"Uᴍᴀ Bᴇʟᴀ Aʙᴇʀʀᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ." - LawLight (Death Note)

Capítulo #3

Light sempre se considerou excepcional em bater papo.

Ele costumava fazer isso com frequência com seus colegas de classe, sempre que tentavam se socializar com ele, fazendo perguntas educadas, mas vazias, como:

"Como foi seu fim de semana?"

“O que você achou o exame?”

“Você gostaria de ir em um encontro comigo?”

E Light sempre teve uma resposta educada de volta:

“Bom.” (mentira)

“Bem desafiador.” (mentira)

“Não procuro namorada.” (isso era verdade)

No entanto, agora, caminhando ao lado de L, ele não podia deixar de sentir que aquelas interações empoladas e breves não eram muito úteis á longo prazo, porque, como se constatou, Light era um conversador muito ruim.

O silêncio entre os dois não era necessariamente desconfortável, o contentamento no rosto de L era alguma indicação.

Mas Light ainda se sentia compelido a falar com L, para conhecê-lo melhor. Afinal, foi idéia de Light acompanhar o outro garoto para casa quando as aulas terminassem.

Mas Light estava tendo dificuldade em pensar em algo inteligente para dizer.

Ele quase desejou que L começasse a falar sobre a merda do tempo, só para que a bola rolasse e Light tivesse algo para disparar. Infelizmente, não parecia que L seria o único a iniciar a conversa.

Então, Light deu um salto e simplesmente perguntou:
"O que você costuma fazer para se divertir?"

Os olhos de L se voltaram para Light. "Hm... Não tenho muitos hobbies que a maioria dos outros classificaria como divertidos, embora suponha que gosto de ler e desenhar. ”

Light já sabia que L gostava de desenhar, como ficou óbvio em seus esboços durante as aulas anteriores, e ele não ficou surpreso ao saber que L também gostava de ler.

O estranho garoto falava como se fosse uma enciclopédia ambulante, então não era difícil imaginar que ele lia muito.

Ainda assim, isso era algo que eles tinham em comum, e Light poderia trabalhar com isso.

"Que tipo de livro você gosta de ler?"
Ele perguntou sorrindo.

L considerou sua resposta inclinando a cabeça, chutando uma pedra.

Ele observou a pequena pedra derrapar pelas ranhuras na calçada à frente deles, o que deu a Light a oportunidade de olhar para L, que então disse:

“Costumo ler quase tudo, desde que me interesse, mas recentemente terminei de ler a saga Crepúsculo. ”

O som que saiu da própria boca de Light o pegou completamente desprevenido, apesar de ser quem o produziu. Ele não conseguia se lembrar da última vez em que realmente riu direto da barriga.

"Não brinca?!"

“Não brinco.” L respondeu.

Isso fez Light rir ainda mais. Por alguma razão, a imagem de L lendo de boa vontade cenas de amor entre adolescentes sobrenaturais foi a coisa mais engraçada que Light já tinha imaginado, tanto que ele se viu dobrado alegremente.

L não parecia entender o que era tão engraçado, mas ele estava sorrindo enquanto observava Light rir.

“Então.. ” Light respirou uma vez que ele se recompôs por tempo suficiente para formar uma frase adequada, “Eu tenho que perguntar. Time Edward ou Time Jacob? ”

Endireitar-se era praticamente inútil, porque o sorriso de L e a resposta simples de: “Time Jasper.” foram o suficiente para enviar Light a outro ataque de riso.

Depois disso, a conversa se tornou muito mais fácil do que Light esperava.

L era mais engraçado do que sugeria, mas não do jeito de quem estava tentando.

Light absolutamente desprezava quando alguém se esforçava demais para ser “engraçado”, ao ponto de achar isso completamente desagradável e mortalmente irritante. 

L era simplesmente divertido nas coisas que dizia e na maneira como as dizia, e não era algo intencional.

Light sentiu aquelas borboletas novamente.

Quando eles deixaram de lado a literatura e começaram a discutir o último filme que Light tinha visto, L parou em frente a uma casa cor de creme.

“Eu moro aqui”, L informou para Light, que examinou a casa com grande interesse.

Era linda, não havia como negar.

Com um estilo arquitetônico moderno e um grande jardim na frente, era certamente a casa mais bonita que Light já vira no distrito escolar.

No entanto, além do portão de aço que continha a casa singular, era relativamente normal. Nem um pouco o que Light esperava.

Talvez ver L casualmente se acomodando em uma limusine na tarde de sexta-feira fez com que Light fabricasse uma casa mais extravagante em sua mente, uma com belas fontes e jardins coloridos.

Algo excêntrico para combinar com a disposição excêntrica de L. Esta casa era elegante, mas simples, algo que Light achava que complementava L da mesma forma.

“Obrigado por caminhar comigo, Light-kun,” o garoto expressou com um sorriso caloroso, a ponta do polegar entre os lábios. "Devo dizer aos nossos colegas que você heroicamente frustrou um par de sequestradores lutando contra eles com uma mão?"

A ideia de pessoas na escola fofocando sobre estarem saindo juntos fez seu interior se contorcer de ansiedade, então Light balançou a cabeça apressadamente.

“Não, tudo bem, não precisamos contar a ninguém sobre isso”, ele disse.

Light soube instantaneamente que ele disse algo errado.

Houve um lampejo de algo que passou pelos olhos tipicamente vazios de L. Ele estava magoado ou com raiva?

Antes que Light pudesse abrir a boca para se desculpar, L murmurou lentamente:

“Ah, entendo. Já fomos vistos várias vezes juntos durante o horário escolar. Não queremos prejudicar ainda mais a sua reputação permitindo que todos saibam que Light-kun passa seu tempo livre com a aberração. ”

L falava com tanta convicção e compreensão, como se tudo isso fosse verdade, e a culpa borbulhou dentro de Light como ácido. Ele lutou para se corrigir, seu cérebro gritando consigo mesmo para consertar isso.

“O-o quê? Não! L, isso não é... eu não quis dizer... "

Mas L já estava de costas para ele, seus dedos pálidos alcançando um teclado e digitando o que Light presumiu ser o código para entrar na casa. Um pequeno bip veio do dispositivo de segurança na frente do portão, e as portas se abriram em saudação.

“Obrigado por caminhar comigo, Raito.” L ecoou suas palavras de antes, mas sua voz estava fria e abafada desta vez, e Raito não perdeu a maneira como oscilou em seu nome.

Atingiu Light direto no coração como um raio.

“L...” Ele pronunciou uma última vez enquanto observava o menino desaparecer em sua casa.

O portão com barras se fechou na cara de Light, e o leve clique da fechadura reativadora soou ensurdecedoramente em seus ouvidos.

Ele ficou ali enraizado no local por alguns segundos, ou talvez até minutos, olhando com horror para onde L estava antes, onde ele chamou a si mesmo de aberração, tudo porque Light era descuidado e estúpido e feriu os sentimentos de L.

Uma sensação de afundamento pesou fortemente dentro de Light, ancorando-o no pavimento, e sua garganta se apertou com a horrível compreensão que encheu sua cabeça tão rapidamente que ele ficou tonto.

Light sentiu que não era diferente dos valentões dos quais protegeu L quando se conheceram.