Em um cemitério

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Eram três horas e quarenta e cinco quando Annabelle acordou com um grito alto. Assustada, a castanha puxou o revólver que estava no travesseiro ao lado por reflexo e apontou para frente, aproveitando a luz do abajur para ver que não havia nada naquela direção. Com sua respiração entre cortada, virou o rosto e percebeu que Bucky estava sentado no chão, com a mão direita cobrindo seu rosto enquanto usava a esquerda, de metal, para apoiar seu corpo.

― O que aconteceu? ― Perguntou, abaixando um pouco a mão enquanto olhava para o rapaz.

― Só... Só um pesadelo. ― Bucky respondeu, tirando a mão do rosto para olhar a moça, percebendo o que havia na mão dela. ― Te assustei?

― Um pouco. ― Annabelle revelou, aproveitando para finalmente abaixar a arma, apoiando-a em sua perna esquerda. ― Da última vez que me acordaram, a pessoa caiu morta na minha frente cinco segundos depois.

Bucky balançou a cabeça, entendendo que ela tinha seus motivos para acordar daquela forma. Uma pessoa qualquer provavelmente pularia de susto ao ver a facilidade com que ela pegou a arma, mas não ele. Quando conseguiu seu apartamento, fazia o mesmo que ela, porém acabou parando ao se dar conta de que qualquer dia acabaria atirando na parede.

Passou sua mão esquerda pelo rosto, sentindo o vibranium gélido contra sua pele que agora parecia em brasas. Aos poucos, sentiu seu coração desacelerar, percebendo que nada daquilo era real. Não mais.

Quando se virou para Annabelle mais uma vez, viu que a moça continuava quase que na mesma posição de segundos antes, mas dessa vez apoiava seu corpo em seu braço esquerdo, o observando em silêncio até aquele momento.

― Eles nunca te deixam em paz, não é? ― Perguntou.

Imaginando do que se tratava, a única coisa que Bucky pensou em fazer foi balançar negativamente a cabeça. Seus pesadelos o acompanhavam constantemente, exceto quando estava ocupado com alguma coisa que conseguisse mantê-lo acordado durante toda a madrugada.

― Nem por um momento sequer... ― Bucky murmurou.

Annabelle concordou com a cabeça. Por fim, sem pensar muito no que estava fazendo, se sentou com as pernas para fora da cama durante segundos antes de se levantar apenas para ficar ao lado de Bucky, que foi praticamente obrigado a se ajeitar para que ela coubesse ali, tendo a ligeira impressão que a moça simplesmente sentaria em cima de suas canelas se não lhe desse espaço. Ficou ao lado dela com uma distância grande o suficiente para não se sentir desconfortável.

― Sabe... ― Annabelle começou, apoiando o rosto em seu braço esquerdo, que era sustentado por seu joelho. ― Isso tudo é uma merda...

― Me conta uma novidade.

O tom de ironia era palpável no ar, e Annabelle reagiu com um olhar feio. Não sabia bem como falar aquilo, pois tinha uma ideia de como ele era reagir com a proposta, além de ser péssima em falar sobre sentimentos ou qualquer outra coisa do tipo. Nunca em sua vida foi acostumada a falar sobre o que incomodava, havia aprendido a esconder tudo para si, e isso vinha desde antes da Hydra. Talvez por isso soubesse que era uma péssima ideia ele fazer o mesmo.

― Mas ― Continuou ― Você não está sozinho nessa...

Bucky virou seu rosto em direção a ela, que o encarava com seriedade. Annabelle parecia estar falando a verdade, mas ele não tinha como ter certeza, ainda tinha certo receio da moça não era confiável. Para completar, quase ninguém sabia muito sobre seu passado, apenas Steve e Shuri, esta última só sabendo por ser a responsável por seu tratamento.

― É difícil acreditar quando se mal conhece a pessoa que fala.

Annabelle respirou fundo. Sabia bem disso, e estava disposta a ganhar a confiança dele, pois isso aumentaria as chances de sobreviverem, imaginando que isso não traria apego algum entre eles.

Déjà Vu • Bucky BarnesWhere stories live. Discover now