Epílogo

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1 SEMANA E MEIA DEPOIS

Catalina já havia saído do hospital há três dias, mas para fugir daquele momento em que se encontrava, a ideia de levar outro tiro não lhe parecia tão ruim. Porém, o nervosismo dentro de si era tanto que logo seu peito começou a doer, relembrando-a do que sentia nos primeiros dias acordada, e acabou mudando de ideia.

Não um tiro, mas talvez deveria ter quebrado a perna de algum modo. Uma perna e uma mão, porque provavelmente não teria como se mover em uma cadeira de rodas dessa forma, sozinha.

Mas então, se lembrou que, pela primeira vez, não estava sozinha. Na verdade, provavelmente tinha três opções diferentes para levá-la até ali, o que a fez desistir totalmente.

Já estava sentada naquela cadeira, de qualquer forma. Aquela maldita cadeira que, provavelmente nem se fosse feita com o material mais confortável do mundo, a deixaria relaxada.

― Então, Catalina Amalla, certo?

Olhou para o terapeuta a sua frente, e então se obrigou a respirar fundo. Não teria mesmo jeito.

― Certo... ― Respondeu.

Havia conseguido uma sentença pra lá de generosa por tudo que havia feito, já que haviam entendido que não tivera realmente uma opção. Mas, considerando tudo pelo que havia passado, além do serviço comunitário, também foi obrigada a fazer terapia.

Tentou trocar a parte da terapia por mais serviço comunitário, porém mal lhe deram ouvidos. Bucky disse que ela deveria ir e se abrir, embora tenha descoberto mais tarde que ele próprio só falava com a própria terapeuta quando ameaçado.

― Eu sou o terapeuta designado para você, Mark Dunn.

Sua voz era tão calma que ela realmente chegou a considerar que ele tivesse erva na gaveta, porém parecia sóbrio demais para isso. Ele era alto, isso era perceptível mesmo com o homem sentado, e parecia estar entre o fim dos trinta e começo dos quarenta. Ruivo, de olhos claros e com sotaque britânico.

Em outras ocasiões, teria se atraído por ele. Não que Dunn fosse feio, com certeza não era o caso, mas... Ele não tinha aquele ar irritadiço, nem aqueles olhos azuis extremamente atrativos, e nem um jeito preocupado bem escondido...

― Prazer... ― Respondeu, percebendo que seus devaneios em relação a Bucky eram inapropriados. Ao encará-lo com mais atenção, porém, sentiu algo que não havia reparado antes. ― Te conheço?

― Não, não que eu me lembre... ― Ele respondeu, um tanto quanto confuso. ― Por que, acha que nos conhecemos antes?

― Te achei familiar, mas não sei porque... ― Explicou, por fim, e ele assentiu com a cabeça, a encarando por cima dos óculos que usava.

― Entendo, isso é estranhamente comum... ― Mark falou em um rápido desabafo. ― Sabe como a terapia funciona, Catalina?

― Eu falo dos meus problemas, você finge que me entende enquanto anota no bloquinho que eu sou completamente problemática e que provavelmente não há salvação? ― Perguntou em tom retórico.

Pensou que Mark iria revirar os olhos, ou demonstrar qualquer sinal de que não havia gostado da brincadeira, mas ele riu.

― Você fala sobre o que quiser, eu tento entender e te ajudar a melhorar. ― Corrigiu. ― Não trabalho com anotações, as pessoas costumam se assustar logo na primeira consulta com elas.

Catalina se perguntou se essa foi a solução para que ele não fechasse as portas, mas considerando que aquilo não era uma clínica própria...

― Melhorar do que? Não me considero doente... ― Rebateu, por fim.

Déjà Vu • Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora