A morte clama

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—Por que não vão descansar?—sugere a loira limpando o rosto brilhoso pelo choro.

Torno minha boca uma linha fina e assinto. Me viro para o Blake e faço um sinal em direção à porta.

—Podemos conversar um pouco?—pergunto.

Preciso de respostas, mesmo que mínimas. O vejo aceitar o pedido, então seguimos para o lado de fora rapidamente.

Em silêncio, formulando a maneira correta de começar o questionamento, trilho caminho até o quarto. Não vou ao cômodo há um tempo. No momento em que retornamos, me contentei com meu horário de sono ao entardecer na sala da Chanceler ou qualquer outra com janelas que me permitissem ver o lado de fora. Não sou mais capaz de ficar em ambientes escuros, se tornou um trauma. Firme e pesado demais para simplesmente ser desfeito de um dia para o outro. Desde que mantenhamos as luzes acesas — e a porta talvez entreaberta —, acredito não ser problema.

—Realmente encontraram todos mortos?—começo com algo distinto.

—Centenas...—responde—Davam a impressão de que se sentiam seguros atrás das portas, pessoas reunidas em mesas e quartos, mas nem elas aguentaram.

—Me lembra do abrigo que exploramos...—encaro meus pés e empurro a porta quando chegamos.

O moreno se senta na cama com o fracasso da recente busca recaindo sobre si. Faz um gesto para que eu me sente também, porém me encosto na parede de metal ao lado da porta, onde uma leve corrente de vento me atinge e deixa o quarto sem outras aberturas mais fácil de lidar.

—Sobre o que quer falar?—pergunta, mas imagino que suspeite por sua postura enrijecida.

—Qual a relação que você tem com a morte de Lincoln?—meu estômago revira ao eu ouvir minhas próprias palavras. Não servi nem mesmo para planejar a conversa sem o atacá-lo diretamente.

O Blake cresce os olhos e tensiona a mandíbula com firmeza. E aí está a cara de dois dias atrás.

—Por favor, eu só preciso entender isso...—minha expressão aflita perde a força e minhas sobrancelhas caem—Uma explicação rápida já basta, Bellamy... Não foi você quem fez isso, não acredito que possa ter sido.

Cruzo os braços percorrendo sua feição ainda paralisada. Ele respira e vacila quando pisca, quase se desviando de mim.

—Sim, eu matei Lincoln... indiretamente.—confessa.

Franzo a testa sem saber se ouvi o que ouvi. Não é possível. Avanço alguns passos e paro na sua frente sem abrir a boca, esperando que prossiga.

—Quando você se foi, eu também me fui. Deixei de ser quem eu era.—muda a visão para a cômoda, prolongando uma pausa—Pike se revoltou contra os terrestres, me convenceu de que eram os culpados por sua "morte" e eu me rebelei junto a ele e outros, dando a força que precisava para liderar Arkadia e cumprir seus planos genocidas...

Sigo calada e imóvel. Batuco um dedo incessantemente no meu braço.

—...Todo esse ódio evoluiu... Kane, Lincoln e outros terrestres viraram prisioneiros, até que...—aperto os olhos com firmeza quando vejo os seus brilharem e sua voz tremer—Até que Lincoln foi executado.

—Quem o executou?—firmo a expressão pronta para qualquer resposta que formule.

—Pike.—diz voltando a me fitar—Olha, eu tentei impedi-lo. Tentei voltar atrás... Octavia me odeia e...—o corto.

—Bellamy, como pôde?—desengasgo o que se prendia em mim—Pike...? Aquele cara já era visivelmente louco há anos quando dava aulas aos prisioneiros juvenis.

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Where stories live. Discover now