Capítulo 5 - Sofia

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Os dias que se seguiram foram de completa adaptação. Pela manhã eu ia para a faculdade, depois das aulas ia para a casa dos Beaumont, almoçava com eles e depois acompanhava as crianças em suas atividades diárias.

Estava me dando muito bem com Estevan e Elena. Eles eram maravilhosos. Pensei que fosse demorar algum tempo para me aproximar de Estevan, já que ele é quase um adolescente e poderia existir uma certa resistência em relação a mim, mas não, estava completamente enganada, foi tão fácil me aproximar dele, quanto de Elena, que já me considerava sua melhor amiga.

Sempre os ajudava com os deveres do colégio por volta das quatro horas da tarde, quando eles chegavam de suas atividades complementares. Percebi que não teria problema em levar meus deveres da faculdade para fazer junto com eles, o que me ajudou a colocar todas as atividades em dia, de forma que nunca havia conseguido fazer antes. Quando nos sentávamos todos na sala de estudos, nos ajudávamos mutualmente.

Quanto ao senhor Beaumont, constatei que ele quase nunca estava em casa. Em uma semana cuidando de seus filhos, eu só o vi umas duas vezes. Ele estava sempre ausente e notei que até mesmo Estevan e Elena já haviam se acostumado com isso, já que pareciam não se importar com a ausência do pai.

Em uma conversa com Dona Ana, ela acabou mencionando quase sem querer que a esposa de Oliver o havia abandonado de uma hora para a outra, sem nenhum motivo aparente, o que lhe causou muito sofrimento no começo.

Segundo ela, por um bom tempo, ele abandonou o trabalho. Ela havia me contado que ele era advogado e que possuía uma grande agência no Rio e que quando superou toda a situação, passou a dedicar todo o seu tempo livre a sua agência e aos seus clientes.

Lógico, eu não o conhecia e as poucas palavras que havia trocado com ele foram no dia em que comecei a trabalhar em sua casa, mas de alguma forma, tinha pena dele. Oliver Beaumont era um homem jovem e muito, muito atraente. Não conseguia imaginar como alguém como ele conseguia passar o dia inteiro dentro de um escritório, lendo e relendo papéis, ao invés de sair à noite para conhecer novas pessoas ou até mesmo passar o dia em casa, descansando com seus filhos.

― Prometam que não vão contar para a Dona Ana que eu comprei sorvetes para vocês. –Estevan e Elena haviam acabado de encerrar suas atividades diárias e agora voltávamos para casa, no caminho, eles me imploraram para parar na sorveteria, não consegui dizer não, mas se na hora do jantar eles não estivessem com fome, a culpa seria toda minha.

― Relaxa Sofia, não diremos nada! –Estevan piscou para mim- Não é mesmo Elena? –Ele questionou a irmã, que estava ocupada demais com seu sorvete de casquinha.

Momentos depois, quando chegamos, me certifiquei de que todos estavam limpos e limpei o rosto de Elena com um lenço umedecido, eliminando qualquer vestígio de chocolate que tivesse passado por ali:

― Meu pai já deve ter chegado do trabalho. –Estevan observou, apontando para a BMW preta estacionada na garagem. Por algum motivo, ele me pareceu mais ansioso que o normal.

― O que foi, está tudo bem? –Perguntei, tocando seu ombro.

― É que em dois dias, eu vou participar de um campeonato importante, contra um time de São Paulo e eu pensei que só dessa vez... –Ele baixou a cabeça, como se fosse impossível o que desejava, acontecer.

― Você queria que seu pai estivesse lá, certo?

Ele olhou para mim.

― Na verdade, isso nem é tão importante assim...

― É importante para você! Além disso, o jogo vai ocorrer em um Domingo, talvez o seu pai não tenha nenhum compromisso e possa ir te ver.

― Você acha? –A possibilidade do pai ir vê-lo parecia renovar sua alma.

― Por que não pergunta a ele? Só assim vai saber.

― Você está certa. –Ele me olhou agradecido.

Entramos juntos em casa e exceto por Dona Ana que tirava o pó da estante na sala, não parecia haver mais ninguém na casa:

― Dona Ana, o meu pai está em casa? –Estevan perguntou a ela.

― Sim, ele está no escritório dele.

Estevan me olhou impaciente, por incrível que pareça, fazer um convite daquele ao pai, parecia ser a coisa mais difícil que ele teria que fazer na vida:

― Vai lá. –Sussurrei o encorajando.

Fiquei observando quando ele caminhou até o fim do corredor e bateu na porta do escritório, a abrindo logo em seguida. De longe, pude ver Oliver sentado a sua mesa, teclando em seu computador, segundos depois, a porta se fechou e demorou um momento até que Estevan retornasse à sala:

― E então? –Perguntei curiosa.

― Ele disse que vai. Ele vai me ver jogar Sofia! –Ele parecia estar tão feliz que minha única reação foi abraçá-lo.

A Babá dos meus FilhosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz