tanto que só ouvia música em vinil. E enquanto a música soava, Taehyung sentia o cheiro de torta vindo da cozinha. Era a empregada.

Abriu seus olhos, ouvindo as músicas trocar; She’s in the rain.

A doce voz do cantor era alegria para seu ouvido, prendeu a respiração e afundou na banheira, sentindo a água morna lhe trazer de volta o passado.

myself; kth + mygWhere stories live. Discover now