capítulo 4

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o quarto que vou usar é totalmente diferente do quarto que estava acostumado a dormir em beauxbatons. só tenho uma única palavra para descrever ele: deprimente. sinto saudade das cores claras e suaves que sempre via na minha escola e na comunidade bruxa da França, na Inglaterra tudo é cinza, escuro e mais cinza ainda. bufo e jogo minha mala em cima da cama, se meu pai tivesse visto esse meu ataque de birra, acho que iria ralhar comigo sobre ter modos, tudo bem, na frente das pessoas tento ter os melhores modos possíveis, mas quando estou só, é que deixo tudo vir à tona.

— Lilian, você sabe que não precisa me acompanhar. — é Remus, sua voz soa abafada por causa da porta fechada. apuro meus ouvidos para escuta-lo melhor.

— eu sei, mas estou genuinamente curiosa sobre… bem, você sabe. — levo menos de dois segundos para descobrir o assunto da conversa desses dois, sou eu. sinto o desânimo me abater, sei que os dois vão bater na porta e eu como um bom e educado Dumbledore vou ter que abri-la. aperto a ponte do nariz e respiro fundo, socializar esgota minhas energias. 

determinado a encurtar o diálogo, abro a porta com um aceno da varinha. se não me sentisse tão mal humorado, teria rido da cara de Remus e de Lillian Evans. o rosto do loiro cora, Lilian sorri para mim, não sorrio de volta. 

— o que desejam? — pergunto da forma mais fria que consigo. os dois se entreolham, Evans me encara e franze as sombracelhas. 

— nem um oi? você é bem emburrado, não é? — não esboço reação, não me senti ofendido por isso. pelo canto do olho vejo que Remus me observa em uma espécie de choque mudo. 

cruzo os braços, arqueio às costas e a encaro, sentindo toda a minha educação escapando do meu corpo, respondo: 

— e você é uma bruxa bisbilhotareira que se acha no direito de opinar sobre coisas que não te dizem o respeito. não te dei permissão para opinar sobre mim, e peço que não volte a fazer isso. — e pensar que já considerei Evans uma amiga, mas isso foi quando eu era Severus, agora sou Seth e vou fazer de tudo para ela nem sequer chegar perto de um fio de cabelo meu. 

Lilian olha para Remus, como se pedisse ajuda. ele coloca a mão sob o ombro dela e então me olha, parece aterrorizado e ao mesmo encantado por mim. reprimo uma careta de raiva. àquela situação estava me esgotando. uma coisa era enfrentar os marotos, outra muito diferente era ter que lidar com Lilian. ela me irritava mais do que os três. 

— saiam daqui. saiam! — minha voz soa melodiosa, mas ao mesmo tempo, não há emoção nela. uma lição valiosa que aprendi com o meu pai foi que para ser intimidador, não é preciso gritar ou se fazer de machão. Lilian fica pálida e recua dois passos para trás, bate o braço no batente da porta e então diz para Remus: 

— melhor nós dois irmos. — vejo quando sua cabeleira ruiva desaparece, o alívio que sinto é instantâneo, apenas Remus permanece parado no meu quarto. arqueio minha sombracelha, tentando pensar nos motivos que o fizeram ficar ali. 

— eu sou seu vizinho de quarto, e o seu pai quer te ver. — diz. 

— ah, eu não sabia, pode falar para ele que eu vou descer em uns minutos?. — respondo, viro de costas, olho para a minha cama, especialmente para a minha mala. sob o ombro, olho para ele, e então continuo: 

— bem, será que você pode sair? por favor, preciso trocar de roupa — acrescento, ele assente, quando a porta se fecha, me sento no chão e cruzo as pernas. sinto que tudo ainda vai piorar mais do que já está. ótima previsão, gênio. então retiro meus sapatos. 

... 

Encontro meu pai em uma sala lotada de prateleiras com livros de capa dura, pergaminhos e outras coisas. ao fundo, uma lareira está acessa, com chamas roxas crepitando, um suave cheiro de chá paira por ali. 

ele está sentado em uma poltrona quando me vê, se coloca de pé e abre os braços. deixo que me abraçe, e me sinto mais feliz, inspiro o perfume da camisa que este usa e tento colocar os pensamentos em ordem. nesses momentos, me sinto um menininho nos braços de uma mãe. birrento e com vontade de ser mimado. 

— como você está? gostou do seu quarto? seu Tio Abe mandou notícias, ele vai vir aqui amanhã. —  meu coração se derrete ao saber disso, então deixo um sorriso escapar do meu rosto. faz tempo que não fico perto da minha família, meu pai se senta na poltrona e eu me sento no chão perto da lareira, encaro as chamas antes de responder: 

— estou bem, tive uma discussão. — conto para ele o que aconteceu com Lilian e Remus. ao fim do meu relato, seu rosto permanece impassível. 

— não posso dizer que você está errado por ter tratado ela mal, mas, por favor, tente ao menos aceitar a presença deles, não só dela. não precisa esquecer, meu filho. não desejo que esqueça. mas... seu nojo espontâneo por eles pode acabar denunciando seu segredo. — um livro flutua até onde meu pai está, e ele começa a folhea-lo. Lembro das palavras de Fleur, eles estão certos, não posso e não quero esquecer. mas isso não torna as coisas mais fáceis, diria que complicam ainda mais. 

— sei que sim. — olho para ele, e ele olha para mim. me sinto melhor estando perto dele, meu pai e eu não somos os mais sociáveis, mas nos entendemos à nossa maneira. 

é bom saber que tenho ele no fim das contas. 

... 

acordo com batidas na porta, não preciso sequer adivinhar quem é, sei que é o meu pai. quem mais bateria de forma tão insistente na minha porta? bufo, me sento e calço minhas pantufas. 

— já estou indo, Pai! — grito em francês, quando abro a porta, porém, não é o meu pai que está ali e sim Sirius Black, segurando uma xícara de chá. um sorriso desdenhoso surge no rosto dele, que me olha da cabeça aos pés e dos pés à cabeça. 

— é impressão minha ou você acabou de me chamar de pai? — me sinto empalidecer, ao mesmo tempo que minhas orelhas esquentam. alguma entidade deve me odiar, tipo, muito. 

— eu... eu achava que era o meu pai, não... ah, quer saber? o que você está fazendo aqui? — pergunto ríspido, Sirius não se afeta com o meu tom, e apenas ri. 

— não sei, Aluado me contou que você "botou" a Lilian no canto dela ontem e eu queria te ver. você é muito diferente do que as pessoas estavam esperando. — Reviro os olhos. 

— e como as pessoas achavam que eu era? 

— menos atraente. — ele suspira. e e eu me engasgo, sentindo o rosto esquentar com a vergonha. Sirius pisca para mim e então enrola uma mecha do meu cabelo nos dedos dele. a cor do meu cabelo parece uma chama viva sob o dedo branco, o olhar dele se perde nessa mecha. não entendo o que está acontecendo. o barulho de uma porta abrindo o faz dar um pulo para trás, respiro aliviado por ele ter largado meu cabelo. Remus está parado em frente à porta do quarto dele. 

— Aluado! meu amigo. James está lá embaixo, vamos? — Sirius toma um gole de sua xícara e então passa o braço livre sob o ombro de Remus e o arrasta para longe. 

— Preciso escrever para Fleur e para Dubois. — falo sozinho, então me viro e fecho a porta atrás de mim. desesperado, saio procurando tinta, pena e pergaminho. meus amigos vão saber o que fazer. 

Seth Dumbledore Where stories live. Discover now