capítulo 23: o tempo, parte 1

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uma mulher loura está sentada perto da janela da diretoria, seu olhar voltado à paisagem verde, ela tem uma aparência elegante e asseada. uma blusa verde escuro, o cabelo louro enfiado atrás das orelhas. seu olhar se volta para mim quando fecho a porta. os olhos dela são cinzas, vejo o exato momento em que eles se arregalam de choque quando fazem a conexão entre minha aparência e a do meu pai.  por falar nele, este não parece afetado pela presença dela ali, sua atenção está voltada a um livro de capa dura.

— Alvo, esse menino é o seu filho? — a voz dela soa cansada, é uma voz em desuso, percebo. meu pai ergue à cabeça e a fita, seus olhos azuis parecem duas chamas secretamente raivosas quando em um movimento contido, ele confirma a pergunta da mulher loura. porém, quando ele me olha, àquelas chamas desaparecem, seu olhar se torna suave, terno, e com um aceno da sua mão, ele me convida para sentar.

— você está bem, Seth? — meu pai pergunta, e percebo que ele está ignorando a mulher de propósito, à moda Dumbledore. quem é ela? quero perguntar, várias outras perguntas surgem na minha mente, mas sei quando é a hora de ficar quieto.

— estou bem, pai. — respondo em francês. eu o encaro, até esqueci o motivo que me levou ali.

olho de soslaio para a mulher loura, ela parece perfeitamente à vontade. é a cara da realeza, penso com certa graça. ela me lembra de alguém, mas quem? que coisa estranha.

— você viu o que o profeta públicou hoje? — ela pergunta quebrando o silêncio, apesar do cansaço em sua voz, noto também uma leve ironia. já não gosto dela, pessoas que usam tom de voz irônico na presença do meu pai definitivamente não são confiáveis, é um padrão facilmente reconhecido. 

— dez pessoas morreram ante-ontem, é claro, dez se não contarmos àquelas que não entraram nos registros oficiais. — estreito os olhos, e mordo minha língua, seja lá quem ela for, parece ser alguém influente. meu pai parece perceber que estou prestes a explodir, com um movimento rápido, ele me entrega um pequeno objeto da cor prata. meus dedos começam a trabalhar no automático, e em menos de um minuto consigo desmonta-lo.  Faw, que até então estava dormindo no poleiro, abre suas asas e voa até mim. a fênix pousa com gentileza no meu ombro direito, ela me bica de forma carinhosa. respiro fundo. 

— eu lembro de quando você era minha aluna, você costumava ser mais educada naquela época, acho que o poder subiu à cabeça, não é? mas não se esqueça, Astrid, com quem você está falando, não permito que me desrespeitem, mais ainda na presença do meu filho, você já falou tudo que tinha para falar, não vamos entrar numa briga da qual você sabe que vai perder, que já perdeu. — meu pai fala, e pelo canto do olho vejo que Astrid se encolhe levemente, seja por medo ou por ego ferido. ela se levanta, escuto seus passos atrás de mim. sorrio, cruzo os braços e inclino minha cabeça para baixo, isso faz com que os meus cabelos cubram metade do meu rosto. é uma verdade universalmente conhecida que os Dumbledore sempre conseguem tudo que querem quando se empenham de verdade, e o meu pai é o homem mais empenhado que conheço. 

quem é ela? — pergunto. 

meu pai se reclina para perto de sua cadeira, percebo quão tenso ele estava quando este solta um suspiro de alívio, estalando seus dedos, ele me responde:

— uma membra importante do Conselho, estava aqui para falar a respeito do que aconteceu com a sua casa. só que, ela não foi muito gentil, diga-se de passagem que ela foi mal educada, agindo como uma criança, me deixou com dor de cabeça, e confesso que também conseguiu a proeza de me irritar, ela tentou acusar a sua casa como culpada no incidente que houve, mas deixando isso à parte, tudo se resolveu tranquilamente, ela não irá voltar aqui tão cedo, assim espero. — quando termina de falar, meu pai solta um suspiro. são informações demais, mas entendo a razão pelo qual ela o irritou, estava atacando minha casa, a minha casa, meu pai é super protetor, e jamais deixa que qualquer perigo chege até mim, seja de forma indireta ou direta.

entendo... — solto um gemido de dor quando de repente o objeto nas minhas mãos esquenta queimando suas palmas. jogo-o no chão, eu havia esquecido como era sofrer queimaduras, quando era Severus, vivia me queimando em experiências com poções. mas por Merlim, desde quando eu fiquei tão sensível a dor?

— céus, eu não deveria ter dado a você esse objeto, que cabeça a minha, às vezes o peso da idade fala mais alto. — ele se levanta da cadeira, e vem até onde estou, e se agacha à minha frente. com o cuidado de um curandeiro, examina as queimaduras. tento controlar minha careta de dor. não quero que ele se sinta mal.

— não estão ruins como eu pensava que iriam estar, espere aqui, vou à ala hospitalar buscar uma pomada. — meu pai bate a porta ao sair com pressa. um minuto se passa, e várias conversas se iniciam, os quadros cochicham uns com os outros, vejo que eles me olham com desconfiança. ergo minhas sombracelhas, tentando entender o crime que cometi para receber tal tratamento.

pelo que vejo, você é a única que gosta de mim aqui, Faw. — suspiro, essa falação está me deixando louco.

a fênix abre suas lindas asas, e voa até seu poleiro. minha atenção se volta para o livro que meu pai estava lendo. bem, não faz mal dar uma olhada.

  o livro está escrito em chinês, o que me deixa surpreso. não sou fluente em chinês, pelo menos não na escrita, com algum esforço, consigo ler um parágrafo.

Cada ser vivo, cada viajante do tempo está sozinho na busca da verdade, dos seus princípios e sozinho na construção do seu paradigma.

acabo lendo parágrafos aleatórios, já que alguns eu não consigo entender os caracteres para formar frases.

Deve ter-se cuidado quando se utiliza o termo "predestinado". A predestinação pode ser interpretada de muitas maneiras, e pela minha experiência, prefiro definir predestinado como uma forma de tempo resolvida com um elevado grau de probabilidade.

Assim, quebrar uma predestinação, uma concomitância para uma resolução determinada, é dar origem insistentemente a uma visão diferente do objetivo a alcançar. Encorajar uma mudança de paradigma e abrir ou servir as disjunções necessárias para o novo propósito ou para a alteração do propósito a ser realizado.

por qual razão o meu pai estava lendo uma coisa dessas? eu conheço ele o suficiente para saber que este não dá ponto sem nó. sempre tem um motivo.

e dessa vez, uma espécie de pressentimento ruim toma conta de mim, seja lá o que ele está aprontando, não me parece coisa boa. mordo meu lábio inferior. e me sinto terrivelmente curioso.

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sim, é isso mesmo que vocês estão pensando, vai ter viagem no tempo nessa fanfique. eu sempre quis trazer esse tema para cá, justamente por ser uma viciada nesse assunto. aliás, logo irei postar a parte 2. byee, vocês são todos lindes. <3

significado de umas palavras que apareceram no capítulo de hoje:

concomitância: Existência simultânea (de duas ou mais coisas acessórias de outra principal).

disjunções: Separação. Supressão de conjunção copulativa, entre várias frases. Proposição disjuntiva.



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