Can't resist

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—Se ela não acordar...

Trancados na sala das caldeiras, não consigo impedir memórias ruins de ganharem forma uma segunda vez. Clarke está algemada em um dos canos à parede, evitando de esticar os grilhões a fim de não ferir mais os pulsos em tentativa de fuga. Gaia está de guarda ao lado de fora e eu e Bellamy parados frente a Griffin.

—...Eu fiz minha própria irmã entrar em coma por um plano nosso, tem noção de como me sinto?—ele continua, marcando sua incredulidade diante o próprio ato.

O jogo virou, drasticamente.

—Ela vai acordar. Disse que Murphy se recuperou e nem ao menos tinham um médico lá em cima.—direciono os olhos até ele. Meu peito pesa, mas estou certa de sua recuperação—É temporário.

—Jackson está com ela?—a loira continua as indagações suscintas.

—Não só ele. Ben, querendo ou não, também é um amigo de longa data.

Bellamy está perdido demais em pensamentos para seguir na conversa.

—Como Indra está?

—Se preparando para assumir como a Segunda de Octavia. Parece que tudo caminha bem.

Sinto que emprego a palavra errada. Bem estaria se já tivéssemos repartido o Vale; em paz. Agora, Bellamy ter de apagar a própria irmã após uma conversa que deveria ser repleta de remissão e sentimento, é duro de lidar. Nunca se perdoaria se o pior acontecesse a ela.

—Estará livre assim que o acordo com Diyoza for estabelecido.—o moreno diz logo quando nossas palavras cessam.

Três batidas à porta. O sinal.

Troco olhares com ele e finalmente saímos.

—Estão requisitando sua presença. Querem saber exatamente o que aconteceu quando Blodreina estava em sua companhia.

Gaia é ligeira e sorrateira, voltando a trancar a porta — onde sabe-se lá Deus arranjou a chave — e saindo de perto de nós o mais rápido que pode. Se querem saber exatamente o que aconteceu, aqui vai: Bellamy usou a sopa de algas do Monty para envenenar a parte da ração que compartilhou com a irmã, deixando-a inconsciente um minuto depois. A versão que ele deve contar? Precisa passar longe disso, da forma mais convincente possível.

Sigo seus passos, quando nota que também estou prestes a subir a rampa atrás de si, me para com a mão leve apoiada no ombro.

—Não pode mais andar comigo.—olha para os lados antes de se fixar em mim.

Seu toque é algo a se apreciar. Como eu queria não estar em uma turbulência...

—Agora que estamos quase pisando no Vale?—também sou discreta no tom—Só precisamos do acordo.

—Então esperemos por ele.—rebate—Vi o risco que correu, não posso deixar que aconteça novamente.—suas íris percorrem meu rosto como um enigma atraente.

—Pois bem, eu consigo me cuidar. Já quase não tem nada contra nós.—insisto, não me dando ao trabalho de recuar.

—Não seja tão inflexível.

Sua seriedade com uma pitada de "por favor" me pressiona para que consiga uma resposta positiva, mas tudo o que eu consigo é vê-lo. Ver além do seu físico. Me envolver na sua imensidão castanha e recordar frases que já foram ditas em segredo. Seis anos regridem como uma fita de aço flexível sendo retraída por uma mola em alta velocidade. Sei que pode ser o pior momento da face da Terra, é evidente, mas há quase uma semana tento soterrar toda uma avalanche em mim. E avalanches são fortes demais para conter. Se não liberar de uma vez, tenho medo de ficar presa na densa neve.

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Where stories live. Discover now