Vocês serão enviados à Terra

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E aqui estou eu.

Deitada na minha velha e dura cama encarando o teto metálico de forma solitária.

Horas de um completo silêncio crescem como um ciclo interminável no ambiente, mas nem sempre tudo é tão morto.

Divido a cela há um ano com Octavia Blake, uma delinquente de dezessete anos, assim como eu. Ela acaba por agitar as coisas por aqui, quebrando a monotonia diária com suas brincadeiras e pensamentos infelizes com suas aventuras de vida.

Poderiam fazer parte de um filme facilmente.

No começo, foi extremamente complicado de me adaptar com o ponto de ter que dividir o lugar em que eu vivo com outra pessoa. Principalmente com ela. Era para ser algo bom, realmente, mas eu me dava bem sozinha durante meu período de detenção e a Blake se demonstrava uma garota de poucos amigos desde o marcante segundo em que pôs os pés aqui, o que tornava tudo impossível. Trocávamos apenas palavras necessárias, sendo cada uma responsável por seu lado da cela - um cubículo descarado.

Aos poucos, conforme a necessidade por comunicação engolia as duas, tentei conhecê-la melhor e fomos capazes de nos aproximar. Como resultado, criamos um grande afeto uma pela outra e fui capaz de entender o porquê de seu comportamento fechado e desconfiado e cada palavra não premeditada.

Neste exato momento, ela também está deitada, porém, diferente de mim, dormindo.

-Poderiam me levar logo.-suspiro com notável desânimo, levando as mãos até meus cabelos e repuxando levemente alguns fios.

Os dias são todos iguais; temos aulas inúteis e passamos o restante das horas encarceradas. Quero dizer, quem precisa de aulas em conhecimentos terrestres se nunca sairemos do espaço? Com toda certeza uma forma deles nos colocarem em celas e não cairmos no esquecimento total.

Não é divertido estar há três anos presa, e isso digo com convicção. Logo completo dezoito anos e finalmente serei flutuada como uma de maior para o fim dessa tortura.

Fecho os olhos na tentativa de descansar um pouco, mas começo a escutar barulhos estranhos vindo do lado de fora no corredor, o que em instantes acaba se tornando um grande tumulto acompanhado de gritos, pessoas correndo e choro. Abro os olhos novamente e franzo o cenho confusa, com rapidez me coloco sentada na cama, permitindo meus pés entrarem em contato com o metal gelado do chão.

-O que diabos é isso?-murmuro retoricamente.

-Beatriz, o que está acontecendo?-pergunta Octavia, também sentando na cama com um sobressalto após interromper seu sono.

-É o que eu quero descobrir...-levo meu olhar até ela.

Me levanto da cama, fazendo sinal para a Blake continuar em seu lugar. Caminho em passos lentos e cautelosos até a porta para tentar observar a movimentação através dos pequenos buracos contidos nela - provavelmente criados por delinquentes anteriores a nós que viviam aqui-, mas sem que eu possa chegar perto, ela é aberta em meio à um estrondo.

Guardas da Arca entram apressadamente nos apontando suas armas, me deixando completamente imóvel no lugar com as mãos em rendição. Seguido deles entra o Co-Chanceler Kane, como se não pudesse piorar. Um dos guardas toma a frente, portando uma arma carregada de sedativos. Ele mira na direção de Octavia e, antes que eu possa fazer algo para impedir o disparo, ele puxa o gatilho, acertando a morena no braço e a apagando quase que instantaneamente diante uma expressão de terror.

-O que estão fazendo? Não temos idade o suficiente para sermos flutuadas!-exclamo fitando Kane.

É a única coisa que se passa na minha cabeça. Sermos flutuadas. Mesmo assim não faz sentido algum precisarem liberar espaço, a Arca possui estrutura suficiente para manter dez vezes mais prisioneiros.

As armas continuam apontadas diretamente para mim, me fazendo sentir como um animal encurralado sem rota de fuga. O Co-Chanceler me encara com um olhar enigmático. Ele retira uma arma de sua cintura, também de sedativos, e faz o mesmo que os outros homens.

-Não! Não faça isso Kane! Abaixe a ar...-me interrompo pelo seu disparo, levando uma das mãos até o pescoço já que fora a região atingida.

-Vocês todos serão enviados à Terra.-não sei se por efeito da droga agindo no meu organismo, ele começa a falar com um tom calmo e suave se aproximando de mim. O olho com raiva fervente começando a perder as forças, cambaleio para trás tentando me apoiar na cama, mas vou de encontro ao chão rapidamente por não suportar mais o peso de meu corpo-Terá uma chance de recomeçar, Beatriz.-seu tom com falsa melancolia é tudo o que posso ouvir antes de me perder completamente na escuridão do inconsciente.

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Revisado!

-Anna ♡

OUR DEMONS - ᴛʜᴇ 100 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora