Déjà Vu • Bucky Barnes

Ele não conhece Marvin Gaye...

De forma não tão legal como gostariam, Sam e Bucky conseguiram outro carro para ir até o endereço marcado com facilidade, pois os três suspeitavam que o antigo veículo poderia ser fácil de ser reconhecido, até porque não era o mais discreto do mercado. Annabelle não sentia tanto peso na consciência, crendo que daquela vez os fins justificavam perfeitamente os meios, mas preferiu não dizer isso em voz alta, imaginando que seria criticada pelos rapazes.

Bucky ocupou o banco do motorista sem sequer perguntar se um dos dois se dispunha a dirigir. Annabelle pegou o lugar do passageiro, sentando ao lado do Barnes enquanto Sam ia no banco de trás com seu notebook em mãos, tendo um maior espaço para aquilo que carregava, aproveitando para verificar se o alvo não se movia enquanto se dirigiam à localização atual. De forma distraída, Annabelle acabou ligando o rádio, preferindo a música do que o possível silêncio desconfortável proporcionado pela falta de intimidade entre os três, ou melhor, entre ela e os dois rapazes.

Era difícil tocar os clássicos em rádios, mas seja lá por qual motivo, estava tocando Trouble Man. Annabelle deixou, abaixando a mão esquerda. Gostava bastante de Marvin Gaye, por mais que não escutasse tanto aquele tipo, preferindo músicas atuais ou de sua adolescência antes de tudo desabar. Mas ultimamente não estava com tempo para escutar nada, na verdade.

― Olha só, ela tem bom gosto. ― Sam falou em um tom surpreendentemente descontraído.

Annabelle sorriu e balançou a cabeça para o lado, dando de ombros em seguida. Acreditava que tinha, mas quem ouviria algum tipo de música achando que não tinha bom gosto? Mesmo assim, gostou do elogio, vendo que tinha algo em comum com seu colega de missão. Tudo se tornava mais fácil quando não eram apenas desconhecidos que mal trocavam palavras entre si, apenas quando a situação exigia.

― Conhecem essa?

A moça se virou para Bucky, surpresa com o tom de voz do rapaz que mantinha os olhos fixos na rua, vendo a reação dela pelo canto de olho, sendo incapaz de enxergar Sam franzir o cenho. Mais perdido do que nunca, porém não foi isso que Annabelle percebeu.

― Mas é claro! ― Ela exclamou, dando uma risadinha logo em seguida. ― Não é porque você é uma relíquia que só você é capaz de reconhecer outras.

― Na verdade, eu não reconheci. ― Bucky retrucou, dando uma rápida olhada para a moça, estranhamente se sentindo um pouco mais relaxado para continuar a conversa. ― Não é por ser velho que eu reconheço qualquer coisa antiga.

Deu uma rápida olhada para Annabelle quando percebeu que ela não o respondeu. Sua mania de erguer as sobrancelhas estava de volta, e agora parecia mais forte do que nunca, dessa vez acompanhada dos olhos um pouco arregalados. Bucky bufou, sentindo-se constrangido mesmo sem saber o motivo dela agir daquela forma, porém antes que pudesse perguntar alguma coisa, Sam fez isso primeiro.

― Como assim você não conhece Marvin Gaye?!

Bucky respirou fundo, percebendo que havia entrado em um assunto que não deveria. Já havia visto o nome de Marvin Gaye no caderno que um dia pertenceu a Steve, também tentou conhecer coisas novas quando tinha tempo livre, o que se mostrou mais frequente do que imaginava até o dia em que Annabelle apareceu. Por acaso, o álbum escrito ali foi uma das poucas coisas que ainda não havia pego para conhecer, sempre deixando para depois.

― Eu já ouvi falar...

― Então aproveite para degustar essa obra prima. ― Annabelle respondeu, ainda balançando a cabeça em descrença. ― Meu Deus, ele não conhece Marvin Gaye...

Bucky deu uma rápida revirada nos olhos, tentando manter o foco no volante o máximo que conseguia. Mas também prestou atenção na música que tocava, trazendo uma paz que parecia irreal comparada a tudo que estavam vivendo nos últimos dias, ou melhor, tudo pelo que passou desde que recuperou a consciência, se misturando com a descontração que o momento em si também havia trazido. Mais irônica ainda a situação se tornava quando focava na letra, percebendo que era sobre uma pessoa que teve uma infância difícil, mas que estava tudo bem, mesmo pressentindo problemas.